O crescimento da produção e comercialização de vinhos nacionais foi destaque na última terça-feira (14/6) na abertura da Expovinis, evento que movimenta os negócios da cadeia produtiva e coloca o Brasil no mapa das principais feiras vinícolas do mundo. Devido à alta do dólar a bebida brasileira tem se destacado em um mercadodominado por produtos importados. De acordo com os dados da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), em janeiro de 2016 o Brasil comercializou mais de 730 mil litros de vinhos finos, 60 mil litros a mais que o mesmo período em 2015.
Até então, quase metade dos consumidores optavam pelo produto chileno. Ainda segundo a Uvibra, o Chile detém a liderança no consumo interno de vinho, com 47,7% do mercado, mais que o dobro da Argentina, que ocupa a segunda posição com 16,2%. Portugal, Itália, França, Espanha e Uruguai vêm em seguida.
O aumento da participação nacional, no entanto, não tem assustado os chilenos. Pablo Aguilera Fuentes, gerente de exportações da vinícola Pérez Cruz na América Latina, diz que os efeitos da alta do dólar já era eram esperados. Para minimizá-los, a empresa planejou uma grande campanha de marketing.
- Os brasileiros apreciam sabor e confiam no produto chileno – diz.
Criada em 2002, a Pérez Cruz exporta para o Brasil há dez anos.
- O mercado brasileiro é um dos nossos principais consumidores, ficando atrás somente de Inglaterra, Canadá e Chile – explica o gerente.
Com produção anual estimada em um milhão de garrafas, a expectativa é crescer entre 10 e 20% ainda em 2016.
Para Juliano Carraro, diretor comercial da vinícola Lidio Carraro, a desvalorização da moeda brasileira frente à estadunidense proporcionou aos consumidores locais a oportunidade de se aventurar por novas marcas.
- Nossas projeções iniciais eram de 35 a 40% de crescimento em relação ao ano passado, mas até o momento já tivemos um crescimento de 65%. Está superando as nossas expectativas – comemora.
Localizada em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, a empresa familiar só tem motivos para comemorar. Originária de Vêneto, no nordeste da Itália, a família sempre desenvolveu a vitinicultura, mas somente a partir de 1998 se uniram para criar a marca. O negócio que começou com apena dois vinhos hoje já possui mais de 27 rótulos diferentes distribuídos em sete linhas em seu catálogo. A vinícola exporta para 28 países e neste ano participará das Olimpíadas Rio 2016 como único vinho licenciado.
Para completar, o tinto da linha Agnus Tannat, da Lidio Carraro, foi ganhador do concurso Top Ten, na categoria melhor tinto brasileiro. A premiação ocorreu na Expovinis, que acontece entre os dias 14 e 16 de junho, no Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte, em São Paulo. Mais informações através do site.
Taxação
Se por um lado a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar trouxe benefícios, por outro a atual tributação de 10% sobre a bebida ameaça o setor. A medida, que está em vigor desde dezembro do ano passado, visa às chamadas “bebidas quentes”, como vinhos, espumantes, uísques, vodcas, cachaças, licores, sidras, aguardentes, gim, vermutes e outros destilados.
Antes, essas bebidas eram classificadas em uma tabela que variava de “A” a “Z”, de acordo com o volume e o preço. Posteriormente, eram aplicadas as alíquotas do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). Nesse regime, que vigorou até o fim de novembro, havia um teto de tributação, que variava de R$ 0,14 a R$ 17,38 para cada produto.
Com o atual modelo, é cobrada uma alíquota que depende do tipo da bebida e não há mais teto. Os vinhos nacionais, por exemplo, que tinham uma tributação limitada a R$ 0,73 por litro, passaram a pagar uma alíquota de 10%. Está agendada para a próxima quarta-feira (15/6) uma nova reunião na Câmara dos Deputados, em Brasília, para articular a redução do IPI para vinhos.
- Com esse aumento, em alguns casos os tributos passam de 60% do valor de uma garrafa – afirma Juliano Carraro. -O IPI é uma das muitas taxas que fazem parte da cadeia de produção do vinho. Se houvesse uma diminuição desta taxa, poderíamos ter um estímulo muito maior em nosso país, tanto em produção quanto consumo, e poderíamos estimular essa cultura nas pessoas – completa o diretor comercial da vinícola Lidio Carraro.
Fonte: Globo Rural