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SAFRA MELHOR, MERCADO PIOR

Depois de duas safras frustradas devido ao excesso de chuva, a colheita de trigo deste ano atinge números animadores no Rio Grande do Sul: a produtividade gira na faixa de 60 sacas/ha, bem acima da média histórica de 40 sacas/ha, conforme a Emater. Na região de Não-Me-Toque, no norte gaúcho, o técnico agrícola da Sementes ROOS, Luan Briancini, revela que o rendimento das lavouras chega a 70 casa/ha. Mesma média obtida na região de Ibiraiaras, nordeste do Estado. O engenheiro agrônomo da Bocchi Agrobios, Vinícius de Lima Sberse, revela que é uma das melhores colheitas, ficando abaixo somente da super safra de 2013.

- Foi uma safra dentro do esperado, o clima se comportou de acordo com a cultivar – analisa Sberse.

Na região de Santa Bárbara do Sul a safra de inverno foi a melhor dos últimos anos, de acordo com o agrônomo da Três Tentos, Matheus Alegretti de Oliveira, obtendo acima de 60 sacas/ha.

- A cultura se desenvolveu muito bem e teve clima favorável do início ao fim, sendo considerada baixa a severidade de doenças e pragas, pelo fato de ter sido um inverno mais seco e frio – explica Oliveira.

Nas Missões, em Santo Ângelo, a colheita ficou na média de 55 sacas/ha, variando entre 45 e 65 sacas/ha, dependendo da tecnologia adotada, conforme o agrônomo e sócio-proprietário da Agrofutura, Cesar João Bianchini. No norte, em Passo Fundo, a produtividade foi de 65 sacas/ha, mas poderia ter sido melhor.

- Tivemos perdas por déficit hídrico, geadas, granizo, excesso de chuva e atraso no plantio – reitera o Supervisor de Insumos da Cereais Rostirolla, Tiago Oliveira da Rosa.

Os triticultores gaúchos devem produzir 2,3 milhões de toneladas nos 766,86 mil hectares destinados ao cereal nesta temporada – a menor área dos últimos 10 anos, segundo dados da série histórica da Emater. Além das oscilações climáticas, a falta de políticas de estímulo à comercialização do trigo é um dos fatores que dificultam a estabilidade da cultura mais antiga do Estado, que deu origem às lavouras gaúchas.

SAFRA DE TRIGO RS

Área: 766,86 mil hectares

Produção: 2,3 milhões de toneladas

Fonte: Emater

 

Mercado desanimador

Se a produção e a qualidade, com PH superior a 78, de trigo classe pão tipo 1, animam os agricultores nas regiões produtoras, o mercado tem provocado efeito contrário.

- É uma falta de respeito com o produtor. A cotação está R$ 10 abaixo do preço mínimo e não tem negócio. Os moinhos querem comprar a R$ 25/saca – critica Bianchini.

O cenário de excesso de oferta no momento da colheita travou as vendas, devido ao preço abaixo do mínimo, e o Governo Federal precisou intervir com os leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) e de Prêmio Para Escoamento de Produto (PEP).

- Não dá para esperar muita coisa boa – avisa o analista da Consultoria Safras & Mercado, Élcio Bento.

O especialista em mercado do trigo acredita que estamos no piso dos valores do cereal, na faixa entre R$28 e R$30/saca, mas também não visualiza muita margem de crescimento.

- O pior já passou, a partir de agora o mercado é para cima, tendo como termômetro a oferta no Brasil e no Mercosul – informa.

Mas Bento aposta em uma melhora mais significativa só a partir de março, quando passar a pressão de oferta e a logística da necessidade de abrir espaço no armazém para receber a safra de verão, historicamente recupera os valores.

- Até o fim de fevereiro o que determina a cotação é a paridade de exportação, ou seja, quanto recebe pelo trigo lá fora. Depois de março, na entressafra, começa a valer a paridade de importação – o valor que chega ao País o cereal argentino – esclarece o analista de mercado.

Diante das turbulências da política brasileira e das desconfianças do novo governo do presidente eleito dos Estado Unidos, Donald Trump, o câmbio é uma variável de incerteza. E com tantas dúvidas, o Estado, que há 40 anos chegou a plantar 2,1 milhões de hectares, reduz cada vez mais a área do principal cultura de inverno. Além das oscilações climáticas, a falta de políticas de estímulo à comercialização do trigo é um dos fatores que dificultam a estabilidade do cereal.



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