A colheita deste ano do Quintal Agroecológico da Dona Zilda dos Santos começou em setembro e promete ser muito farta agora com a chegada do período das chuvas. Moradora da Área de Preservação Ambiental (APA) Baía Negra, localizada em Ladário (MS), a pescadora comemora a fartura da colheita, que, segundo ela tem sido a fonte de renda para a família neste período de piracema:
“Plantei maxixe logo que as águas começaram a baixar e, com a primeira chuva, eles cresceram e garantiram uma ótima colheita bem na época em que ninguém tinha a variedade para comercializar. Paguei minhas contas de outubro e novembro com a venda do maxixe. Agora nosso quintal está repleto de abóbora de vários tipos, mandioca, cana, maxixe, quiabo, melancia, batata doce, entre outras variedades, já quase no ponto de colheita”, comemora Zilda.
O Quintal Agroecológico da Dona Zilda, é resultado de uma atividade do projeto “Sistemas Agroflorestais biodiversos”, que traz a produção de alimentos, geração de renda e recuperação ambiental. As ações são executadas através da Embrapa, junto com seus pesquisadores, que auxiliam os moradores nas técnicas de manter o projeto vivo. O objetivo do trabalho é promover a segurança alimentar dos moradores, através de um quintal agroflorestal suscessional, que atenda as restrições de uso de solo em uma Área de Preservação Ambiental, ao mesmo tempo que gera produtos úteis aos moradores.
Através da inciativa foi possível integrar espécies arbóreas e de lavoura em um mesmo espaço (sem de defensivos ou outros produtos químicos agrícolas), utilizando uma grande variedade de plantas para oferecer alternativas alimentares a uma população que sobrevive, tradicionalmente, por meio da pesca.
O Pesquisador da Embrapa Pantanal Alberto Feiden explica que a primeira Unidade Demonstrativa de um quintal agroflorestal agroecológico sucessional implantado na região da APA ocorreu em maio de 2016. Foi exatamente no lote da dona Zilda, e envolveu cerca de 40 espécies vegetais entre anuais, semiperenes e perenes. Isso incluindo os estratos herbáceo, arbustivo, de porte médio e arbóreo. Por questões climáticas adversas (seca extrema e depois enchente), boa parte das espécies foram perdidas e a equipe técnica considerou a unidade como perdida”, relata o pesquisador. Feiden continua “mas a comunidade não desistiu: a partir das espécies que sobrevieram e produziram, replicaram o sistema dentro da sua lógica de produção em diversos quintais”, explicou Alberto. A continuidade por parte da comunidade levou os pesquisadores a seguirem com o desenvolvimento de práticas e adaptações de culturas para o local.
O Pesquisador conta que foi realizada uma alteração na estratégia de ação: “teve início um intercâmbio de experiências e troca de sementes com os agricultores do Assentamento 72, também localizado no município de Ladário. Outra ação importante foi a caravana organizada com o apoio do SEBRAE. A caravana que levou seis agricultores da APA e vários outros agricultores de Corumbá a participar da Feira de Sementes Nativas e Crioulas e de Produtos Agroecológicos de Juti, ocorrida de 12 a 14 de julho de 2019. Na ocasião ocorreu a troca de experiências, sementes e de mudas entre agricultores de todas as regiões do estado”, concluiu Alberto.
Dona Zilda participou dessas trocas de experiências e esteve presente na Feira de Juti, de onde trouxe algumas sementes e mudas que hoje estão crescendo e dando frutos em seu quintal: “estou muito feliz por estar produzindo produtos de qualidade, sem uso de insumos químicos, ajudando assim a manter a área da APA e a natureza preservada e podendo ofertar alimentos sadios para os moradores locais e até mesmo para os turistas que visitam nossa região”, comentou Zilda.
Segundo a Chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pantanal, Catia Urbanetz, existem algumas restrições por ser uma Área de Proteção Ambiental, daí a importância do modelo de plantio de um sistema agroflorestal, trabalhando com as famílias. “Esse sistema imita uma floresta – tanto no espaço em que as plantas ocupam quanto no seu ciclo de vida. A nossa atuação serve para orientar os moradores a utilizar esse local de acordo com a lei e com os limites impostos pela legislação (de uma área como a APA Baía Negra). Mas com o uso sustentável dos pontos de vista social, econômico e ambiental, fazendo também com que a população obtenha segurança alimentar e alguma renda advinda do local, seja com o turismo ecológico ou com o fornecimento de alimentos exclusivos”, completou Catia.
Atuando em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e outros colaboradores junto ao “Núcleo de Agroecologia e Produção Orgânica do Pantanal” e o projeto “Estratégias para o desenvolvimento de soluções sustentáveis em comunidades ribeirinhas e assentamentos rurais do Pantanal “, a Embrapa Pantanal elabora junto aos moradores da APA Baía Negra o planejamento para as próximas ações do quintal agroecológico com base nas demandas da comunidade. Essas demandas incluem testes de armadilhas para as pragas identificadas até o momento, o desenvolvimento de boas práticas no manuseio de alimentos, a elaboração de um minhocário para os pescadores do grupo e uma possível produção de arroz nativo na região.
Fonte: Embrapa