Garantir comida melhor no prato dos agricultores, aumentando a diversidade e a qualidade das plantas cultivadas e abrir nova fonte de renda são objetivos do Quintais Orgânicos. Criado como parte do programa do governo federal Fome Zero pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Clima Temperado em 2004, o projeto promove, com doações de mudas, insumos para o preparo da terra e orientações para cultivo de orgânicos, a formação de hortas e pomares das famílias cultivadoras de fumo do Sul do país.
Em 2016, foi reconhecido e incluído na Plataforma de Boas Práticas para o Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Em seus 13 anos de existência, de 2004 a 2017, foram beneficiadas 64 mil pessoas – 3.356 agricultores assentados, 7.292 agricultores familiares, 41.083 alunos de escolas rurais, 2.641 indígenas, 894 quilombolas e 8.579 de instituições assistencialistas.
Os quintais foram implantados em 201 cidades, sendo 199 no Sul do Brasil e dois no Uruguai, com 384.985 árvores plantadas – 177.735 frutíferas e o restante de espécies chamadas de quebra-ventos.
Em dezembro de 2017, a Philip Morris passou a patrocinar o projeto. O Brasil, maior exportador de tabaco há 25 anos, é considerado país estratégico para a empresa, que tem aqui seu principal fornecedor mundial, por causa dos fumos considerados de alta qualidade.
A PM compra tabaco direta e indiretamente de cerca de 50 mil agricultores familiares. Na cidade de Santa Cruz do Sul (RS), a empresa produz desde a semente de tabaco até o produto final, comercializado no mercado interno e também exportado.
Base ecológica
O Quintais Orgânicos privilegia técnica e conceitualmente os princípios da produção de base ecológica. Para a composição dos quintais, são adotadas cinco plantas frutíferas dentro de um conjunto de 20 espécies, como pêssego, figo, laranja, amora-preta, cereja-do-rio-grande, araçá amarelo, araçá vermelho, goiaba, caqui, pitanga, romã, tangerina, limão, guabiju, araticum, uvaia, videira, jabuticaba, guabiroba e butiá, selecionadas em função de suas características nutricionais e funcionais.
Segundo o coordenador técnico do projeto na Embrapa, Fernando Rogério Costa Gomes, o Quintais Orgânicos foi se aprimorando com o tempo.
“A partir de 2018, além das espécies frutíferas, feijão, milho, três cultivares de batata doce e uma espécie forrageira, foram incluídas doze espécies de plantas medicinais, somando 38 produtos cultivados em cada Quintal”, diz.
“O objetivo é contribuir com a sustentabilidade social, econômica e ambiental de públicos em situação de vulnerabilidade e de risco social, econômico e alimentar, principalmente agricultores familiares, assentados da reforma agrária, comunidades indígenas, quilombolas, alunos de escolas rurais e urbanas e instituições assistencialistas”, diz.
No começou, o foco era a segurança alimentar – colocar fruta na mesa do agricultor. A promoção da saúde conectada com a proteção do meio ambiente foram ficando cada vez mais fortes.
“Hoje o projeto é encarado também como forma de transferir e disseminar tecnologia, voltada para a geração de renda”, afirma.
O produtor recebe um kit com materiais para corrigir a acidez do solo, biofertilizante natural, e toda a tecnologia do cultivo agroecológico, com o correto espaçamento de plantio, a adubação verde e o aproveitamento de resíduos como esterco para a compostagem.
Pequenas indústrias
Além de mudanças na composição das plantas, o projeto passou a servir também como incubadora para pequenas indústrias de processamento dos alimentos colhidos, como doces, sucos e sorvetes, tocados pelos pequenos proprietários.
Descendente de italianos, há 40 anos o agricultor Nilso Bozetto trabalha no cultivo de fumo, em seu lote de 25 hectares em Boqueirão do Leão, no município de Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Com um sócio, ele tem cerca de 60 mil pés, que dividem a terra com áreas destinadas ao reflorestamento, a um açude, e ao cultivo de milho, feijão e a horta. Em agosto, Bozetto aderiu ao projeto Quintal Orgânico, destinando cerca de 3 mil metros quadrados para isso.
“Meu maior prazer foi pensar em reconstituir o quintal do meu avô, resgatar as frutas que foram sumindo como uvaia, guavira, romã, cereja, amora, pêssego, figo”, diz.
Segundo a vice-presidente de Assuntos Corporativos para América Latina e Canadá da Philip Morris Internacional, Gabriela Wurcel, o objetivo do projeto é promover a diversificação da produção e a geração de renda extra aos participantes.
A empresa também apoia a educação no campo defendida pelas Escolas Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc) e Vale do Sol (Efasol), no Rio Grande do Sul, com financiamento de bolsas de estudo e investimentos em melhorias das instalações e condições de ensino. As escolas são importante auxílio para a difusão das tecnologias de combate às pragas e fertilização verde das culturas orgânicas.
Fonte: Gazeta do Povo