Taioba “made in Brazil”. É isso mesmo! A espécie tropical, com alta concentração de nutrientes, presente na culinária de algumas regiões brasileiras, principalmente da zona rural, vai ganhar, em breve, o mercado externo. Quem descobriu o valor comercial da taioba lá fora foi o engenheiro agrônomo Gustavo Almeida, produtor da hortaliça em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Ele conta que, em contato com produtores norte-americanos, chamou-lhe a atenção o fato de eles estarem cultivando taioba para os brasileiros que moram lá. Só que os EUA têm uma janela curta de produção por causa do inverno: apenas de julho a setembro. Foi então que o engenheiro agrônomo decidiu preencher esse vazio comercial, fornecendo o produto para os comerciantes americanos.
Gustavo Almeida começou o cultivo da taioba há quatro anos em um terreno de um hectare. Hoje já possui 15 mil plantas, quantidade que ele considera suficiente para iniciar a escala de exportação prevista para o próximo mês de setembro.
A princípio, a produção tem como destino as regiões da Pensilvânia, Nova Iorque e Nova Jérsei.
- Já tenho as pessoas certas que vão distribuir no varejo – garante Almeida, confiante no mercado consumidor brasileiro que existe nos EUA.
- Resolvi investir numa hortaliça rústica porque é um nicho grande de mercado e pouco explorado – revela o produtor de Pedro Leopoldo, à espera de um bom retorno financeiro.
Mercado crescente
A história de Gustavo Almeida é um exemplo de como o cultivo das verduras e legumes não convencionais cresce e ganha cada vez mais mercado. Além da taioba, estão na lista a azedinha, capuchinha, peixinho, ora-pro-nóbis, chuchu-de-vento, araruta, mangarito, vinagreira, cará-do-ar.
Ricas em vitaminas e fibras, são plantas que, em algum momento, tiveram influência na alimentação da população brasileira e, agora, começam a despertar o interesse de um número cada vez maior de pessoas. Em Minas são mais de 500 produtores que vendem essas hortaliças em feiras livres, para sacolões e restaurantes.
Pesquisa e tecnologia
A disseminação da cultura das hortaliças não convencionais faz parte de um programa de pesquisa e transferência de tecnologia daEmpresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater/MG), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Embrapa e Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Iniciado oficialmente, em 2010, o programa consiste na criação de bancos multiplicadores onde são formadas hortas experimentais para distribuição gratuita de mudas e sementes. No mesmo local, são oferecidas palestras sobre manejo e valor nutritivo das plantas, além de oficinas de culinária que ensinam a preparar pratos com as hortaliças.
Segundo o coordenador de Olericultura da Emater/MG, Georgiton Silveira, os bancos multiplicadores servem de referência nas regiões onde são implantados e a intenção é ampliar o número de unidades em todo o estado, sensibilizando associações de produtores e prefeituras.
- Queremos que a visibilidade dessas hortaliças, que ficaram tanto tempo na marginalidade, aumente ainda mais – ressalta o técnico daEmater/MG.
Saberes e sabores
- Nosso objetivo é o resgate não só da biodiversidade, mas também dos saberes e sabores de uma comunidade que estavam se perdendo. Ainda mostramos para as comunidades urbanas e rurais o valor que essas espécies têm na alimentação, ricas em nutrientes e de fácil cultivo – acrescenta a coordenadora do programa Estadual de Olericultura da Epamig, a pesquisadora Marinalva Pedrosa.
Hoje existem 27 bancos multiplicadores em Minas Gerais, um deles na fazenda experimental da Epamig em Prudente de Morais, na microrregião de Sete Lagoas. Lá são cultivadas 28 espécies, fruto de pesquisa e troca de informação com os moradores do local,onde muitos produtores estão organizados em associações e participam de hortas comunitárias.
Diferencial nas hortas
Dos 350 produtores de hortaliças da região de Sete Lagoas, 40% apostam na diversificação da horta com verduras e legumes pouco conhecidos. Maria da Piedade Correia, a dona Neném, é uma das produtoras de hortaliças orgânicas que gosta de ter “coisa diferente” na horta.
Por isso ela cultiva capuchinha, ora-pro-nobis, gondó, peixinho e azedinha… Nas feiras livres, a barraca da dona Neném é famosa por se “encontrar de tudo” e os fregueses já são conhecidos.
- Feira tem de ter novidade. Por isso gosto de ter verduras diferentes, diversificadas – afirma dona Neném.
Ela conta que a azedinha (folhosa de sabor levemente ácido) é um dos vegetais que tëm mais saída e que vende de 15 a 20 molhos por semana.
- Quem compra são pessoas que têm uma história com a planta – completa.
Dona Neném, que trabalha há 19 anos como produtora de hortaliças, também é uma multiplicadora quando compartilha mudas e sementes com os colegas da horta comunitária.
Fonte: Agência Minas