O atraso da colheita da soja deve fazer com que o milho safrinha seja semeado mais tardiamente em áreas do sudeste de Mato Grosso e muitos produtores consideram estender a semeadura da segunda safra do cereal além da janela ideal, que vai até meados de março nessa região. Muitos especulam que as chuvas, que não vieram no fim do ano passado, podem se estender até meados do ano, a exemplo do que ocorreu no ano passado.
Contudo, essa ainda é uma aposta arriscada e o aumento do risco climático pode resultar na menor adoção de tecnologia no plantio e redução do volume de fertilizantes aplicado.
O produtor Jefferson Luis Castelli, proprietário da Fazenda Castelli, em Primavera do Leste, afirma que apesar do plantio mais tardio, não pretende reduzir a área de milho em segunda safra. Em conversa com a equipe 3 do Rally da Safra, que a Agência Estado acompanha, Castelli informou que deve semear entre 600 e 650 hectares com safrinha, em linha com a área cultivada no ano passado.
Apesar de não alterar a área de safrinha, ele relatou ter escolhido sementes mais baratas, sem utilizar em larga escala os principais lançamentos de sementes de milho. Ele projeta que deverá plantar o cereal mais tarde que o normal neste ano, em virtude dos atrasos na soja.
- No ano passado, plantei milho até 6 de março, mas esse ano, de repente vou ter que plantar até mais tarde, porque já comprei a semente – afirmou.
O agricultor está colhendo soja e já iniciou o plantio de milho, sendo que no ano passado, o cultivo estava pouco mais de uma semana adiantado. A área de soja também se manteve em relação à anterior, com 750 hectares semeados. O plantio da oleaginosa em áreas sem pivô foi feito a partir de meados de outubro. Revendas da região confirmaram que a expectativa é de redução do uso de tecnologia.
Nos últimos dois ciclos, o período de chuvas se estendeu no sudeste de Mato Grosso e mesmo as lavouras plantadas fora da janela apresentaram produtividades elevadas. Parte dos produtores acredita que isso deve se repetir nesse ano e é por isso que a área de safrinha deve se manter estável em relação ao ano passado. Entretanto, como a plantação estará submetida a um risco climático maior, a avaliação é de que não é um bom ano para investir no cultivo de milho.
- O adubo eu já comprei no ano passado, então não vou diminuir o uso, mas o que posso fazer é adubar mais a área de pivô, que tem produtividade mais certa – explicou Castelli.
Outra possível mudança é o abandono da agricultura de precisão neste ano.
- Antes, eu tinha agricultura de precisão em 80% da área, mas nesse ano, talvez não faça por causa do custo. O agricultor sinalizou a maior dificuldade no acesso ao crédito e as oscilações do dólar como principais preocupações para o plantio e comercialização da safra nesse ano – afirmou.
Em Rondonópolis, o produtor Osvaldo Pasqualotto concorda que a tendência é de redução da tecnologia usada no plantio de safrinha. Após a colheita dos 6,5 mil hectares semeados com soja, o produtor pretende plantar milho em 4 mil hectares. A área estimada para o cereal é a mesma do ano passado. Na área restante, ele pretende plantar braquiária, já que também tem criação de gado na propriedade.
Apesar de não reduzir a semeadura de milho, o produtor prevê adubação menor neste ano.
- Com a dificuldade de crédito e o atraso, o pessoal deve reduzir tecnologia e adubação no cultivo de milho. Saíram dos lançamentos de semente de milho que têm custo mais elevado – explicou Pasqualotto.
Fonte: Revista Gobo Rural