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QUEBRA DE SÉRIE DE PRODUÇÃO

Após seis safras consecutivas de colheitas recordes, a produção brasileira de soja não deve crescer em 2016. Com 75% dos insumos importados, a alta do dólar – em R$ 3,10 – se tornou um desafio a mais aos produtores, que também contam com crédito mais caro e restrito neste ano. Para analistas, embora ainda haja chances de atingir os mesmos 96 milhões de toneladas previstos para este ano, a soja brasileira não deve seguir o mesmo ritmo de expansão de área plantada do passado.

- Em regiões do Mato Grosso, onde o preço da soja é mais baixo e a rentabilidade menor, pode haver, sim, redução de área plantada, especialmente, entre os produtores que não contam com área própria e têm custo mais elevado com o arrendamento – afirma o economista da consultoria Agro Security, Felipe Prince. 

Só neste ano, a soja passou a ocupar mais 1,7 milhão de hectares, atingindo 31,902 milhões de hectares. A grande dúvida em torno do grão está na combinação do baixo preço cotado na Bolsa de Chicago e o aumento dos custos dos insumos, em dólar. A perspectiva de produção recorde mundial de soja tem rebaixado o preço do produto. Com quase 100% da área colhida, assim como o Brasil, a Argentina deve produzir 57 milhões de toneladas. Já os Estados Unidos, maior produtor mundial, deve atingir os 104,780 milhões de toneladas, segundo dados do relatório do USDA, o Ministério da Agricultura dos Estados Unidos.

- A perspectiva de que as chuvas nos Estados Unidos tenham comprometido a produção já mexeu com os preços, elevando o valor da saca para R$ 71,50, em Paranaguá (PR). Patamar bom, mas que não deve se sustentar, pois guarda o efeito especulativo do anúncio do USDA. O fato de o real estar desvalorizado torna vantajoso o preço da soja, que há 15 dias era de R$ 66,80. Mas se olharmos o preço em Chicago, a soja está custando bem menos. Se por um lado os agricultores brasileiros se beneficiam do câmbio desvalorizado, por outro torna os custos de produção mais pesados, comprometendo o orçamento – diz Prince. 

Outro elemento tem tornado o caixa dos produtores ainda mais apertado, elevando os riscos de inadimplência: o pagamento da compra de maquinário. Incentivados pelas linhas de crédito com taxas de juros subsidiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tais como PSI-BK (Programa de Sustentação do investimento para Aquisição de Bens de Capital) e o PCA (Programa para Construção e Ampliação de Armazéns), os produtores adquiriram equipamentos que começarão a ser pagos neste ano.

- Os anos de 2012 e 2013 foram de vendas elevadas de tratores e colheitadeiras, efetivadas pelas linhas de crédito disponibilizadas pelo BNDES a taxas de 2,5% a 3% ao ano e carência de dois anos para o pagamento. Logo, quem comprou em 2013, o maior volume, vai começar a pagar as parcelas neste ano, num período em que plantar soja não garante uma lucratividade tão alta quanto no passado – explica Prince. 

Em 2013, a soja em Paranaguá (PR) era comercializada a R$ 69,70, e em Sorriso (MT) R$ 57,10. No entanto, Prince calcula que o custo com insumos era 40% menor. Para combinar o cenário pouco otimista, há o crédito mais caro e restrito. Embora o Plano Safra, cujos recursos começaram a ser liberados ontem, tenha tido um aumento de 20% no montante disponibilizado para a agricultura empresarial, saindo dos R$ 156 bilhões para R$ 187,7 bilhões, os juros estão mais altos.

Deste montante, R$ 147,5 bilhões estão reservados para o custeio de lavouras e comercialização da produção, sendo que R$ 94,5 bilhões serão liberados a juros controlados – 7,75% ao ano para produtores médios; 8,75% para grandes produtores. Já os outros R$ 53 bilhões estão disponíveis a juros livres, a ser decidido pelo banco.

- Num cenário contínuo de elevação da Selic, a tomada de empréstimo por parte dos agricultores fica ainda mais complicada – avalia a consultora da MB AGRO, Ana Menegatti.

- Embora o crédito mais caro ainda não esteja restringindo o plantio da safra 15/16, é preciso considerar que, com margens menores ao produtor, não teremos o mesmo dinamismo na produção, acompanhado em expansão de área – salienta Menegatti.

Fonte: Brasil Econômico



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