Os produtores rurais dos Estados Unidos estão esperando por um sinal do presidente Donald Trump para recompensar os votos que eles deram ao empresário.
Trump irá falar nesta segunda-feira (8) na conferência anual da Federação da Agricultura dos Estados Unidos (American Farm Bureau Federation) em Nashville. Ele é o primeiro presidente a comparecer ao evento em 26 anos e terá uma recepção calorosa, apesar de certas políticas da sua administração irem contra os interesses dos agricultores.
- Nada poderia ser melhor do que o presidente reconhecer a importância dos produtores para a economia rural – afirma Kalena Bruce, uma fazendeira de 32 anos de Cedar Country, no Missouri, onde Trump venceu Hillary Clinton com uma margem de cinco votos para um nas eleições presidenciais de 2016: – A América Rural continua a apoiar o presidente Trump. -
Na medida em que ele se aproxima de completar um ano no cargo, o presidente está lutando para cumprir suas promessas de campanha para sua base de votos, incluindo produtores rurais, na medida em que seus índices de aprovação ficam a baixos níveis históricos.
Opiniões controversas
Muitas de suas posições políticas vão contra as posições da Farm Bureau, a maior organização do agronegócio norte-americano. Algumas delas são: as ameaças da retirada do país de acordos de livre-comércio, as restrições de imigração que podem estrangular o fluxo de imigrantes para os níveis mais baixos – impactando o período da colheita da safra – e a ameaça de cortes nos populares seguros rurais.
Mesmo assim os laços de Trump com os eleitores do campo estão longes de serem quebrados, apesar das rusgas, afirma Johnathan Hladik, diretor político do Centro de Interesses Rurais, em Lyons, Nebraska. Neste sentido, o evento desta segunda-feira reúne agricultores e representantes de importantes setores do agronegócio, dando uma nova oportunidade de Trump.
- Muitos dos interesses dos produtores rurais foram negligenciados ou ignorados no primeiro ano da administração Trump – diz Hladik. – Esse é o lugar onde será possível obter [novamente] o apoio da maioria. -
A Federação da Agricultura tem larga escala, com 3.144 escritórios no país, em 2.795 municípios. Ela é reconhecida como o grupo mais influente do agronegócio em Washington, sendo que o setor está entre os dez maiores contribuidores de campanhas, logo atrás da energia e à frente da construção civil, dos transportes e da defesa, segundo o Centro de Políticas em Washington. A Federação gastou mais de US$ 3 milhões em atividades de lobby em 2017, perdendo apenas para a Monsanto, organização também ligada à agricultura.
A entidade é associada a políticas conservadoras e tem mais influencia em administrações do Partido Republicano. Os eleitores do setor, contudo, são mais flexíveis em estados como Dakota do Norte e Indiana, onde senadores do Partido Democrata como Heidi Heitkamp e Joe Donnelly estão disputando as reeleições de 2018. Mesmo assim, Trump venceu em ambos os estados por largas margens no ano passado.
Finanças rurais apertadas
Enquanto alguns setores da economia dos Estados Unidos estão se fortalecendo, as finanças do agronegócio estão mais apertadas desde o fim do boom das commodities em 2013. Os lucros de 2017 estão estimados em menos da metade dos níveis recordes de quatro anos atrás.
Os preços de alguns produtos agrícolas estão estáveis, mas baixos. Os mercados futuros para o milho, antes uma das culturas mais valorizadas, fecharam o ano 0,4% abaixo ao ano anterior. O boi gordo está melhor, com negócios futuros em Chicago até 4,7% maiores que o ano anterior, mas ainda assim abaixo dos preços do período de explosão de preços. Os membros do Congresso estão em busca de pagamentos mais generosos com uma nova lei de subsídios para as produções agrícolas neste ano.
A agricultura é um dos poucos setores da economia dos EUA com superávit comercial, e o Secretário da Agricultura Sonny Perdue dispõe de todos os benefícios do acordo do NAFTA com o Canadá e o México, mesmo com Trump ameaçando rasgar o acordo.
Contudo, a economia em marcha lenta e posições controversas, como na questão da imigração, a qual muitos fazendeiros veem como necessária para as colheitas, significa que o apoio a Trump não pode ser declarado como certo, na opinião do senador Richard Lugar, republicano de Indiana que já foi presidente do Comitê de Agricultura do Senado.
Visita providencial
Em um discurso realizado há cerca de seis meses no Iowa sobre investimentos na América Rural, Trump praticamente não falou sobre os agricultores, lembra Richard Lugar.
- Alguém provavelmente aconselhou o presidente a ir para o evento da Federação da Agricultura e mostrar algum interesse no setor – diz Lugar. – Mudanças nos impostos podem criar empregos, mas isso não se reflete na vida de muitos produtores rurais. -
Kalena Bruce, por exemplo, quer “garantias de que não vamos perder as nossas exportações”, e espera que a Federação influencie Trump nas questões de comércio durante o evento em Nashville. Apesar disso, ela e outros colegas que pretendem acompanhar o discurso têm algumas coisas para celebrar.
- Uma das promessas de campanha foi sobre políticas de produção reguladoras, e você pode ver que isso está acontecendo – afirma Scott VanderWal, produtor de milho e soja de Volga, na Dakota do Sul.
Ele cita movimentos da Casa Branca em questões de recursos hídricos e o apoio da base de produção de etanol de milho. Para o agricultor, Trump poderia ter feito mais se o Congresso estivesse alinhado com a administração.
- Todos estão frustrados com o Congresso – afirma VanderWal, o que inclui uma universidade estadual, deu a Trump 53% dos votos. – O presidente tentou uma série de coisas, mas os membros do Congresso não estão na mesma página. -
Josh Ogle, produtor de algodão, soja, milho e trigo de Lincoln County, Tennessee, afirma:
- Estou muito satisfeito com o primeiro ano do presidente. -
Seu estado deu a Trump 78% dos votos em 2016.
- O secretário Perdue e o diretor Scott Pruitt, na EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), estão buscando conhecer as preocupações da América Rural. Eles estão tomando uma abordagem de senso-comum para os problemas ao baixar impostos e relaxando as regulações para criar empregos – opina Ogle.
Esses movimentos são mais importantes para o presidente do que seus tweets controversos, do que as acusações de conluio com a Rússia ou outros conflitos da Casa Branca, segundo Olge. O produtor afirma buscar informações por cerca de 15 a 20 minutos por dia no Twitter e cita as emissoras Fox News e ABC como fontes de notícias:
- Você precisa filtrar aquilo que lê e as fontes nas quais pode confiar. -
Ele gostaria de ouvir mais detalhes sobre a nova lei tributária.
- Há muito desconhecimento sobre isso, e táticas de grupos de oposição pelo país que não veem nada do que o presidente Trump faz como algo positivo – diz Olge. – Eu tento conhecer os fatos. -
Fonte: Gazeta do Povo