Autoridades de Santa Catarina assinaram nesta quinta-feira, 13, o protocolo que estabelece o Programa de Incentivo às Culturas de Inverno. A solenidade aconteceu durante o 1º Fórum Mais Milho da safra 2019/2020, em Mafra (SC). O objetivo é ampliar a área plantada e a oferta de trigo, cevada e triticale para produção de ração animal.
O estado é o maior produtor de suínos e o segundo colocado na criação de frangos. De acordo com o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados (Sindicarne), Jorge Lima, cerca de 34% do Produto Interno Bruto (PIB) catarinense vem da produção de proteína.
“Geramos mais de 100 mil empregos diretos e podemos multiplicar isso por sete para contar os empregos indiretos”, comenta.
A pecuária de Santa Catarina é bastante dependente do milho, porém, há um déficit muito grande entre oferta e demanda. Segundo o secretário de Agricultura, Ricardo di Gouvêa, enquanto produz três milhões de toneladas, o estado demanda sete milhões de toneladas.
O cultivo dos grãos de inverno surge como uma das estratégias para suprir o setor. De acordo com o pesquisador Eduardo Caierão, da Embrapa Trigo, apenas 20% da área plantada na safra de verão é utilizada durante o inverno.
A ideia é que nos próximos três anos sejam plantados mais 100 mil hectares de trigo, 10 mil de triticale e 10 mil de cevadas. Gouvêa destaca que os agricultores que participarem do programa terão segurança.
“Absorção garantida pelo mercado consumidor, que são as agroindústrias, a preços compatíveis, tendo os valores do milho como balizadores”, afirma.
O vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira, comenta que a garantia é bastante importante, já que o cultivo de cereais de inverno é bastante arriscado.
“Não dá para o produtor plantar sem compromisso de preços”, diz.
Segundo a gerente corporativa de Agropecuária e Nutrição Animal da Seara, Sandra Bonaspetti, das 5,5 milhões de toneladas de trigo produzidas no Brasil na safra 2019, somente 500 mil toneladas foram usadas no consumo animal.
“Qualquer que seja o volume, será tremendamente importante”, afirma.
Ela confirma que a indústria pode trabalhar com valores balizados pelo milho.
“Se estiver a R$ 40 por saca, terá uma proporção levando em consideração o valor nutricional. É totalmente viável”, diz.
Outro ponto que deve ser implementado é um seguro agrícola que trará conforto para o produtor investir com segurança.
Cereais de inverno ajudam a diluir custos de produção
O presidente da Cooperativa Agropecuária Camponovense (Coocam), João Carlos Di Domenico, conta que 50% das estruturas de armazenagem do estado ficam ociosas durante seis meses do ano.
“Apesar dos cereais de inverno nunca terem apresentado uma grande lucratividade, ajudam a diluir os custos. Além disso, se produzimos como esperado [de 500 a 600 mil toneladas] já ajudaria muito com o déficit de milho”, diz.
Caierão conta que ao não investir nos cereais de inverno, o produtor acaba tendo que lidar com mais custos.
“Se ele deixar de cobrir o solo e estruturá-lo, haverá um impacto na safra de verão em caso de seca. Temos a depreciação da estrutura produtiva e o gasto maior com aplicação de herbicidas”, diz.
Trigo, cevada e triticale são adequados para nutrição animal?
Sandra Bonaspetti afirma que há sempre uma dúvida se os cereais de inverno podem substituir o milho na cadeia da carne, nutrindo frangos e suínos.
“Mas, do ponto de vista técnico, a resposta é sem dúvida. Basta ter disponibilidade para que a agroindústria faça a originação como faz com o milho”, conta.
O pesquisador Eduardo Caierão destaca que o programa não destinará grãos secundários para a produção de ração.
“Temos complicadores como micotoxinas que podem impactar os animais”, diz.
De acordo com o especialista, a Embrapa não está trabalhando em cultivares de trigo específicas para ração, pois há trabalhos trabalhos científicos que comprovam que qualquer cereal pode, com o devido equilíbrio nutricional, ser usado na alimentação de animais.
“Com o tempo, identificarmos quais são as mais adequadas”.
Bonaspetti explica que se a indústria pudesse fazer um pedido às entidades de pesquisa seria um trigo com menos fibra.
“Ele tem valor de proteína superior ao milho, de 12% a 13% contra 7% a 8%, o que é um ponto positivo, e estou falando do trigo usado para panificação, mas tem um teor de amido inferior. O grande problema que desvaloriza é a quantidade de fibra maior, pois frangos e suínos não conseguem digerir tão bem”, diz.
Por enquanto, segundo a gerente da Seara, nutricionistas trabalham com enzimas que ajudam na digestão dessa fibra.
‘O momento é agora’
O secretário adjunto de Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Rural, Ricardo Miotto, destaca que o desenvolvimento de cultivares não se faz em dois ou três anos.
“E precisamos de alternativas [para suprir a demanda] agora. A base tecnológica não é problema. Comecemos com o que já temos. O que precisamos é de toda base pública e privada para levar assistência técnica e boas práticas, pois sabemos das dificuldades, principalmente por problemas sanitários, enfrentadas pelos cultivos de inverno”, diz.
Di Domenico concorda e destaca que é necessária constância na produção.
“Ninguém vai parar uma fábrica por dias para trabalhar com trigo e depois voltar. Precisamos começar o processo para deslanchar com o tempo”, defende.
Segundo o pesquisador da Embrapa Eduardo Caierão, na próxima semana, a entidade sentará com uma cooperativa e uma agroindústria para fechar o fornecimento de 10 mil toneladas.
Fonte: Canal Rural