A renovação dos canaviais, fundamental para impedir o envelhecimento das plantas e, consequentemente, a deterioração dos índices de produtividade em campo, tem começado a se recuperar no Centro-Sul. Além de as usinas terem começado a investir um pouco mais em atualizações em sua área industrial, também estão aumentando seus aportes na área agrícola estimuladas pelos preços sustentados de açúcar e etanol e do clima mais favorável
No ano passado, 13,7% da área canavieira da região foi replantada, consumindo investimentos acima de R$ 1 bilhão, afirmou Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). Em 2015, apenas 10% da extensão de cana do Centro-Sul havia sido renovada, um dos piores índices da história, que ainda refletia a baixa capacidade de investimento do setor.
O nível de renovação das lavouras ainda está distante do patamar considerado adequado para evitar o envelhecimento dos canaviais, de 18%, mas deve se aproximar desse nível neste ano, quando se espera que 17% dos canaviais sejam reformados, segundo Pádua.
Os investimentos do ano passado vão se refletir na safra 2017/18, que começa oficialmente em abril, mas apenas essa recuperação não é garantia de que a produtividade vá melhorar. No ano passado, a produtividade média ganhou impulso com a moagem de cana remanescentes da safra anterior (“bisada”), mas a próxima safra não terá essa oferta de cana.
Além disso, muitas empresas tiveram problemas com o plantio por causa de questões climáticas, como as geadas que ocorreram no último inverno, e acabaram mudando o calendário de colheita e semeadura. Como consequência, cresceu o plantio de variedades menos produtivas, que têm ciclo de maturação de um ano e rendem menos que as variedades que ficam maduras em um ano e meio.
Esses pés de cana mais produtivos, plantados entre novembro e março, chegam a ter índice de produtividade acima de 120 toneladas por hectare em seu primeiro corte, enquanto a cana plantada entre maio e junho (“cana de inverno”) e a semeada entre agosto e setembro, que amadurece em um ano, tem produtividade em torno de 90 toneladas por hectare no primeiro corte.
Em geral, as usinas renovam 10% de seus canaviais com as variedades mais produtivas, enquanto os outros 8% reservados para a renovação das lavouras são divididos entre as variedades menos produtivas. Contudo, as geadas do ano passado levaram ao replantio de algumas áreas antes do tempo previsto e uso maior das variedades menos produtivas, que representaram metade da extensão renovada, segundo Pádua.
O diretor da Unica observou, porém, que no ano passado as geadas atingiram cerca de 40% do canavial do Centro-Sul, derrubando o teor de sacarose na cana (ATR) e a produtividade por hectare, já que as usinas tiveram que realizar a colheita antecipadamente.
Willian Hernandes, sócio da consultoria FG/A, afirma que o aumento do plantio de variedades de ciclo mais curto, que já ficarão prontas para colheita na próxima safra, também é reflexo da perspectiva otimista para os preços de açúcar e etanol neste ano. “Isso foi feito tanto pelas usinas com mais restrições de caixa como com menos. O fato é que o caixa melhorou em geral”, afirmou Hernandes.
Em recente apresentação à imprensa, Plínio Nastari, presidente da Datagro, disse que os índices de produtividade do início da safra 2017/18 não serão tão altos quanto o usual, refletindo a falta de chuvas em março do ano passado e as geadas no inverno. Já do meio para o fim da safra, o rendimento deve se recuperar. Na média da temporada, a colheita deve ficar em 79 toneladas por hectare, ligeiramente abaixo do que na safra atual, estimou Nastari.
Neste verão, as usinas têm retomado o plantio das variedades de cana de um ano e meio de maturação, o que deve se refletir apenas na temporada 2018/19. Se esse plantio avançar até março, pode haver uma área menor disponível para ser colhida na próxima temporada, que já deve ser menor por causa da falta de cana bisada.
Fonte: Valor Econômico
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