É normal que a gente não repare
tanto nos detalhes do caminho até nossa casa. O “caminho da roça” vira algo
controlado pelo piloto-automático do nosso cérebro. E isso funciona muito
bem… até termos que explicar para alguém como chegar na nossa residência.
“Siga sempre pela principal” e “vire à esquerda no pé de manga” são orientações
comuns, mas bem imprecisas. E se dissermos que essa é uma situação que pode ser
comparada, de certa forma, ao que acontece no campo paranaense?
Para nós, que estamos todos os
dias mergulhados nessa realidade, é fácil dizer por vivência que a soja está
tomando o espaço do milho verão e que em Castro temos um polo de alta
tecnologia de produção de leite. Mas e quando temos que explicar isso para um
investidor internacional? Como fazemos para mostrar o “endereço” do Paraná como
grande potência do agronegócio? Ou ainda, como fazemos para traçar as políticas
públicas para o setor de forma assertiva, no lugar e na hora certa?
Esta seção especial do Boletim
Informativo, que começa neste número e seguirá nas próximas quatro edições, vai
mostrar que o Estado deu um passo importante nesse sentido. O setor passou a
contar com um estudo detalhado de onde e como ocorrem as principais culturas e
atividades pecuárias em nosso território. Esse esforço, do Instituto de
Desenvolvimento Rural – Iapar – Emater (IDR-PR), coloca no mapa detalhes
cruciais para a tomada de decisão de investidores, lideranças rurais e
políticas, produtores, técnicos, empresas, enfim, todos os envolvidos na cadeia
produtiva.
Além de situar onde estão concentradas as atividades, essa pesquisa também faz uma leitura de como e porque elas mudaram ao longo das últimas décadas. “Nosso objetivo é mapear onde estão os polos de cada cultura, incluindo dados sobre o nível de especialização de cada um desses locais, principais indústrias processadoras e outros detalhes importantes”, revela Tiago Telles, pesquisador do IDR-PR. “Na primeira fase, a abrangência do estudo foi soja e milho, laranja, café, leite e mandioca e já temos uma segunda em andamento, que abrange culturas importantes como pecuária (suínos, aves e bovinos de corte), cana-de-açúcar, fruticultura e olerícolas”,
completa Telles.
Werner Hermann Meyer Junior, do
Departamento Técnico e Econômico (DTE) da FAEP, enfatiza que um levantamento
com essa abrangência vai elevar as informações sobre a agropecuária paranaense
a um novo patamar. “Esse estudo proporciona mais conhecimento para a adoção de
políticas públicas voltadas ao desenvolvimento das culturas nas regiões indicadas,
assim como gera informações importantes para potenciais empreendedores, tanto
para produtores quanto para indústria de transformação, entre outras atividades
relacionadas, como a produção de embalagens, exportação, etc.”, avalia.
Soja e milho
Diferentemente de outras culturas
que tiveram fases de estudo separadas, a soja e o milho são uma dupla que
precisa ser analisada em conjunto no Estado. Em síntese, as viabilidades
econômica e tecnológica de uma segunda safra, depois da soja, têm sufocado a área
de milho verão. Ou seja, a soja se espalhou pelo Estado na primeira safra,
tomando espaço do cereal no período inicial da temporada, que vai de setembro a
março.
A expansão da soja se deu em especial nas microrregiões de Apucarana, Cornélio Procópio, Faxinal, Lapa, Francisco Beltrão, Guarapuava, Ivaiporã e Pitanga. O deslocamento observado ao longo dos anos ocorreu principalmente por meio da destinação de áreas cultivadas com milho de primeira safra para a produção de soja. O motivo principal é por a oleaginosa proporcionar melhores resultados econômicos. De 1997 a 2016, o Estado do Paraná apresentou um aumento de 57% no número de microrregiões especializadas na cultura da soja.
Por outro lado, a área colhida do
milho primeira safra apresentou um decréscimo de 55,8% entre 2007 e 2016, a uma
taxa anual de -18,9%. Todas as mesorregiões paranaenses tiveram decréscimo da
área de cultivo. Isso não significa, no entanto, perda da importância do milho.
O cereal é fundamental no arranjo produtivo, especialmente na faixa Oeste –
polo produtor de aves e suínos, como veremos a seguir.
Safrinha virou safrona
O desempenho crescente e positivo
da produção de milho segunda safra na região Oeste do Paraná se deve justamente
às cadeias produtivas de aves e de suínos, uma vez que o milho é insumo
essencial para a alimentação animal. Além disso, somente as regiões Oeste e
Norte Central do Paraná conseguem se destacar nesse cultivo, visto que as
regiões Sul e Sudeste apresentam baixas temperaturas, o que limita o cultivo
comercial do milho de segunda safra.
Estudo completo
Esta série faz um breve relato com alguns dos destaques dos estudos promovidos pelo IDR-PR sobre as principais culturas do Estado e os locais por onde estão distribuídas. Este é o primeiro texto, que tratou de soja e milho, principais produtos da agricultura estadual. Vamos falar ainda de laranja, café, leite e mandioca nas próximas edições. Para ler uma versão dos estudos com mais detalhes, clique aqui.
A notícia Seção especial: onde se produz milho e soja no Paraná? apareceu pela primeira vez em Sistema FAEP.
Fonte: Sistema FAEP