Nas cooperativas do Paraná, uma das maiores forças econômica do estado, é época de balanço, de prestar contas e discutir o futuro. Nas últimas semanas, as assembleias gerais, ferramenta mais democrática à tomada de decisão no sistema, reúnem milhares de pessoas, ou melhor, de cooperados. E a cada encontro, uma nova surpresa, que vai do aumento na receita ao anúncio de novos investimentos. Ainda no final de 2016, a Ocepar, a Organização das Cooperativas do Paraná, antecipou que, mesmo diante das adversidades políticas e econômicas que castigam o país, o sistema fecharia o ano com faturamento próximo de R$ 70 bilhões, crescimento de 17% em relação ao ano anterior.
Um resultado extraordinário e na contramão da economia nacional, que amarga um Produto Interno Bruto (PIB) negativo, acima dos 3,5%. Em um estado onde é visto como excelência, as cooperativas não apenas resistem como fazem frente à recessão. Mais do que isso, exibem um modelo alternativo e mais sustentável de negócio. Não apenas sob o olhar do agronegócio, segmento onde está mais presente, como do ponto de vista do associativismo, onde todos, sem distinção, comungam dos mesmos ideais, princípios e valores. Fazem parte de um negócio que não tem um dono. Mas onde todos são donos. Esse, aliás, talvez seja o maior dos segredos: o sucesso individual pelo esforço coletivo.
Contudo, resistir à recessão não significa ficar imune aos efeitos colaterais perversos de uma economia hostil. Ao mesmo tempo em que aumenta receita, o cooperativismo paga um preço mais alto para manter-se no jogo. O lucro líquido encolhe e é preciso se virar nos trinta para continuar investindo e não perder a competitividade. Questões de natureza tributária e de logística, por exemplo, encolhem as margens e desafiam o sistema, no campo e no mercado. Ficou mais caro produzir, processar e comercializar. A crise, porém, também traz oportunidades. E se tem alguém preparado para essas oportunidades, são as cooperativas.
Da conquista de novos mercados internacionais, à forte presença no varejo, o sistema se renova e seque considera a hipótese de queda no faturamento por conta da crise. Ao contrário, quer faturar R$ 100 bilhões. Uma meta que não é para daqui a dez anos, mas para os próximos cinco anos. E são não é possível fazer sozinho, vamos fazer juntos. Projetos de intercooperação promovem uma nova onda agroindustrial no sistema e no estado. Cooperativas se unem para erguer indústrias, como de carnes, grãos e lácteos. É uma maneira de agregar valor e garantir escala. A sociedade reduz custo e risco do novo negócio, com mais segurança à base da produção, ou a quem produz.
A título de análise e comparação, na semana passada, duas notícias chamaram a atenção pelo contraste que estabelecem no mercado agro. De um lado a cooperativa C.Vale, com sede em Palotina, Oeste do Paraná, confirmou faturamento recorde em 2016 e anunciou a abertura de mais de 1 mil novas vagas de trabalho para 2017. Enquanto do outro lado, um dia depois, a empresa multinacional de origem brasileira JBS comunicava o fechamento de mais um frigorífico no Brasil. Serão quatro unidades do grupo que encerram suas atividades em diferentes estados e colocam em na berlinda mais 1,4 mil empregos. A JBS não é cooperativa.
É a gangorra da economia, da gestão e da sustentabilidade. Do um negócio cada vez mais globalizado e que exige mais preparo, no caso do Paraná, mais união e cooperativismo. Se o agronegócio é nossa vocação, o cooperativismo não é mais opção, mas condição ao desenvolvimento do estado.
Gigantes do setor
As duas maiores cooperativas do Paraná faturaram juntas no ano passado R$ 17,5 bilhões e distribuem quase R$ 130 milhões em sobras aos seus cooperados. A Coamo, com R$ 10,7 bilhões e a C.Vale com R$ 6,8 bilhões representam 25% da receita total do sistema cooperativo no estado.
As duas gigantes do cooperativismo e do agronegócio paranaense e nacional atuam no setor grãos, carnes e derivados. O terceiro maior faturamento vem da Lar, de Medianeira, Oeste do Paraná, com R$ 4,8 bilhões. Bastante expressivo, mas R$ 2 bilhões a menos que a segunda posição do ranking.
Não são R$ 2 milhões, R$ 20 milhões ou R$ 200 milhões. Eu não escrevi errado e você não está lendo errado. São R$ 2 bilhões do segundo para o terceiro lugar no ranking. Esses são os números, essas são as cooperativas, essa é a economia do Paraná.
Fonte: Gazeta do Povo