Os problemas climáticos que atingiram propriedades em várias regiões do País foram localizados e não devem provocar quebra de safra de soja nacional, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Paraná. Havia o temor de prejuízos diante da seca no norte do Mato Grosso e no Matopiba (que engloba parte do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e da Bahia), bem como pelo excesso de chuvas em áreas do Paraná e do Rio Grande do Sul. Porém, o 5º Levantamento da Safra 2015/2016, divulgado neste mês pela entidade, aponta redução de apenas 1,2 milhão de toneladas da commodity em relação à previsão anterior de 102 milhões de toneladas, o que indica tendência de manutenção nos preços da saca para o agricultor.
Maior produtor brasileiro, o Mato Grosso atingiu 39,4% da colheita em áreas plantadas, de acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Apesar de atrasos no plantio em áreas com seca e perdas localizadas no norte do estado, como nas regiões de Sinop e Sorriso, a quebra foi menor do que o esperado. O Imea trabalha com safra recorde de 28,5 milhões de toneladas de soja, ou 416 mil a mais do que a anterior.
O preço da soja pago aos produtores mato-grossenses chegou a R$ 69 por saca, tende a diminuir conforme o andamento da safra, mas continuará rentável, diz Eugenio Stefanelo, técnico e ex-presidente da Conab no Paraná. Somente problemas climáticos muito grandes sobre a colheita da Argentina e dos Estados Unidos poderiam gerar novo salto na cotação do produto.
Stefanelo lembra que, no Porto de Paranaguá, a saca da soja chegou a ser comercializada por R$ 86 e a do milho, a R$ 45.
- Algumas propriedades no norte do Mato Grosso chegaram a ter perdas de 60% na soja, mas não foi algo generalizado e o preço está hoje um pouco abaixo do teto, entre R$ 78 e R$ 80, em Paranaguá – completa.
Ainda, ele diz que todas as perdas foram precificadas pelo mercado. Por isso, crê em manutenção da cotação internacional da soja entre US$ 8,50 e US$ 9 por bushel.
Cenário diverso
O diretor comercial da New Holland no Brasil, Alexandre Blasi, confirma que o norte mato-grossense foi mais afetado.
- Alguns agricultores tiveram uma produtividade na média histórica para cima e muitos bem abaixo. Às vezes, dentro da mesma fazenda, são dois ou três tipos de produtividade diferentes – exemplifica.
O proprietário da Fazenda Santa Rosa, Nelson Pelle, estima que conseguirá 60 sacas de soja por hectare nesta safra, nos 700 hectares que possui em Lucas do Rio Verde. A média é levemente inferior às 62 sacas da colheita anterior.
- Mas tenho vizinhos que não conseguiram produtividade nem de 15 sacas, o que não compensa nem o diesel gasto -conta.
Para o paranaense Leandro Miguel Hoffmannn, da mesma região, a colheita já está no fim e deve ficar em 63 sacas em cada um dos 1,5 mil hectares, bem acima da média de 55 e da produção de 49 do ano passado, quando teve problemas. Porém, diz que houve falta de chuva na região e que pode prejudicar a colheita de milho safrinha.
- Em 30 anos nessa região, nunca vi um clima com tão pouca chuva. Costumo pegar uma média de 1,6 mil milímetros e até agora não passou de 700 – conta o proprietário da fazenda Irmãos Hoffmann, sobre a precipitação a partir de setembro.
Fonte: Folha Web