SAFRA PERIGOSA

O tempo seco a partir do final de julho trouxe um novo ânimo para os triticultores gaúchos. Em muitas áreas o excesso de chuva, desde o início da safra, atrasou o plantio e prejudicou o desenvolvimento da planta, além de afetar a eficiência de algumas práticas agrícolas.

- De forma geral, o clima não favoreceu a cultura: os produtos utilizados não tiveram eficiência em função da chuva e as temperaturas foram inadequadas (altas para a época) para o desenvolvimento do trigo e aceleraram o surgimento de doenças – avalia o engenheiro agrônomo da Löser Cereais, Gerson Schiavo.

A trégua da umidade foi a oportunidade do agricultor aproveitar para aplicar fungicidas e nitrogênio que foram “lavados” pela chuva. Foi o que fez o agricultor, Carlos Luiz De Bortoli, nos 18 hectares cultivados em Sede Aurora/Quinze de Novembro. O cereal plantado no mês de maio está em fase de emborrachamento e com a adoção de práticas recomendadas: uso de nutrição da planta com nitrogênio e aplicação de fungicidas e inseticidas, o resultado é visível – a lavoura está em bom estado.

- Com fungicida não perdi tempo. Já apliquei pela segunda vez em toda a lavoura – revela De Bortoli.

No ano passado, mesmo com toda a chuva, ele colheu 50 sacas/ha de um trigo de alta qualidade com PH 78 e PH 79. E nem a previsão de El Niño muda a opinião do produtor.

- Vale a pena investir, manter as folhas verdes com fungicidas – ressalta.

Mas é preciso contar com o tempo na fase crítica: durante o espigamento e florescimento. A chuva em excesso nesse período deixa o triticultor de “mãos atadas,” sem ter muito o fazer.

- A umidade provoca doenças, principalmente, a giberela. E a chuva com excesso de calor causa a brusone como foi registrado no ano passado. A chuva no enchimento de grãos afeta a qualidade – explica o engenheiro agrônomo.

 Margem apertada

 Mas a ameaça do El Niño também pode trazer chuva acima da média na Argentina durante a colheita. Os efeitos do fenômeno climático podem derrubar a projeção de produção em torno de 13,2 milhões de toneladas, nesta safra, contra os 11,2 milhões de toneladas obtidas em 2014, segundo a Safras & Mercado. Conforme o analista de mercado de trigo da consultoria, Elcio Bento, os três principais países produtores de trigo do Mercosul: Argentina, Paraguai e Uruguai devem ter 8,5 milhões de toneladas para exportar. O principal mercado é o brasileiro que deve ter uma necessidade de importação entre 5,5 a 6 milhões de toneladas no próximo ano comercial (agosto de 2015 a julho de 2016). A boa notícia para o produtor brasileiro é que o dólar próximo a R$ 3,50 torna o produto nacional muito competitivo.

- A questão cambial garante uma certa segurança para o produtor e podemos projetar preços superiores aos da safra passada. Resta saber em termos de margem, com um a lavoura que foi implantada com custos elevados, qual será a lucratividade do triticultor – destaca o analista de mercado que estima preços entre R$ 30/saca e R$ 35/saca na época da colheita gaúcha.

Outro fator que pode elevar a cotação do cereal é a redução de safras devido ao clima. De acordo com a Safras & Mercado, o potencial de produção no Brasil é de 7 milhões de toneladas – no maior estado produtor de trigo, o Paraná, a colheita será de 3,98 milhões de toneladas, praticamente a mesma quantidade do ano passado, quando os triticultores paranaenses produziram 3,97 milhões de toneladas. No Rio Grande do Sul, mesmo com a redução de área de quase 30%, o potencial das lavouras é de 2,33 milhões de toneladas, mas esse número depende muito ainda do comportamento do tempo.

- O mercado ainda não assinalou para cima, porque a incerteza do tamanho das safras é muito grande – finaliza Bento. 



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