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Zumbidos lucrativos nas lavouras de soja

No dia 3 de outubro é comemorado o Dia Nacional da Abelha. A
homenagem é justa para um inseto que desempenha um trabalho tão importante para
a alimentação humana. Não se trata da produção de mel (que também tem
importância nutricional e econômica), mas da capacidade de polinização, que
torna o inseto insubstituível na manutenção da vida no planeta.

Na fruticultura, a presença de caixas de abelhas nos pomares
não é novidade. A atuação dos polinizadores contribui diretamente para aumentar
a produção de frutos. Na soja, principal grão cultivado no Paraná, também é
possível observar os benefícios do inseto sobre a produtividade. Sobre esse
tema, a Embrapa Soja lançou, em 2017, o livro “Soja e Abelhas”, que detalha
como conciliar a produção da oleaginosa com o serviço destes polinizadores,
trazendo benefícios mútuos para as atividades.

Segundo o autor da publicação, o pesquisador Décio Gazzoni,
a contribuição das abelhas na produtividade das lavouras da oleaginosa pode
chegar até 35%. “Chegamos a uma média de 14% [de aumento na produtividade],
variando entre 10% e 18% com abelhas a 200 metros da borda das lavouras”,
detalha o pesquisador.

Essa relação explica porque em alguns países, como os
Estados Unidos, o “aluguel” de colmeias para polinização de lavouras gera mais
renda aos apicultores do que a própria produção de mel. Por aqui ainda não se
tem notícia de iniciativa semelhante em escala comercial. Mas para que essa
atividade pudesse prosperar no Brasil, seria necessário adotar alguns cuidados.
O principal trata da aplicação correta de agroquímicos nas lavouras.

“Inseticidas requerem mais atenção, em geral causam a mortalidade das abelhas. O impacto depende da dose e da classe do produto. Existem diversos estudos que mostram que, embora os fungicidas não causam impacto direto, eles interagem com algumas pragas e doenças e deprimem o sistema imunológico das abelhas, deixando-as mais suscetíveis a doenças e ácaros”, explica Gazzoni.

Agroquímicos

A ação indesejável destes produtos junto às abelhas já foi
constatada diversas vezes pelo instrutor Joel de Almeida Schmidt, dos cursos de
apicultura do SENAR-PR. “Já vi muita colmeia morta por deriva [de
agroquímico]”, declara. Com mais de 20 anos de atuação nesta área, Schmidt já
se deparou com bons e maus exemplos do convívio entre lavouras e abelhas, o que
permite ter a certeza de que é possível estabelecer um manejo de convivência
segura e benéfica entre agricultura e apicultura.

“Teve um caso, quando dei um curso do SENAR-PR em Rio Bonito
do Iguaçu [região Sudoeste], que marquei as [abelhas] rainhas e, três anos
depois quando voltei para ministrar outro curso, elas ainda estavam ali. Isso
porque o agricultor era muito criterioso, aplicava o agroquímico apenas na área
correta, geralmente à noite e não durante a florada”, relata o instrutor.

Esses são alguns cuidados básicos que devem ser adotados pelos agricultores que desejarem a ajuda das abelhas na sua produção. As aplicações devem ser feitas em horários que os insetos não visitem as flores da lavoura. “Na soja, por exemplo, as visitas ocorrem entre às 8 da manhã e 14 horas. Então, se o agricultor aplicar a partir das 15h reduz o impacto direto”, explica Gazzoni, da Embrapa.

Também é importante seguir as recomendações técnicas para a
aplicação, que envolvem manutenção e regulagem dos pulverizadores, limpeza dos
bicos, além da atenção as faixas de temperatura e velocidade do vento para
evitar a deriva do produto. “Todo ano tenho problema de mortandade de abelhas e
já notei que é bem na época que os vizinhos passam veneno”, observa o produtor
rural e apicultor Basílio Hretsuk Sobrinho, de Prudentópolis, na região
Centro-sul. Na sua propriedade, ele concilia a produção de grãos (soja, feijão
e milho) com a criação de abelhas da espécie Apis melífera e também nativas sem
ferrão, conhecidas como meliponídeos. “Tenho bastante abelha, como Jataí, Uruçú
e Borá. São mais de 20 qualidades. Tenho mais ou menos 200 caixas, algumas bem
perto da lavoura, uns cinco metros de distância”, revela o produtor.

Para que o manejo da atividade agrícola não afete suas
abelhas, Sobrinho segue as recomendações técnicas ao pé da letra. “Sempre estou
buscando informação junto ao IDR-Paraná e agrônomos. Também não passo durante a
florada”, explica. Nos talhões mais próximos das colmeias, Sobrinho nota uma
produtividade maior. “Temos dois lugares que plantamos feijão, um perto e outro
bem longe das abelhas. Mesmo a gente cuidando, a produtividade é bem menor do
que aquela onde tem abelhas”, avalia.

Este ano, o produtor começou a desbravar outro segmento
econômico, a venda do mel de meliponídeos, em especial de duas espécies nativas:
Mandassaia e Jataí. “A Mandassaia, eu comecei com quatro caixas e hoje tenho 15
para produção de mel e outras 80 caixas de enxames”, afirma Sobrinho. Como
estas espécies produzem um volume muito pequeno de mel, trata-se de um produto
extremamente valorizado. O quilo de mel de Mandassaia ou Jataí é comercializado
por R$ 100.

Comunicação

Uma das ferramentas mais importantes para o sucesso da
convivência entre as abelhas e a agricultura comercial é a comunicação entre
apicultores e agricultores. “Os dois lados têm que conversar e se entender.
Pode ser à moda antiga, como uma conversa, ou com ferramentas modernas de
comunicação. Recomendamos que os produtores troquem informações como a
localização das colmeias e as aplicações de pesticidas com, no mínimo, 48 horas
de antecedência, para que os apicultores possam tomar medidas, fechar as caixas
ou retirá-las”, orienta Gazzoni, da Embrapa.

Cadastro de colmeia junto à Adapar é obrigatório

Apesar da importância crescente da apicultura no Estado,
muitos apicultores não estão realizando o cadastro das colmeias junto à Agência
de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). A medida é obrigatória e faz parte
da campanha de atualização de rebanho da agência, para cadastrar todos os tipos
de produção animal nas propriedades rurais do Estado, como bois, búfalos,
cavalos, aves, suínos, ovelhas, cabras, jumentos, mulas, peixes e também
abelhas.

O cadastro é necessário para garantir a rastreabilidade dos
produtos, a identificação e mapeamento do número de produtores e colmeias do
Estado e a vigilância de doenças e pragas. De posse da localização das
colmeias, também é possível verificar que tipo de atividade agropecuária é
desenvolvida no seu entorno, para assim promover ações preventivas que
contribuam com a harmonia entre apicultura e agricultura.

A atualização do cadastro de rebanho pode ser feita
presencialmente (em uma das unidades da Adapar). Para mais informações, como a
localização da unidade mais próxima do seu município, consulte o site www.adapar.pr.gov.br.

SENAR-PR oferece três cursos na área de apicultura

A criação de abelhas pode ter finalidade comercial ou ser
feita apenas por lazer. Independente do objetivo, é preciso conhecer as
espécies, os diferentes métodos de manejo e as técnicas corretas para obter
mel, própolis e geleia real.

O curso “Apicultura básica”, com carga horária de 32 horas,
aborda, entre outros temas, equipamentos utilizados, processos de produção e
extração. Já no curso “Abelhas indígenas sem ferrão”, também de 32 horas, os
participantes são introduzidos no universo dos meliponídeos, que engloba
dezenas de espécies diferentes de abelhas nativas, cada uma com características
próprias.

Para aqueles que desejam se aprofundar no tema também está disponível o curso “Apicultura avançado – produção de rainhas e própolis”. Com 40 horas de duração, esta formação tem como público-alvo produtores que pretendem se especializar na atividade. Após fazer este curso o participante terá o conhecimento necessário para conduzir um apiário com alta capacidade produtiva. Esses e outros cursos do SENAR-PR estão disponíveis no site www.sistemafaep.org.br.

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Fonte: Sistema FAEP



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