Com o aumento sazonal da produção,
aumento contínuo da inflação e perda da capacidade de compra por parte dos
consumidores, os preços dos produtos lácteos tiveram queda generalizada no
Paraná, ao longo de novembro. Principais produtos do mix de comercialização, o
muçarela e o leite UHT tiveram perdas significativas, voltando ao patamar de
preço em que estavam em maio, puxando para baixo o valor de referência do leite
– um indicador usado como parâmetro nas transações no atacado entre produtores
e industriais.
O cenário foi apresentado em reunião
do Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Paraná (Conseleite-PR),
realizado nesta terça-feira (23), de modo remoto. O colegiado aprovou valor de
referência projetado de R$ 1,7404 para o leite entregue em novembro a ser pago
em dezembro, o que representa uma queda de 6,7% em relação ao mês anterior.
Outubro já havia fechado em queda.
“O cenário é negativo, fundamentado
principalmente na sazonalidade da produção, que aumenta nessa época do ano, com
o retorno das chuvas e recuperação das pastagens. Por outro lado, temos o
mercado consumidor paralisado, frente à inflação. Com a oferta um pouco maior
que a demanda, a sinalização é de baixa”, disse o professor José Roberto
Canziani, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e um dos
responsáveis pelo levantamento.
O muçarela – que respondeu por 53,8%
do mix – vem sofrendo desvalorizações contínuas. Só na parcial de novembro –
até o dia 17 –, a queda foi 5,2%, derrubando o preço do produto a um nível um
pouco menor ao praticado em maio. Responsável por 17,9% das comercializações, o
UHT obedeceu a uma dinâmica parecida. O derivado vem de três quedas
consecutivas, a última delas, de 10,6%. No caso do queijo prato – terceiro
produto mais representativo no mix –, a desvalorização na parcial de novembro
foi de 6,9%.
Segundo o levantamento, dos 14
produtos pesquisados pelo Conseleite-PR, 13 apresentaram queda de preço em
novembro. Entre os derivados que registraram desvalorização expressiva estão o
creme de leite (7,9%), o leite em pó (6%) e a manteiga (5,3%). A exceção foi o
leite pasteurizado, que se manteve em estabilidade (leve alta de 0,3%).
Combinada à conjuntura econômica, a
queda deixa o setor apreensivo, principalmente em razão dos elevados custos de
produção da atividade. “É um momento difícil para todos os elos da cadeia: para
produtores, para indústria e para os consumidores. No nosso caso, o peso é
maior, em razão dos custos de produção que continuam em alta, por causa do
câmbio e de fatores externos”, resumiu o presidente do Conseleite-PR, Ronei
Volpi, que representa o Sistema FAEP/SENAR-PR no colegiado.
Comissão Técnica
O funcionamento do Conseleite-PR e outros conselhos com a mesma finalidade existente
em outros Estados foi o tema central da reunião da Comissão Técnica de
Bovinocultura de Leite da FAEP, por meio de videoconferência, também no dia 23.
O evento reuniu dezenas de produtores de diversas regiões produtoras do Estado,
que puderam conhecer mais profundamente o funcionamento do Conseleite-PR
e tirar dúvidas sobre como é composto o
preço de referência do leite pago ao produtor paranaense.
Mensalmente o Conseleite-PR divulga um valor de referência que pode ser adotado
para balizar as negociações entre produtores e laticínios. Esse valor é
calculado com base numa metodologia desenvolvida especialmente UFPR que considera
parâmetros de qualidade e volume do leite entregue aos laticínios e os preços de
comercialização no atacado de um mix de 14 tipos de produtos lácteos.
Uma das grandes
conquistas do Conseleite-PR foi trazer transparência para este processo, ao reunir – de maneira
paritária – representantes dos produtores rurais, por meio da FAEP; e da
indústria leiteira do Estado, representados pelo Sindileite-PR, e balizados
pela UFPR, instituição isenta, que media as discussões.
Outra conquista,
bastante prática para os produtores paranaenses é maior previsibilidade sobre o
pagamento, o que ajuda no planejamento da propriedade. Segundo um dos
responsáveis pelos trabalhos técnicos do Conseleite-PR, a professora da UFPR Vânia Guimarães, em 94% das
vezes o Conseleite consegue apontar uma tendência de mercado, seja de alta ou
de baixa.
Nesse momento em que
a pandemia do novo coronavírus imprime uma nova dinâmica no mercado de produtos
lácteos, o tema teve importância adicional. Segundo Volpi, as tensões entre
produtores e indústrias vem sendo sentidas em todo Brasil.
“Essa preocupação
que temos no Paraná é recorrente no país inteiro. Existe uma unanimidade, temos
que avançar na previsibilidade de preços. Saber pelo menos em parte, antes de
começar o mês, que preço vou receber pelo meu produto. É um esforço que
produtores e indústria temos que fazer. O varejo está acostumado a impor preços
de acordo com o que os consumidores estão buscando, temos que minimamente mudar
isso”, afirmou.
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Fonte: Sistema FAEP