A safra 2016/17 dos Estados Unidos já está batendo à porta dos mercados internacionais e exigindo cada vez mais planejamento por parte dos produtores norte-americanos. Os atuais preços praticados em Chicago tanto para a soja quanto para o milho, duas das mais importantes culturas do país, não cobrem nem ao menos os custos de produção.
Assim, estudos internacionais já indicam menos investimentos nesta nova temporada, ao mesmo tempo em que mostram divergências entre as projeções para a área de plantio da oleaginosa e do cereal, bem como os retornos financeiros de cada um. Os desafios são grandes e a competitividade dos maiores concorrentes dos produtores brasileiros esta em jogo.
Para Bob Nielsen, professor de agronomia da Purdue University, em Indiana, EUA, há um obstáculo que supera todos os outros: o clima. "Eu acredito que a variação climática é, provavelmente, o maior desafio que encaramos", disse em entrevista ao jornal de mercado da Universidade de Nebraska. "Se olharmos para os últimos cinco ou dez anos, quase todas as regiões do Corn Belt registraram algum evento climático extremo que a maioria de nós ainda consegue se lembrar", completa.
Assim, ainda segundo Nielsen, as decisões que o produtor norte-americano tomar agora serão determinantes para o desenvolvimento de sua nova safra, embora não seja possível saber quais serão as extremidades do clima que vêm a seguir.
A primavera começa em março nos Estados Unidos e, segundo o Centro de Previsões do Serviço Nacional de Clima do país (CPC), os primeiros mapas já mostram que o Corn Belt, a principal região produtora norte-americana, não deve contar com extensos períodos de seca entre janeiro e abril. Os eventos de seca, ainda ocasionados pelo fenômeno El Niño devem limitar-se, portanto, às áreas mais ao extremo Noroeste do país.
Para o período de fevereiro a abril, o CPC prevê temperaturas acima da média por todo o Norte dos Estados Unidos, incluindo as Planícies Norte e todo o Meio-Oeste, enquanto temperaturas abaixo do normal para o intervalo podem ser registradas do Texas às fronteiras com o Golfo do México. Já sobre as chuvas, acumulados acima da média são esperados nas Planícies do Centro e do Sul, enquanto os mais baixos devem estar localizados na costa leste do Corn Belt.
O CPC destaca ainda que, apesar de o pico do El Niño já ter passado e que o fênomeno começa a perder força, este ainda é o principal direcionador das condições climáticas neste primeiro trimestre do ano. Assim, as questões agora se dão em torno desse enfraquecimento e da transição para um período de La Niña. E, ainda de acordo com o instituto, há mais chances da ocorrência desse fênomeno – cerca de 79% – do que de o clima voltar a uma neutralidade no trimestre seguinte.
E como explica o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Somar Meteorologia, o enfraquecimento do El Niño também favorece o início da implantação das culturas, principalmente no caso do milho, que começa a ser semeado antes, já que essas temperaturas mais elevadas facilitam o degelo da neve e facilita o aquecimento do solo.
"O plantio do milho, que ocorre já entre o final de março e início de abril, não terá atrasos significativos como aconteceu nos últimos dois anos por conta de frio e excesso de chuvas. Então, o plantio ocorre dentro de uma normalidade", explica.
Para o desenvolvimento da nova safra norte-americana, porém, os efeitos do clima ainda são incertos, já que seguem os estudos sobre se o El Niño será ou não, efetivamente seguido por um La Niña, e que condições podem trazer às lavouras.
"Para ter chuvas no verão americano precisamos de uma forçante, que é o El Niño, e esse ano não vamos ter El Niño, então, nada impede que se tenha períodos mais prolongados de estiagem no Meio-Oeste americano ou nas demais regiões produtoras", explica o agrometeorologista.
Além disso, Santos lembra ainda que os solos norte-americanos têm uma capacidade maior de absorção de água e, com boas chuvas durante a primavera, os efeitos de um período mais seco no verão poderiam ser amenizados. "É um ano para se olhar para os EUA, pois perdas podem vir a ocorrer", diz.
La Niña
Ainda segundo o agrometeorologista, mesmo ainda sem uma confirmação efetiva da ocorrência do La Niña, a safra 2016/17 dos EUA "ocorrerá em um contexto climático totalmente diferente do que foi observado nos últimos dois anos, ou seja, o padrão da atmosfera e da temperatura das águas do oceano Pacífico estarão completamente diferentemente da safra 2015/16 e também da 2014/15".
No entanto, ele explica ainda que a formação desse fenômeno não impacta tão severamente o ínicio da nova safra norte-americana e, portanto, caso as perdas venham a ocorrer, deverão ser mais localizadas do que generalizadas.
"Vai depender muito de como será o regime de chuvas na primavera. Caso esse La Niña se intensifique durante e entre no verão americano com chuvas muito abaixo da média, aí sim poderemos ter grandes impactos na produtividade da soja, milho e algodão. E o problema ficaria extremamente grave se o La Niña se estender até 2017, aí podemos nos remeter às perdas de 2012, quando tivemos uma grande quebra", completa Santos.
Área de Plantio – A tradicional disputa entre soja e milho
Os produtores norte-americanos são, historicamente, tradicionais plantadores de milho e garantem, portanto, seu posto de maior produtor e exportador mundial do grão. No entanto, a disputa do grão com a soja por área no país, principalmente por conta do retorno financeiro de ambas, já é conhecida e acontece todo ano.
Para o banco internacional Société Genéralé, os EUA deverão plantar os mesmos 35,61 milhões de hectares de milho e 34,08 milhões de soja. Já para a pesquisa feita pelo portal internacional Farm Futures aponta, respectivamente, números de 33,27 milhões – menor do que o do ano anterior – e 36,22 milhões de hectares, mais do que na temporada 2015/16. Por outro lado, a Informa Economics estima um aumento para a soja de 34,49 milhões de hectares e para o milho de 35,96 milhões.
Janeiro está terminando e os números de consultorias privadas que projetam a área da safra 2016/17 divergem, e o plantio deve ser iniciado em meados de abril. Em fevereiro, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) realiza o Agriculture Outlook Forum e, no evento, trará as primeiras projeções oficiais para a área de plantio dessa nova temporada. Até lá, as especulações continuam crescendo. No entanto, é consenso entre especialistas internacionais que as relações dos custos com os atuais preços – que está bastante delicada – deve atuar como um freio para a expansão de área de cultivo nos Estados Unidos.
"Nem o milho e nem a soja estão sinalizando lucros baseados nos atuais preços de ambos os produtos neste início de 2016, mas o milho tem um potencial maior para 'quebrar' este ano", acredita o analista de mercado sênior Bryce Knorr. "Os produtores estão começando a entender isso, mesmo com o milho requerendo mais fluxo de dinheiro em um ano apertado, além da elevação dos custos de produção", completa.
Para Knorr, essas margens apertadas são os principais fatores que farão os produtores repensarem o aumento planejado e trazendo ainda a possibilidade de que parte de suas terras poderiam ser destinadas às culturas forrageiras ou até mesmo deixá-las em pousio. Isso, é claro, caso o mercado não melhore até o início do plantio.
Investimentos
Uma pesquisa feita pela publicação norte-americana FarmJournal com cerca de 1.500 agricultores trouxe, com um dos principais resultados, a afirmação de quem, em 2016, iriam cortar seus gastos pela primeira vez. E a maior parte deles – 38% – afirmou que a primeira redução virá nos maquinários agrícolas.
Outros 30% afirmaram que cada uma das categorias de seus insumos serão analisadas e deverão passar por cortes. O estudo mostrou ainda que 9% dos produtores entrevistados podem reduzir seus investimentos em fertilizantes, 6% em sementes e 2% em agroquímicos.
Segundo Matt Bennett, da internacional Bennett Consulting, "os banqueiros estarão acompanhando ainda mais de perto para as dívidas e margens. Os produtores americanos terão que ser homens de negócios ainda melhores" em entrevista ao site norte-americano AgWeb.
Fonte: Notícias Agrícolas
Fonte: Canal do Produtor