As primeiras impressões sobre os números do Plano Safra vão da precaução ao sentimento de que o governo fez uma deferência ao campo, nos últimos anos responsável por sustentar a balança comercial e com um desempenho destoante à estagnação da economia. No primeiro trimestre, por exemplo, enquanto o PIB do país encolheu 1,6% ante o mesmo período de 2014, a agropecuária cresceu 4%.
Há a satisfação de que o setor, pelo anúncio da disponibilidade maior de recursos, teve tratamento diferenciado em meio aos cortes promovidos pelo ajuste fiscal. Mas a elevação do juro se soma a outros aumentos de custos – como combustíveis, energia e insumos – e à queda dos preços das commodities.
– Isso tira renda do produtor. Até pela conjuntura, (o juro) é suportável. Esperamos que, quando a economia mudar, as taxas retornem. Sempre duvidei que o governo cortasse recursos. Seria um tiro no pé – diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS), Décio Teixeira, que recomenda cautela para avaliar a tomada de crédito.
Com visão semelhante, o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), Paulo Pires, avalia que o saldo do plano é positivo. Comemora o aumento dos recursos com juro controlado, mais baratos em relação às taxas de mercado, mas lamenta a taxa maior para armazenagem, uma reconhecida deficiência brasileira. Nessa linha, passou de 4% para 7,5%.
– O programa de armazenagem era um dos melhores do Plano Safra e acho que agora se exagerou um pouco na dose – entende Pires, outro a pregar cautela para os produtores.
Como o Estado tem mais da metade da produção nacional de máquinas agrícolas, o ímpeto do agricultor brasileiro de investir também se reflete na indústria gaúcha. O setor espera agora agilidade para o dinheiro chegar aos bancos.
– O juro subiu, mas dentro do esperado. O primeiro semestre está perdido. Acredito que as vendas comecem a melhorar no próximo mês – diz Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul.
Lembrando a importância da agropecuária para economia e o efeito irradiador nos demais setores, o vice-presidente de agronegócio da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul), José Américo da Silva, avalia que, mesmo com a elevação do juro, o aumento de recursos é um reconhecimento à contribuição do agronegócio para o país.
Fonte: Zero Hora