Uma semana depois do solavanco nas bolsas de valores provocado pela China, as cotações globais das commodities agrícolas –que influenciam diretamente a economia brasileira e se pautam na demanda chinesa – recuperaram perdas com folga. O ano começou com baixa 1% na soja e de 2% no milho no primeiro dia útil (4/jan), mas o saldo (descontada essa baixa) chega a 2% e 3,5%, respectivamente, nos contratos futuros da Bolsa de Chicago com entrega prevista para março e maio (auge da colheita brasileira).
Meta é ampliar, mas também diversificar
O peso do agronegócio na balança comercial cresceu no Brasil, refletindo maior influência da China. Passou de 37,9% em 2010 para 46,2% no último ano, conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Entre esses dois anos, as exportações agro mais que dobraram e, em 2016, devem passar de R$ 350 bilhões, afirma projeção do Mapa.
O quadro permite que o Brasil registre altas acima desses patamares, uma promessa de aumento na receita bruta da agricultura. A valorização de 2,5% do dólar ante o real eleva os valores pagos ao agricultor brasileiro. No Paraná, os preços do mercado físico subiram 5,5% para soja e 12,8% para o milho ante a média de dezembro. A oleaginosa chega a R$ 70 e o cereal a R$ 27 por saca de 60 quilos. Em Mato Grosso, onde notícias de perdas se consolidam com o início da colheita, houve altas de até 20% em uma semana.
A queda nas cotações da soja e do milho no início do ano mostrou ser reflexo de um momento de incerteza.
- Esses soluços do mercado refletem a ideia de que a China está desacelerando mais forte do que se esperava – pontua o diretor-técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.
Para o analista de mercado Flávio França Junior, trata-se de um comportamento de aversão aos riscos.
- Em meio à incerteza os investidores buscaram ativos mais seguros, como o dólar – exemplifica.
Assim, o fator cambial assume peso decisivo para garantir sustentação as cotações da oleaginosa. O yuan acumula desvalorização de 4% frente ao dólar, mas registra alta de 42% frente ao real. Isso amplia o poder de compra chinês no Brasil, favorecendo um redirecionamento da demanda.
Perto de 80% do crescimento do mercado da soja, que foi de 278% em duas décadas, devem-se à China, aponta o analista da Bolsa de Comércio de Rosário Guillermo Rossi.
Relatórios vão reassentar cotações
Na boca da colheita brasileira, dois relatórios devem reassentar as cotações da soja e do milho, num mercado mais atento à economia chinesa. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) solta nesta terça-feira (12) o quarto levantamento da safra de grãos 2015/16, que mede impacto da seca em Mato Grosso, maior produtor da oleaginosa no país.
Mesmo com as mudanças os especialistas descartam uma queda na demanda. – Ninguém está falando em recessão. A importação chinesa vai crescer menos, mas não quer dizer que vai retrair – argumenta Ferraz.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), estima salto de 3% nas compras chinesas em relação à temporada 2014/15, chegando a 80,5 milhões de toneladas neste ciclo.
Fonte: Gazeta do Povo