Os R$ 198,4 bilhões da nova etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL) representaram um aparente avanço para o escoamento da produção agropecuária. Mas, na prática, o impacto no bolso do produtor, estimado entre 30% e 34% em redução de custos, deve vir só em 2018.
O diretor executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz Ferreira, órgão regido pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), calcula que a redução nos custos do agricultor do Centro-Oeste deve chegar daqui a três anos, através da diminuição no frete. Para se ter uma ideia, a média de desembolso para levar a soja de Sorriso (MT) ao Porto de Santos (SP), em 2014, era de US$ 126 a tonelada. Caso a saída fosse por Miritituba (PA), o valor passaria a US$ 110.
- À medida que os portos que estão em construção forem concluídos, o reflexo positivo vai aumentando. Já temos as operações da Bunge e ADM [Archer Daniels Midland] ampliando capacidade, e com a finalização das obras na rodovia BR-163, o produtor começa a ver a redução de custo – diz o executivo.
No modal ferroviário, destaca-se a construção da Ferrovia Transcontinental, principal aposta do plano de concessões, que contará com investimento nacional na ordem de R$ 40 bilhões e participação da China. De acordo com o anúncio do embaixador do gigante asiático no Brasil, Li Jinzhang, a obra terá início em 2022 e irá até o Peru para facilitar o escoamento de grãos por intermédio dos portos peruanos.
Distorções
Anunciado na última semana pela presidente Dilma Rousseff, o plano de concessões trouxe soluções emergenciais às ferrovias, rodovias, portos e aeroportos, mas deixou de lado as hidrovias, que respondem por 9% do transporte da safra de grãos. Nos Estados Unidos – maior concorrente na exportação de commodities – o modal representa cerca de 49% do escoamento, segundo análise da Confederação Nacional do Transporte (CNT).
- O governo percebeu que o transporte é fundamental para destravar os problemas produtivos, mas cabe lembrar que o programa aponta concessões para que a iniciativa privada faça o investimento. Onde as companhias não forem atuar, esperamos que venham aportes públicos, como para a navegação interna que ficou esquecida até o momento. Sem isso, continuaremos com o gargalo logístico – avalia a coordenadora de economia da CNT, Priscila Santiago.
Um levantamento da entidade, divulgado há pouco menos de um mês, mostra que o País precisa de pelo menos R$ 195,2 bilhões para melhorar o escoamento do setor agropecuário. Entretanto, dos R$ 198,4 bilhões apresentados no PIL, a especialista conta que apenas R$ 43,4 bilhões coincidem com as necessidades apontadas no estudo.
- Outro ponto que nos surpreendeu negativamente foi o fato do Matopiba [Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia], região considerada nossa nova fronteira agrícola, não ter sido considerada no plano. Ali, o benefício virá só nos portos, visto que há um grande déficit nas estradas, por exemplo – acrescenta a coordenadora.
Fonte: DCI