Nesta quinta-feira, 21 de outubro, o Brasil já poderá realizar importações de soja e milho sem a necessidade de pagar tarifas por isso. A decisão foi publicada na última quarta, no Diário Oficial da União pelo Comitê-Executivo De Gestão (Gecex) da Câmara De Comércio Exterior (Camex). Durante uma live do Canal Rural, o analista de mercado da Safras & Mercado e o comentarista do Canal Rural, Miguel Daoud, conversaram com o editor do Projeto Soja Brasil, Daniel Popov, sobre os impactos que a falta de soja e milho podem trazer ao país.
Inicialmente o debate abordou os impactos que a retirada das tarifas de importações podem trazer ao país. Segundo o analista da Safras & Mercado, a tendência é de poucas mudanças para a soja.
“Acho que essa medida trará impactos pontuais para a soja. O Brasil pode trazer algum volume dos Estados Unidos. Existe essa possibilidade e a conta fecha. Mas vai depender das oportunidades. Agora por exemplo, os prêmios norte-americanos pela soja estão subindo em plena colheita. Mas trazendo por Paranaguá (PR) os preços ficariam parecidos com os que vemos aqui e não mais baratos” – afirma Gutierrez.
Lembrando que a retirada das tarifas terá impacto nas compras fora do Mercosul, pois aqui já não há tarifas.
“Vale ressaltar que o Paraguai não tem muito mais soja para vender. A Argentina até tem, mas os produtores estão segurando a soja, pois os problemas cambiais do país fazem com que a soja valha dólares e o produtor não quer transformar isso em pesos. Por isso considero que há chance de trazermos alguns volumes fora do Mercosul, mas não diria muito não. Como a soja está sendo plantada com atraso e, consequentemente, teremos atraso na colheita, possivelmente o desabastecimento de soja terá seu auge em janeiro de 2021” – comenta o analista.
Importação de i milhão de toneladas de soja
Para se ter uma ideia, de janeiro e setembro deste ano o Brasil já importou 565 mil toneladas de soja, 189% a mais que as 145,5 mil toneladas de 2019. Uma curiosidade é que desde 2014 o país não comprava tanta soja neste período até setembro.
“Hoje prevemos que o Brasil feche o ano com 850 mil toneladas de soja importada, isso sem considerar essa mudança na tarifa. No meio do ano até prevíamos chegar a 1 milhão de toneladas, mas como as compras perderam ritmo, reajustados para baixo, o que fecha a conta para o Brasil e ainda sobre um pouco de estoque. Agora com a retirada das taxas, dá para estimar que o Brasil pode importar até 1 milhão de toneladas. Mais do que isso o Brasil não precise,, talvez, pois com isso o país já terá um estoque um pouco maior do que antes era previsto” – ressalta Gutierrez.
O analista ainda fez questão de reiterar que o auge da falta de soja no país será em janeiro de 2021, prazo previsto para encerrar o acorde que zera a tarifa de importação da soja.
“Como falei, o auge da falta de oferta será em janeiro de 2021 e ali o consumo interno pode surpreender, pois a safra nova ainda não estará entrando e o país talvez precise comprar mais soja para que a indústria brasileira honre os compromissos, mas aí já entra na conta de 2021 e não 2020” – destaca.
Indústrias em apuros e preços caros
Durante o debate, o comentarista do Canal Rural, Miguel Daoud lembrou um detalhe que pode trazer um alento para quem acredita que a queda das tarifas poderia baratear a soja.
“Dentro disso, dessa falta de soja, vale comentar que as indústrias têm um prazo para compra e recebimento do produto. Isso necessita de um planejamento. Pois com essa volatilidade cambial as indústrias não podem entrar desprotegidas e por isso precisam fazer um hedge, o que encarece um pouco mais essa importação. Ou seja, mesmo que tenha esse produto em algum lugar ele não vai chegar ao Brasil barato” – diz.
Preços da soja em 2021 acima de R$ 100
Com a chance de entrar o novo ano já com falta de soja para atender o mercado interno, o analista da Safras & Mercado acredita que os preços para o próximo ano não cairão tanto para o produtor.
“O câmbio seguirá sendo um fator dominante que explicará onde irão os preços em 2021, além é claro de possíveis problemas climáticos. Então acredito que posso falar tranquilamente que em 2021 não teremos soja abaixo dos R$ 100 por saca. Pelo menos nos primeiros meses do ano, isso deve acontecer” – relata Gutierrez.
O apresentador da live e editor do Projeto Soja Brasil, Daniel Popov, aproveitou o tema para trazer um questionamento pertinente.
“Levando em consideração o que aconteceu nesta safra, onde os produtores venderam a soja no começo do ano e depois viram os preços dobrarem em relação ao que receberam, há chance de os sojicultores segurarem as vendas após a colheita, esperando preços mais altos? Com isso, há chance de o Brasil ter que estender o prazo dessa tarifa zerada para importação?” – diz.
“Acho que há grande chance de isso acontecer. Até porque os produtores já venderam mais da metade da safra nova, um patamar recorde para o período. Então com tanto já negociado e um risco climático batendo a porta, é natural o produtor segurar um pouco as vendas até para não correr risco de não ter o que entregar. Ou seja, isso pode trazer impactos nas vendas durante a entrada da safra” – comenta Gutierrez.
Brasil pode taxar as exportações?
Antes de mais nada não há qualquer indício do governo de que o Brasil possa taxar as exportações de soja e outros produtos agrícolas. Entretanto, durante uma análise fortuita, o comentarista do Canal Rural Miguel Daoud levantou a chance de isso acontecer, diante do cenário que se desenha no país.
“Não creio que essa retirada de taxas das importações vai funcionar. Mas há chance de a pressão sobre os preços dos alimentos continuar e tudo subir. Será que se o governo se sentir acuado, sem recursos e ver a inflação subindo, eles não irão taxar as exportações? Retirar a lei Kandir. Se isso acontecer será um tremendo tiro no pé. Não estou dizendo que isso vai acontecer, mas sim, uma coisa para o produtor pensar, refletir se as decisões tomadas na comercialização são as mais acertadas” – conta.
Por fim o analista de mercado da Safras não descartou a possibilidade.
“Não acho que a chance de taxar as exportações é pequena. Temos uma crise fiscal no Brasil e taxar as vendas ao exterior é colocar recursos para dentro da União. Faria sentido eles tomarem essa medida absurda” – diz.
Fonte: Canal Rural