Considerado apenas uma promessa ou um nicho de mercado até poucos anos atrás, o bem-estar animal virou regra, principalmente na cadeia de suínos. Dos produtores aos técnicos, das granjas às agroindústrias, passando pelos transportadores, todos os elos estão investindo em melhorias de trato.
A tarefa não é fácil, conta o gestor do núcleo temático de produção de suínos da Embrapa Suínos e Aves, Osmar Dalla Costa. Segundo o pesquisador, na Embrapa Suínos e Aves, localizada em Concórdia, no Oeste de Santa Catarina, existem duas linhas de pesquisa voltadas para o tema.
Em uma delas, desenvolvida há oito anos, o tema é o manejo de pré-abate dos suínos, ou seja, os eventos que ocorrem nas 24 horas que antecedem o abate. Pode parecer pouco, mas a maneira que os animais são tratados nesta fase pode influenciar, inclusive, na qualidade da carne.
- Quando começamos esse trabalho, ninguém sabia ou dava muito importância para essa fase pré-abate. As empresas focavam mais na produção e não naquilo que estavam deixando de ganhar – diz Dalla Costa.
Entre as mudanças sugeridas e que foram incorporadas aos poucos pelo setor está a limpeza das baias antes do embarque dos animais.
- Um procedimento simples que garante higiene não só para o animal, mas para o funcionário também. -
Bem-estar suíno e transporte para abate
O modelo de embarcador também é foco.
- Antes, quando as granjas eram construídas, a última coisa na qual o produtor pensava era no embarcador. E deveria ser a primeira. É de lá que era tira a produção. Hoje nós sugerimos modelos de embarcadores com rampas que não superem 21 graus de inclinação, com piso antiderrapante, cobertura, iluminação, paredes sólidas e altas, para que o animal não possa ver o que está acontecendo lá fora – afirma.
O transporte dos animais também foi objeto de estudo.
- As carrocerias mudaram. Antigamente eram três andares com baias de 80 centímetros. Hoje são plataformas móveis e hidráulicas que reduzem o ângulo de inclinação e facilita o acesso dos funcionários – destaca.
Dalla Costa conta que todos os estudos de bem-estar de suínos da Embrapa são feitos em parceria com o setor produtivo:
- É lá que podemos testar, adaptar, ver o que dá certo ou não. -
Ele revela que, no início, as agroindústrias tinham receio que os custos com bem-estar poderiam inviabilizar a produção nacional:
- Achavam que eu tinha endoidado. Hoje as empresas têm setores de bem-estar. É uma forma de agregar valor. Um animal cansado ou fraturado gera perda para a cadeia. O bem-estar também é uma barreira não tarifária. No futuro, os países importadores vão querer produtos com esse selo, com essa qualidade – defende.
Gestação de suínos
Outra linha de pesquisa da Embrapa, desenvolvida há cinco anos, é sobre o sistema de alojamento de matrizes na gestação. Atualmente, boa parte das granjas brasileiras adota o modelo de produção de leitões em celas individuais. As mães passam cerca de 80% da vida num espaço de 80 centímetros de largura, por 2,2 metros de comprimento e 1 metro de altura, em média.
Com a parceria do setor privado, a Embrapa lidera um estudo para o desenvolvimento de baias coletivas, onde as matrizes são criadas soltas.
- Agora estamos estudando baias coletivas na maternidade. Como temos que ajustar as baias para garantir um bom índice de produtividade – explica.
Um dos exemplos citados pelo pesquisador foi a Unidade Produtora de Leitões da Frísia, em Carambeí (PR), visitada pela Expedição Suinocultura.
- Dentro dessas pesquisas vão aparecendo outras linhas de trabalho que demandam outros conjuntos de ações, como o desgaste dos dentes, a castração, o corte da calda, redução de antibiótico – revela.
Para Dalla Costa, o produtor ou a agroindústria que não se adaptar e não adotar práticas de bem-estar vai dar ‘um tiro no pé’.
- Ele pode até pensar que é um custo adicional. Sim, claro que é preciso gastar. Mas é um investimento. Ele vai reduzir perdas qualitativas e quantitativas, além de ganhar com a produção ética, aquela que respeita o meio ambiente, os animais e as pessoas. -
Fonte: Gazeta do Povo