00maca03

PRODUTORES DE MAÇA PREJUDICADOS

Com o anúncio da erradicação da Cydia pomonella, o Governo brasileiro anunciou no mês de março, a suspensão da importação de maçãs, pêras e marmelos da Argentina, decisão tomada, à princípio, para proteger os agricultores brasileiros de uma possível volta da doença. Na época, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, afirmou.

- Na questão de defesa sanitária e controle de pragas e doenças, o Brasil não pode transigir. A tolerância será zero, independentemente do parceiro comercial – disse ele.

Menos de três meses depois do anúncio da suspensão, o Governo brasileiro revogou o embargo às frutas argentinas. Coincidentemente, no mesmo dia, a Argentina, após três anos, retirou o embargo à carne brasileira, que desde 2012 tinha a sua venda proibida no país vizinho, por causa da confirmação de um caso do mal da vaca louca em Mato Grosso. Embora o Brasil não seja exportador de carne para a Argentina, o Ministério da Agricultura avaliava que o embargo prejudicava a imagem da carne brasileira no exterior e comprometia oportunidade de negócios com outros países.

As suspensões foram vistas como uma troca de favores entre Brasil e Argentina, desagradando, principalmente os fruticultores brasileiros, sobretudo, do sul do país. Os produtores, através da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM) e outras entidades representativas deverão ingressar com representações contra o Governo brasileiro e contra a ministra da Agricultura e seus assessores. A informação é do presidente da Frutipar (Associação dos Fruticultores do Paraná) e diretor técnico de qualidade da ABPM, Ivanir Dalanhol.

Conforme ele, num caso único no mundo, após muito tempo, mão-de-obra e dinheiro público, o Brasil conseguiu a erradicação da Cydia pomonella. Após isso, já com o anúncio de que o país estava livre da doença, a ABPM iniciou ações para que o país fechasse as suas fronteiras para a entrada de frutas argentinas, para proteger a produção brasileira. O Governo levou um ano para atender os pedidos dos produtores.

Revelou que mesmo durante o período de embargo, o Ministério da Agricultura autorizou a entrada de 50 cargas de maçãs da Argentina. Dessas, 28 cargas continham frutas com larvas da Cydia pomonella vivas.

- Ou seja, não adiantou nada! – declara Dalanhol.

Após isso, veio a liberação total e a entrada de qualquer fruta argentina em solo brasileiro.

- Num canetaço, liberou tudo e facilitou de uma forma tão grande, que nós não conseguimos entender o quê o Ministério da Agricultura está querendo com isso. Parece até que está jogando contra o produtor de fruta do Brasil – dispara.

Informou que as entidades estudam o ingresso das representações, pois questionam a veracidade das promessas do Governo argentino em mitigar a Cydia pomonella. De acordo com o Ministério da Agricultura, foi solicitado à Argentina, a reavaliação in loco do planejamento de contingência e mitigação de riscos para a praga, o que foi atendido pelo país vizinho.

- Nós sabemos que é mentira! Na última safra a Argentina deveria colher 900 mil toneladas de maçã, quase 1 milhão. Colheu 600 mil. As outras 300 mil ficaram nas plantas, criando Cydia pomonella – acusa Dalanhol.

A estimativa do setor é de que, no máximo, em três anos, a doença estará novamente nos pomares brasileiros, atacando as frutas e aumentando os custos de produção para o controle da praga. Dalanhol rechaçou as justificativas da ministra Kátia Abreu, de que o embargo da carne brasileira por parte da Argentina, manchava a imagem do país em outros mercados.

- Eu quero saber o quanto que a Argentina compra de carne brasileira. Eles produzem um gado de primeira linha, com uma carne que dá um banho de sabor e qualidade na carne brasileira. A ministra falou que fica chato um país vizinho fechar a fronteira e a gente exportar para outros países. Isso é uma bobagem! Uma bobagem tão grande, que não podemos admitir que um país do tamanho da Argentina, mande no Brasil, porque é isso que eles estão fazendo, mandando no Brasil! – critica, apontando para o risco da entrada de frutas contaminadas de também de outros países, como a Itália, França e Espanha.

Como diretor-técnico da ABPM, Dalanhol também atua junto à Frente Parlamentar da Agricultura, na Câmara dos Deputados, como representante da fruticultura. Informou que deverá participar de uma reunião junto aos deputados para também buscar apoio e encontrar uma solução para o impasse. No entanto, não demonstra muita confiança sobre a atuação dos parlamentares sobre o assunto.

- Parece que os deputados entraram nesse jogo da ministra, de liberar a carne. Quando nós conversamos (com os parlamentares) ficou um clima de incerteza. Não sei se teremos muita força dentro da Frente Parlamentar da Agricultura nesse momento – finalizou.

Fonte: RBJ



avatar

Envie suas sugestões de reportagens, fotos e vídeos de sua região. Aqui o produtor faz parte da notícia e sua experiência prática é compartilhada.


Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.