O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está finalizando um programa de investimentos logísticos que reúne as 30 obras prioritárias, capazes de gerar, com poucas intervenções, os impactos mais significativos para a competitividade do agronegócio nacional. O plano, que já está sendo debatido com o Ministério dos Transportes, deverá ser apresentado ao presidente Michel Temer em dois meses, informa Eumar Novacki, secretário-executivo do Mapa.
No momento, os grupos de trabalho dos dois ministérios estão empenhados em classificar as obras entre as que apresentam potencial para atrair investimentos privados, as que demandam uma estrutura de Parceria Público-Privada (PPP) e aquelas que são dependentes do aporte financeiro do Estado. A expectativa no Mapa é que os projetos de interesse privado possam ser licitados em 2018. “Vamos apresentar os projetos com sua lógica de viabilidade econômica, o que deve atrair o investidor”, diz Novacki.
O programa inclui projetos de média e longa maturação em todos os modais logísticos. As obras prioritárias, segundo Novacki, foram escolhidas com base em dados sobre produção e corredores de escoamento da safra elaborados pela Embrapa Monitoramento por Satélite. “Adotamos critérios científicos, deixando de lado a subjetividade do interesse político”, diz o secretário.
Evaristo de Miranda, chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, diz que foi desenvolvido um Sistema de Inteligência Territorial Estratégica (Site) com o objetivo de apresentar uma visão integrada sobre a macrologística do agronegócio. Foram estruturados bancos de dados geocodificados sobre produção, os fluxos de origem e destino da safra no território nacional até os portos de exportação e a retrologística dos insumos, além de detectar o avanço geográfico das novas fronteiras agrícolas. “Sabemos com antecedência os percursos que serão percorridos no escoamento da safra e os potenciais gargalos”, diz.
Segundo Miranda, a adequação da logística de escoamento tem potencial de agregar 32% de competitividade à produção nacional de grãos. “É mais do que o dobro de toda a agregação de valor que as tecnologias modernas de produção geram ao produtor rural, estimada em 12%”, afirma.
Luiz Antônio Fayet, consultor logístico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), diz que as péssimas condições logísticas do país inibem investimentos na expansão da safra agrícola, principalmente nas regiões Centro-Oeste e do chamado Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). “Poderíamos somar mais de cinco milhões de toneladas a cada safra de grãos, se os produtores contassem com uma logística de escoamento adequada”, diz.
Segundo Fayet, entre os três grandes produtores de grãos do mundo, EUA, Brasil e Argentina, apenas o Brasil tem terra e capacidade de expandir a oferta de soja e milho. “Temos tecnologia, somos competitivos, mas perdemos lucratividade por conta do custo logístico”, afirma.
Levantamento da CNA aponta que o custo médio de transporte da safra de grãos entre a lavoura e o porto no Brasil é de US$ 92 por tonelada, enquanto nos EUA é US$ 23 e na Argentina, US$ 20. O produtor do Mato Grosso, porém, paga US$ 126 por tonelada para levar seus produtos aos portos de Santos e Paranaguá, enquanto poderia gastar US$ 80 por tonelada, se tivesse as condições adequadas para exportar pelos portos do Pará. “Os produtores do Mato Grosso perdem US$ 1,2 bilhão por ano por conta da logística”, afirma.
Entre as prioridades detectadas pela Embrapa está a expansão da infraestrutura de transportes do chamado Arco Norte, o conjunto de corredores logísticos que une os polos produtores do Centro-Oeste e da região do Matopiba aos portos da região Norte e Maranhão. Oito dos 30 projetos que serão propostas pelo Mapa com base no banco de dados do Site privilegiam essas regiões agrícolas.
O Centro-Oeste concentra 42% da produção nacional de grãos, mas apenas 18,5% da safra é escoada pelos portos do Arco Norte, apesar de estes portos estarem mais próximos das regiões produtoras ao norte de Cuiabá (MT) e de mercados importantes como Europa, América do Norte e a rota do Canal do Panamá. “Parte significativa da soja viaja para o Sul de caminhão e volta ao Norte de navio, não faz sentido”, diz Miranda.
Segundo o diretor da Embrapa, melhorias em três corredores logísticos seriam suficientes para direcionar a produção do Centro-Oeste para o Norte. As obras são a pavimentação da ligação da BR 163 ao Porto de Miritituba, no Tapajós, em Itaituba (PA), trecho que vira um atoleiro intransitável na época de chuvas; a duplicação da BR 364 entre MT e Porto Velho (RO) acompanhada da dragagem do rio Madeira; e a pavimentação de 201 km da BR 080, permitindo a ligação de regiões produtoras de Mato Grosso e Goiás à Ferrovia Norte-Sul e ao Porto de Itaqui (MA).
Fonte: Canal do Produtor