Quem chega à pacata Guarantã, cidade com cerca de 7 mil habitantes no centro-oeste paulista, parece voltar no tempo. Nas suas poucas ruas, o pequeno movimento de carros e pessoas em nada remete à modernidade dos grandes centros. Mas, por trás dessa calmaria, há uma revolução em curso no modo de se criar bois, com fortes doses de alta tecnologia.
É a chamada pecuária de precisão que, com uso da inteligência artificial, reúne rapidamente inúmeras informações de clima, mercado e desempenho do rebanho, e as coloca na mão do produtor para que ele tome a decisão mais acertada da forma mais rápida possível.
O que chama a atenção em Guarantã é que essa mudança na forma de engordar os bois confinados é comandada por uma família que é quase centenária na atividade. À frente do projeto de confinamento de bois de outros pecuaristas, conhecido como “boitel”, ou hotel de bois, está o empresário José Roberto Ribas Filho, dono da Ribas Agropecuária.
Nos anos 1950, seu bisavô chegou a ter mais de 100 mil bovinos na região, todos soltos no pasto. Vinte anos depois, seu avô, dono de frigorífico, montou um dos primeiros confinamentos para suprir o fornecimento de animais em períodos de seca. Mas era um negócio pequeno, de 3 mil bovinos, guiado mais pela intuição.
“O gado comia restos da colheita e não havia maquinário, muito menos as ferramentas tecnológicas que temos hoje”, contou. Com a morte do avô, o confinamento e o frigorífico não prosperaram e a cana tomou o lugar do gado nos negócios da família.
Em 2011, Ribas, que empreendia em outros segmentos, decidiu resgatar a tradição familiar. Montou um confinamento, mas com uso de muita tecnologia, inicialmente para engorda do próprio rebanho. Cinco anos depois, optou por prestar serviço a terceiros. A mudança no foco ocorreu porque ele conseguiu resultados na engorda de bois que superavam a média do mercado.
“Com automação e todas as ferramentas tecnológicas, começamos a ter uma engorda eficiente acima de 1,8 quilo por animal ao dia, ante a média do mercado, de 1,5 quilo.”
Estudos mostram que o lucro por arroba do pecuarista que usa alta tecnologia e de forma correta é três vezes maior do que a média, segundo Bruno Andrade, gerente executivo da Associação Nacional da Pecuária Intensiva. Dos 30 milhões de bois abatidos por ano no País, 5 milhões são confinados e 50% desses ganham peso com uso de alta tecnologia, movimento que cresceu nos últimos três anos.
Fonte: Globo Rural