<P>Passados 10 anos da euforia do eucalipto no Rio Grande do Sul, provocado pelo anúncio de três megaprojetos de indústrias de celulose, produtores incentivados a investir na silvicultura estão agora diante de um impasse: continuar ou não apostando no sonho abalado pela desistência de duas empresas. </P> <P>Mesmo com o recuo da Votorantim Celulose e Papel e da Stora Enso, agricultores ainda demonstram vontade de seguir plantando florestas, motivados pela esperança de novos negócios e dos altos rendimentos da produção — cada vez mais integrada à criação de gado.</P> <P> <STRONG>Leia as últimas notícias do Campo e Lavoura</STRONG> </P> <P>No Sul e na Campanha gaúcha, 229 produtores que assinaram contratos com a Votorantim entre 2005 e 2008, assumidos mais tarde pela Fibria (resultado da fusão da Votorantim com a Aracruz), começaram neste ano a ver os eucaliptos serem cortados pela empresa.</P> <P>A partir de 2012, quando completou sete anos do primeiro ciclo do programa Poupança Florestal, a indústria pagou 75% do valor equivalente ao rendimento da madeira e pediu mais três anos para quitar o restante e iniciar a extração em 13,6 mil hectares cultivados. Os eucaliptos são levados ao porto Rio Grande e embarcados em navios de cabotagem com destino ao Espírito Santo — onde a Fibria tem uma fábrica de celulose em Barra do Riacho (ES), a 70 quilômetros da capital Vitória.</P> <P>— Mais da metade dos produtores da região mostra disposição de continuar na atividade. Mas hoje existem outros fatores que não existiam em 2005, como a valorização da soja e da pecuária — afirma o agrônomo Evair Ehlert, assistente técnico da Emater na região de Pelotas. </P> <P><STRONG>Criação de polos para incentivar a produção</STRONG></P> <P> Com 150 hectares de floresta cultivada em São Lourenço do Sul, o produtor Luiz Fernando Krolow, 50 anos, teve as árvores cortadas pela Fibria há pouco mais de três meses. </P> <P>— O rendimento foi bem acima do esperado. Passou de 400 metros cúbicos por hectare — diz Krolow, que cultiva soja e cria gado em outros 1,2 mil hectares.</P> <P>Para alguns produtores, no entanto, a incerteza sobre o mercado de madeira no Estado é desencorajadora. Após plantar 24 hectares de eucalipto no interior de Pelotas, Nedi Tietz e Luciano Tietz, pai e filho, ainda não sabem o destino que darão à propriedade, que terá a madeira extraída pela Fibria em 2016.</P> <P>— Nosso desejo, hoje, é seguir. Mas também não queremos passar por toda aquela incerteza de novo — diz Nedi, referindo-se ao período em que a Votorantim recuou do investimento na Metade Sul, após a crise financeira em 2008, e redirecionou o investimento para Três Lagoas (MS).</P> <P> A insegurança é contrabalanceada com o lucro trazido pelo eucalipto à propriedade, que tem outros 10 hectares para criação de 20 fêmeas da raça angus.</P> <P>— Até agora, o negócio foi bom. A frustração é por não ter segurança de investir novamente — explica Luciano, mencionando a ausência de indústrias do setor na Região Sul.</P> <P>A única indústria de celulose do Estado, a CMPC Celulose Riograndense, que assumiu os projetos da Aracruz, está instalada em Guaíba, na Região Metropolitana. O polo moveleiro gaúcho, o maior do país e que consome boa parte da madeira produzida no Estado, concentra-se na Serra.</P> <P>Diretor da Pöyry na América Latina, consultoria especializada em gestão para indústria florestal, Jefferson Mendes defende a formação de polos florestais e vislumbra a possibilidade de pelo menos três clusters industriais: na Campanha, no Sul e na Serra. Se o setor não for induzido, avalia, a tendência é de redução nas áreas de plantio.</P><BR> <P>— O Estado precisa incentivar a formação de polos florestais, com concentração de matéria-prima, indústrias e serviços próximos.</P> <P>Para João Fernando Borges, presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), é preciso criar condições para atrair investimentos da indústria, com processos de licenciamentos ambientais mais ágeis, a exemplo de Estados como Mato Grosso do Sul, que incentivou a produção florestal nos últimos anos e ampliou a base industrial de celulose.</P> <P>— O Rio Grande do Sul é um dos Estados mais competitivos em rendimento das florestas, por questões climáticas, além de ter uma logística privilegiada para exportação.</P> <P><STRONG>Investimento como impulso para avançar</STRONG></P> <P>Ao concretizar o maior investimento privado no Estado, com o desembolso de mais de R$ 5 bilhões, a chilena CMPC Celulose Riograndense renovou as esperanças de produtores desacreditados no setor florestal. A ampliação da fábrica da antiga Aracruz, concluída em maio deste ano, em Guaíba, quadruplicou a capacidade a produção anual de celulose, chegando a 1,8 milhão de toneladas.</P> <P>Executado durante dois anos e meio, o investimento ampliará a necessidade de matéria-prima. Com 166 mil hectares de área plantada com floresta no Estado, a Celulose Riograndense tem apenas 20 mil hectares arrendados ou cultivados em parceria.</P> <P>Hoje, a empresa recebe madeira diariamente de 59 municípios gaúchos, especialmente da Costa Doce da Lagoa dos Patos e das regiões Carbonífera e Central. Até a metade de 2016, passará a buscar eucaliptos também no Sul e na Campanha, que ficaram órfãs de indústrias de celulose após a desistência dos projetos da Stora Enso e da Votorantim.</P> <P>— Nossa operação será constante nessas regiões. Não fosse o impedimento legal, já teríamos instalado uma fábrica de celulose no sul do Estado — afirma Walter Lídio Nunes, presidente da Celulose Riograndense, que assumiu os projetos da Aracruz no Estado.</P> <P> O executivo refere-se à restrição imposta pela legislação brasileira para aquisição de terras no país por empresas nacionais com capital estrangeiro. O mesmo entrave afastou a Stora Enso da Fronteira Oeste, que acabou concentrando os projetos de celulose no Uruguai, onde as papeleiras estão sob as asas do governo.</P> <P><STRONG>Preço em dólar traz melhores perspectivas</STRONG></P> <P>Com 90% da produção de celulose destinada ao Exterior, a Celulose Riograndense ampliou a produção no ano em que o dólar bateu os R$ 4 no câmbio brasileiro. Quando operar a pleno, já no começo de 2016, a fábrica poderá faturar US$ 1,2 bilhão por ano, levando em conta o preço da celulose no mercado internacional — US$ 700 a tonelada.</P> <P>— Mesmo quando vendemos para o mercado nacional, nosso faturamento é em dólar. A celulose tem relação direta com o câmbio — destaca Nunes, frisando o bom momento vivido pelo setor diante da valorização da moeda americana frente ao real.</P>
Fonte: Campo e Lavoura
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Redação
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