Os bloqueios na BR-163, no sudoeste do Pará, tornaram “inevitável” o cancelamento de exportações de grãos pelo porto de Barcarena, no mesmo Estado, enquanto a multinacional Bunge falou nesta quinta-feira em “prejuízos imensuráveis” em função dos protestos que ocorrem há dez dias na importante via do agronegócio.
A rodovia é a principal rota de escoamento da safra agrícola do médio-norte de Mato Grosso até o terminal fluvial de Miritituba, no Pará, de onde partem as barcaças carregadas com grãos para os demais portos do Arco Norte, em especial o de Barcarena.
De acordo com o gerente de Economia da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Amaral, as operações de carregamento de barcaças em Miritituba podem parar até sexta-feira (14), já que o fluxo de veículos vindos do Estado vizinho é praticamente nulo, e os estoques no terminal estão minguando. Consequentemente, o envio de produto para Barcarena também está comprometido.
- (Os cancelamentos em Barcarena) são inevitáveis. Os prejuízos já estão acontecendo e são elevadíssimos – afirmou Amaral à Reuters, acrescentando que esse cenário já independe de os bloqueios na BR-163 terminarem.
- O problema é a inércia que você tem no sistema, que não pode ter interrupções. Tem de organizar todo o fluxo rodoviário da região, o que leva uns três, quatro, cinco dias. Depois tem o problema de abastecimento do próprio porto. É necessário um fluxo de barcaças para isso – comentou.
As exportações pelos dois principais portos para grãos do Pará (Barcarena e Santarém) devem representar cerca de 10 por cento do total que exportadores do Brasil preveem embarcar em 2017. Interrupções nos embarques por ali devem levar as empresas a alterarem rotas para os portos do Sul/Sudeste, gerando custos adicionais.
De acordo com o gerente da Abiove, há relatos de que Barcarena dispõe, atualmente, de 120 mil toneladas de grãos estocados, volume suficiente para carregar dois navios por apenas mais uma semana.
Em relação aos demais portos do Arco Norte, Amaral explicou que a situação é menos delicada, pois esses dispõem de hidrovias alternativas ou mesmo de ferrovias, como é o caso de São Luís (MA).
Os protestos, realizados por agricultores, comerciantes, pecuaristas e madeireiros contrários a limites para exploração de uma reserva ambiental, preocupam companhias que fizeram pesados investimentos nos últimos anos nos portos do Norte, em uma tentativa de desafogar a logística de grãos, antes concentrada nos portos do Sul/Sudeste.
PREJUÍZOS
A Bunge Brasil, que possui instalações tanto em Miritituba quanto em Barcarena, lamentou a situação logística no Estado.
- Sendo a rodovia a única rota de acesso ao porto de Miritituba, seu bloqueio impacta significativamente toda a cadeia produtiva, inclusive a programação de embarques de grãos da empresa, podendo gerar prejuízos imensuráveis – disse a Bunge Brasil em nota.
- O que estamos observando na BR-163 é inaceitável e é essencial que o governo resolva o quanto antes – destacou a multinacional do agronegócio.
Empresas já solicitaram que a Polícia Rodoviária Federal realize o desbloqueio da rodovia, uma ação que não vem sendo realizada adequadamente pelas autoridades, segundo a Associação de Terminais Portuários Privados (ATP).
A Reuters entrou em contato com tradings e empresas que têm atividades com grãos no Pará. A Hidrovias do Brasil, que opera barcaças, e a Cargill, que tem um terminal exportador em Santarém, por exemplo, manifestaram-se via ATP, da qual fazem parte.
Conforme essa entidade, o prejuízo pelos problemas logísticos em Miritituba já soma 150 milhões de reais desde o dia 3 de julho.
CUSTOS
Já a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais calcula em 1,5 milhão de reais as perdas diárias por causa dos problemas no Pará.
- Ainda não se têm notícias de cancelamentos de contratos – afirmou o diretor-geral da entidade, Sérgio Mendes, lembrando que Miritituba pode enviar 30 mil toneladas de grãos em direção a Barcarena e Santarém.
A entidade estima as exportações por Barcarena em 2017 em 5,1 milhão de toneladas e, por Santarém, em 3,6 milhões de toneladas.
Conforme ele, o remanejamento dos envios de cargas de Mato Grosso para os portos do Sul e do Sudeste é mais custoso.
- Custa 50 reais a mais, por tonelada, mandar os grãos para Santos (SP) ou Paranaguá (PR), que são portos muito mais distantes – concluiu.
Segundo o presidente do sindicato rural de Vera, em Mato Grosso, Vidimar Siliprandi, os bloqueios na BR-163 já afetam o custo do frete ao produtor da região.
- Estava entre 10 e 12 reais por saca de milho. Nesta semana foi a 15 reais. O produtor acaba pagando, pois ele prometeu entregar a mercadoria – disse à Reuters.
Fonte: Reuters