TUCANO-WEBB

RECANTO PARA ANIMAIS

Imaginem a cena…depois de tanto procurar, o tucano encontrou o alimento desejado escondido num pequeno orifício, no tronco de uma árvore. A tarefa exigiu todo o desempenho de seu longo – e colorido – bico. Depois de alguns minutos de muito esforço, ele conseguiu e, recompensados pelo sabor da frutinha, era hora de tirar o bico do buraco. Mais alguns minutos de luta, mas, dessa vez, sem recompensa: mais da metade do bico se partiu com a força que ele fez. E pior, aquele bico nunca mais vai crescer…

A cena é trágica, mas não é rara no dia a dia de um tucano, ave que usa todos os centímetros de seu bico para retirar alimentos dos lugares mais difíceis e imagináveis, além de usá-lo nas disputas territoriais e em lutas de proteção de seus ninhos. Foi assim, com boa parte do bico partido, que dois tucanos-do-bico-verde fêmeas chegaram ao CRAS (Centro de Recuperação de Animais Silvestres), instalado no Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo.

Depois de higienizados, os animais passaram por exames detalhados que ainda identificaram uma osteomelite, inflamação óssea causada por fungos ou bactérias, que pode se difundir e comprometer os ossos e a medula dos bichos.

- Como o bico é um osso muito irrigado, é bem provável que uma infecção se alastrasse pelos corpos das aves. Limpar e tratar a doença foi essencial, antes de fazer qualquer outra coisa – conta Alícia Giolo Hippólito, uma das veterinárias responsáveis pela operação dos tucanos.

Depois de tratadas as inflamações, era hora de devolver aos animais as partes que perderam de seus bicos. As veterinárias do CRAS fizeram moldes dos bicos dos tucanos em resina epóxi e, assim, prepararampróteses do tamanho e formato corretos em resina odontológica. Com esmalte, deram aos tucanos novos membros, de cores semelhantes ao verde natural da espécie.

- Não acreditamos que, se fossem devolvidos à natureza, estes tucanos seriam discriminados pelas próteses. Nossa preocupação com a cor foi somente para que os próprios animais se acostumassem mais rapidamente com o membro artificial, já que as aves tem visão muito apurada – explica Liliane Milanelo, coordenadora do centro de recuperação.

Agora, as aves passam por constante acompanhamento, já que as próteses precisam de manutenção regular, a cada dois ou três meses, ou emergencial, caso sejam danificadas. Portanto, os animais não poderão ser devolvidos à natureza e viverão em cativeiro.

Caminhos

De acordo com números oficiais da DAEE (Departamento de Água e Energia Elétrica), órgão sob responsabilidade da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo, o CRAS recebe uma média de 7 mil animais por ano.

Somente no ano passado, a coordenadora do centro disse que pouco mais de 10 mil animais deram entrada no espaço, que tem ambulatório, laboratório, viveiros, salas de internação, de cirurgia e de necropsia, além de uma cozinha para o preparo de alimentos para os animais.

Aves representam 84% dos animais recebidos pelo centro, mas as espécies variam de quatis a tartarugas e macacos. No fim de julho de 2015, o centro recebeu uma preguiça que havia sofrido um choque elétrico após ter encostado na fiação elétrica próxima a uma árvore, em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo. O animal foi avaliado, socorrido e devolvido à natureza.

Animais resgatados do tráfico de animais pelas polícias ambientais representam a principal parcela de entradas no CRAS. A Polícia Federal estima que traficantes brasileiros capturam cerca de 38 milhões de espécies por ano, constituindo um mercado negro que movimenta mais de R$ 3 bilhões, anualmente.

Cerca de 30% dos animais capturados são enviados ao exterior – Estados Unidos, China, Itália e Índia estão entre os principais destinos – e os outros 70%, geralmente retirados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, encontram compradores nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. É importante ressaltar que um grande número de animais morre no processo de captura e transporte precário.

Entregas voluntárias também correspondem a uma parcela considerável dos animais recebidos pelo CRAS.

- Algumas pessoas nos entregam os animais por não terem mais espaço em casa, porque os bichos tem uma vida longa, que ultrapassa gerações, ou porque descobrem que o que estão fazendo prejudica os animais – conta Liliane.

Ela explica que muitos compradores de animais traficados pensam que os bichos silvestres podem ser domesticados e tratados como animais de estimação:

- Isto é um ledo engano. Uma ave jamais pode se alimentar com coisas industrializadas ou processadas. Tem gente que dá leite para elas tomarem, sendo que aves nem digerem a bebida. São várias as agressões. Forçar um papagaio a falar, por exemplo, é uma humilhação à espécie – afirmou.

Fonte: Globo Rural



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