A valorização da soja e atraso no plantio tem estreitado a janela de cultivo de algodão e causa desestímulo aos cotonicultores em Mato Grosso. Em Jaciara, já tem propriedade com expectativa de reduzir a área da pluma da safra 20/21 pela metade.
Na propriedade Santo Expedito, as plantadeiras seguem paradas, à espera de umidade no solo para enfim iniciar os trabalhos de cultivo da safra de soja nos quatro mil hectares destinados à cultura.
“Nesta mesma época no ano passado nós já tínhamos cultivado cerca de mais de 70% da área, estamos com uns dez dias de atraso, mas estamos aqui na expectativa da chuva. Se chegar, a gente dá o pontapé inicial e, se precisar, iremos fazer dois turnos de trabalho para compensar este atraso, mas precisa vir logo, senão vai complicar o nosso calendário.” – afirma o gerente de produção Luís Huber.
O motivo da pressa do Luís em soltar logo o plantio da leguminosa é a de não espremer ainda mais a janela de cultivo dos 3 mil hectares de algodão segunda safra, programado pós colheita da safra de soja, que já vai perder espaço este ano na propriedade.
“Já atrasou bem a nossa programação, vamos ver se a chuva vem. Existe uma previsão para essa semana na nossa região, se não vier, vamos diminuir a área de algodão e aumentar a de soja está mais valorizada do que o algodão.” – ressalta Luís.
A falta de chuva e as altas temperaturas não preocupa só o trabalho de campo da propriedade. O algodão colhido da última safra armazenado que está sendo beneficiado por uma outra frente de trabalho também corre risco por causa dos focos de incêndios na região.
“Essa é outra grande preocupação nossa. Não onera os custos, mas deixa a gente bem apreensivo, principalmente os fardos que estão no pátio, a gente monitora o tempo e já deixa um grande espaço entre um fardo e outro para evitar caso algum desses focos invadir” – declara Huber.
Quem também está ansioso e preocupado com a demora da chuva é o Jean Fritz. Segundo ele já há um atraso de 15 dias na janela do plantio dos 1.300 hectares de soja, nesta mesma época, no ano passado, ele tinha terminado todo o cultivo.
“Eu ainda não plantei um pé de soja. A minha última chuva boa aqui foi em junho, ainda na safra de algodão, de lá para cá não caiu mais nenhuma gota e a temperatura no solo passa dos 40 °C graus, estou acompanhando aqui as previsões e, para dia 10, tem promessas de 5 a 10 milímetros. Se realmente confirmar vou arriscar, a minha janela já está bem apertada em relação ao algodão” – destaca o agricultor.
O déficit hídrico já causa consequências e impactos no planejamento do cultivo subsequente, o algodão segunda safra. A programação inicial era cultivar mil hectares de pluma, mas a pouca oferta de chuva anunciada para a região e a janela apertada desestimulou o ânimo do agricultor em relação a cultura e a expectativa é reduzir a área pela metade.
“A janela é muito curta e este atraso bagunçou toda a minha programação e também o mercado. A expectativa era fazer mil hectares de algodão, aí caiu para 800 e agora apenas 600 hectares. Ainda vamos ver como vai ser daqui para frente. Eu acredito que nesta safra vai faltar algodão” – disse.
Na última estimativa divulgada pelo Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea) para a safra 20/21 de algodão em MT, trazendo como destaque a previsão de área para a nova safra, a perspectiva recuou 10,60% se comparada à da safra 19/20, totalizando 1,01 milhão de hectares no estado. Esta queda está atrelada às incertezas quanto à baixa da demanda pela pluma, reflexo da Covid-19 que afetou os principais consumidores mundiais.
No que tange à produtividade, a primeira estimativa foi projetada em 285,10@/ha para a safra 2020/21, indicando um recuo inicial de 1,50% em relação à produtividade da safra 2019/20, que até o momento vem registrando recorde.assim, com a perspectiva de queda na área e o recuo da produtividade, a produção de algodão da safra 2020/21 ficou estimada em 4,33 milhões de toneladas de algodão em caroço e 1,8 milhão de toneladas de pluma de algodão, o que representa um retrocesso de 11,82% ante a safra 2019/20.
“Até o dia 15 de outubro, se chover bem, o produtor de algodão bem tecnificado ainda consegue recuperar o atraso dessa janela, mas se a seca se perpetuar após essa data aí teremos problemas, principalmente os menos tecnificados. A grande preocupação do setor é que os contratos em relação ao algodão são todos antecipados e qualquer tipo de atraso causa apreensão no setor” – ressalva Álvaro Sales, diretor-executivo do Instituto Mato-Grossense do Algodão.
Fonte: Canal Rural