Se o mercado internacional da soja vinha buscando recuperar-se depois da turbulência do início da semana, voltou a perder força nesta quarta-feira (8) e fechou o pregão na Bolsa de Chicago em campo negativo. Os contratos mais negociados terminaram o dia com perdas de pouco mais de 3 pontos e o contrato julho/19 voltando a atuar abaixo dos US$ 8,30 por bushel, ficando em US$ 8,27.
Se os preços recuaram na CBOT, no Brasil o destaque se deu para os prêmios, que subiram entre 20 e 25% nesta quarta-feira, com as principais posições de entrega variando entre 35 e 60 cents de dólar no terminal de Paranaguá. Nos melhores momentos do dia, até 70 centavos foram registrados.
E a tendência é de que os prêmios pagos pela soja brasileira sigam, de fato, se valorizando, e podem se mostrar ainda melhores no segundo semestre, como acredita o consultor de mercado Vlamir Brandalizze. A demanda está forte ainda pela soja do Brasil e a China, maior compradora mundial, segue focada no mercado brasileiro ao estar ainda em guerra comercial com os EUA.
“E os chineses já sinalizaram que agora o jogo vai ser mais duro”, diz Brandalizze, citando o últimos acontecimentos, que exerceram forte pressão sobre as cotações internacionais, e enquanto o conflito comercial perdurar, a demanda da nação asiática pela oleaginosa norte-americana continuará praticamente sem acontecer.
O vice-premier da China, Liu He, chega a Washignton para uma visita de dois dias de continuidade das negociações que poderiam dar fim à guerra comercial entre os dois países que já dura mais de um ano. A estada de He será mais curta do que o inicialmente planejado e uma coisa é certa: os chineses não farão mais concessões aos americanos.
No entanto, em seu Twitter, novamente o presidente americano Donald Trump se posicionou nesta quarta-feira (8), acusando a China de estar esperando para negociar com democratas depois das eleições do ano que vem.
A declaração do presidente americano veio na sequência de um anúncio oficial de Pequim que não há escolha para o governo da China a não ser responder a qualquer escalada tarifária imposta pelos EUA.
“O aumento das tensões comerciais, porém, não atende aos interesse nem ao povo dos dois países ou do mundo”, se posicionou o Ministério do Comércio da China nesta quarta-feira.
Ainda como explica o consultor, o Brasil já tem cerca de 60% de sua safra 2018/19 de soja comercializada e, deste total, cerca de 70% tem destino China. E nesta quarta-feira, dados da Administração Geral das Alfândegas do país asiático informou que suas importações da commodity, em abril, foram 10,7% maiores do que as do mesmo mês do ano passado.
As compras chinesas foram de 7,64 milhões de toneladas, contra 6,9 milhões de abril de 2018, e frente as 4,92 milhões de março, registrando, portanto, um aumento de 55% no mês.
O gráfico a seguir mostra dados da Administração Geral de Alfândegas da China e da Reuters, compilados pela especialista internacional Karen Braun, sobre as importações mensais de soja da China nos últimos seis anos.
A linha preta, que mostra 2019, confirma que nos primeiros meses deste ano, o volume já adquirido pelos chineses está ligeiramente abaixo de anos anteriores, neste meosmo período, no entanto, apresentando um aumento de mês a mês.
Importações de soja da China
No Brasil, com esse cenário, os negócios acontecem, mas ainda de forma pontual. “Estão todos ainda apreensivos e esperando pelo que vai acontecer. O produtor ainda está segurando suas vendas, enquanto os compradores deverão ficar mais agressivos por aqui. O que temos visto é o produtor vender de acordo com suas necessidades”, diz o consultor da Brandalizze Consulting.
Os indicativos nos portos se mostram ainda variando na casa de R$ 75,00 a R$ 76,00 – nos melhores momentos do dia -, por parte dos compradores, enquanto os vendendores mantém seu foco em pelo menos R$ 80,00 por saca.
“Nós não veremos uma corrida de venda por parte dos produtores”, explica Brandalizze.
O outro suporte que os preços da soja encontram no mercado brasileiro vêm do câmbio. Apesar da queda observada nesta quarta, o dólar ainda se mantém acima dos R$ 3,90, o que serve como um colchão para as cotações do produto nacional. Ontem, a divisa chegou a bater, mais uma vez, nos R$ 4,00 diante da cena política confusa no Brasil e das tensões entre China e EUA agravadas.
“E enquanto o câmbio se mantiver acima dos R$ 3,90, o risco é menor”, diz o consultor.
MERCADO INTERNACIONAL
As baixas em Chicago foram motivadas ainda pelas preocupações com a guerra comercial.
“Os traders estão monitorando qualquer novidades nas negociações, principalmente em como elas irão influenciar na demanda chinesa por produtos americanos”, explicam os analistas da consultoria internacional Allendale, Inc.
Ademais, os traders se ajustam – no meio da visita do vice-premier chinês Liu He a Washington entre quinta e sexta-feiras desta semana – à divulgação do novo boletim mensal de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Este reporte traz ainda as primeiras estimativas para a temporada 2019/20 e já provoca as especulações do mercado.
O que, por outro lado, limita essas baixas são as preocupações com o clima no Meio-Oeste americano. As chuvas excessivas e o frio ainda preocupam e mantêm os trabalhos de campo bastante atrasados nos EUA.
Fonte: Notícias Agrícolas