A seca trazida pelo El Niño levou temores para o campo. Até o início de janeiro era comum ouvir o pessimismo do setor quanto ao desenvolvimento da soja. No entanto, quase inesperada, a chuva veio. Ainda há uma parcela de produtores que amargará na quebra, mas para outros a safra deste verão é sinônimo de sucesso.Ao oeste do Mato Grosso, no município de Lucas do Rio Verde, os 1,5 mil hectares do produtor Leandro Hoffmann – literalmente – escaparam dos efeitos negativos do fenômeno climático. Na verdade, nunca colhi o que estou colhendo nesse ano , admite. Em voz baixa, para que o vizinho cuja produtividade não superou 16 sacas por hectare não o ouça, o agricultor revela que atingiu o resultado de 63 sacas por hectare neste ano. Em 2014/ 2015 eram apenas 49.
O ciclo anterior também foi atípico, porém, negativamente. A média histórica da fazenda gira em torno de 55 sacas por hectare. Nesse ano choveu na hora certa e o plantio ficou excelente. Sei que isso não aconteceu em todos os lugares. Vá a Sorriso, Sinop, é um caos , comenta o produtor.
Com praticamente toda a soja colhida, os mesmos 1,5 mil hectares deram lugar ao milho segunda safra, a safrinha, que já se tornava visível na lavoura. Esta é a segunda fonte de renda de Hoffmann, visto que a terceira é proveniente da granja, com capacidade para 1,150 milhão de aves por ciclo. O produto é fornecido para a BRF.
Também naquela cidade, o catarinense Nelson Pelle passou os últimos 30 anos apostando na agricultura do Mato Grosso – e comemora. Seus 850 hectares, entre área própria e arrendamento, hoje rendem 60 sacas por hectare. Seriam 64 se não tivéssemos sido pegos pela mosca branca , diz.
Nelson conta que em todos esses anos a melhoria de produtividade se deu pela intensificação do adubo no solo. Além disso, todas as sementes são tratadas e contêm tecnologia embarcada. A propriedade mantém dois silos, com capacidade para 54 mil e 80 mil sacas, respectivamente, que comportam toda a produção da fazenda. De lá, o grão já é beneficiado e sai pronto para as tradings ou até para a exportação, fica com quem faz o melhor preço .
É em função de produtores como os de Lucas do Rio Verde que a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja) classificou 2016 como o ano da diversidade . O presidente da entidade, Endrigo Dalcin, explica que se a falta de chuvas tivesse persistido no decorrer de janeiro, o resultado seria catastrófico. Como isso não ocorreu, ainda foi possível recuperar a soja tardia, plantada com atraso. Os maiores problemas ficaram com as regiões do meio norte, Sorriso, Araguaia, Ipiranga do Norte, mas o oeste e o sul mato-grossense puxam os indicadores para cima.
Dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), divulgados na última sexta-feira (26), indicam que a colheita chegou a 52,5% da área semeada, em linha com os 53,4% do mesmo período de 2014/2015. Na semana anterior eram 39,4%. A produtividade média ficou em 52,3 sacas por hectare, estável na variação anual. Porém, os especialistas do instituto destacam que, no oeste e sudeste, os resultados estão 1,3 e 4,5 sacas por hectare acima do obtido no ano passado.
Contudo, o Imea estima que a colheita do estado atinja 28,5 milhões de toneladas, um recorde. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) espera 27,45 milhões de toneladas, contra as 28 milhões da temporada anterior.
Mercado
Para o analista da consultoria AgRural, Adriano Gomes, as movimentações da safra brasileira não devem refletir diretamente nos indicadores da bolsa de Chicago. O mercado internacional já está precificado, com o consenso de recorde na América do Sul. Agora as atenções tendem a se voltar para as perspectivas das lavouras norte-americanas , avalia.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) cita, em um artigo deste mês, que o fenômeno El Niño pode ter impactos inflacionários para as commodities agrícolas. Ou seja, na leitura da entidade internacional, a alteração climática pode não ser um problema como parece, se visto como um motor de preços e regulador de demanda.
Na análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), enquanto vendedores limitam as vendas, apoiados na valorização do dólar e na comercialização antecipada da produção, compradores estão de olho na grande oferta que o Brasil deve ter nesta temporada e propõem valores menores .
Fonte: DCI
Fonte: Canal do Produtor