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Produtor aposta na exportação de gado vivo como alternativa para diversificar negócios no PR

O Paraná é uma referência internacional em várias atividades agrícolas, mas na bovinocultura ocupa um papel tímido em relação a outros Estados brasileiros. Mesmo assim, um produtor de Jataizinho, no Norte, comprovou que o território paranaense pode entrar firme em uma atividade que até então desconhecida da maioria dos pecuaristas locais. Trata-se da exportação de bovinos vivos (ver números no Boletim Informativo). Cumprindo-se corretamente as exigências legais, José Soares Cardoso Neto conta que é possível diversificar compradores, garantir estabilidade de contratos e ter uma lucratividade interessante e em dólar.

O local que Neto preparou para ser o ponto de partida do gado vivo ao exterior fica em Jataizinho, no Norte do Paraná. A Fazenda São José possui 1,6 mil hectares, sendo 960 destinados à agricultura. A função principal da área cultivada é a produção de alimentos para os próprios bovinos. Dentro dessa propriedade, apenas cerca de 10 hectares abrigam a parte destinada ao manejo com os animais. O confinamento, como conta o produtor, tem capacidade para 6 mil bezerros ou 4 mil bois gordos.

O pecuarista conseguiu mandar a primeira carga, de 3.780 cabeças, em julho de 2019, para a Turquia. A operação foi realizada em uma parceria com a empresa italiana Euro. A princípio, esse embarque seria realizado via Terminal Portuário Ponta do Félix (TPPF), em Antonina, no Litoral do Paraná. Devido a uma ação do Ministério Público do Paraná (MP-PR), no entanto, houve a necessidade de realocação do embarque para o terminal de São Sebastião, em São Paulo. A estimativa é que a mudança tenha causado custos extras na casa de R$ 1 milhão.

Neto relata que essa situação afastou do Brasil a empresa italiana parceira nesse embarque. A companhia europeia já tinha sinalizado a intenção de firmar vários outros contratos. O pecuarista, no entanto, compartilha que a lucratividade no envio de gado ao exterior é interessante. Isso, então, motivou-o a abrir uma exportadora para ele mesmo operar o negócio. “Cada navio que eu perdi com esse impasse representa uma perda de um lucro de aproximadamente R$ 800 mil. Por isso, abri minha exportadora, chamada FMC 73. Já estou com contratos encaminhados para 2020 e para os próximos anos”, compartilha o produtor.

Para se ter ideia do impacto desse negócio na economia local, Neto lembra que para fazer o embarque dos animais, em julho, foram envolvidos, logo de cara, um total de 60 produtores rurais, que forneceram bovinos a ele para preparar o embarque. Além disso, 250 caminhões e seus respectivos motoristas precisaram ser contratados. Diretamente, trabalharam 50 funcionários, 12 veterinários, 20 técnicos de laboratório e 20 agentes portuários. “Conseguimos fazer todo o embarque das 18 horas até às 12 horas do dia seguinte (18 horas no total), o que é um ótimo resultado. Mas para as próximas vou fazer alguns ajustes e devo melhorar em ao menos quatro horas esse tempo”, projeta.

Processo de exportação

A Fazenda São
José é um local diferenciado, afinal tem todas as licenças e autorizações para
ser o que se denomina Estabelecimento de Pré-Embarque (EPE). É o único local no
Paraná que possui essa possibilidade, obtida a partir do cumprimento de várias
exigências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
“Quando está ativo, o EPE se torna um espaço federativo, ou seja, da União.
Então há vários procedimentos para serem cumpridos, como entrada controlada,
necessidade de os veículos passarem pelo arco de desinfecção, piquete de
isolamento, escritório para técnicos agropecuários do Mapa. Enfim, diversas
exigências que aqui são todas cumpridas”, compartilha Marcos Penha Garcia,
médico veterinário que trabalha na propriedade.

O processo de
exportação cumpre, basicamente, cinco passos. Primeiro, é fechado o contrato em
si, que define que tipo de animais o comprador quer, em geral cerca de dois
meses antes do embarque. Depois disso, é preciso que o exportador defina os
bovinos que vão atender a esse pedido, seja de rebanho próprio ou adquiridos de
outros pecuaristas. Definido o rebanho a ser enviado, é preciso que os animais
destinados ao embarque fiquem em quarentena no EPE, por pelo menos 21 dias.
Depois disso, então, o gado é levado em caminhões ao porto e, em sequência, em
navios, ambos os meios de transporte equipados com mecanismos que garantem integridade
física, sanidade e bem-estar animal. A viagem de navio costuma durar de 16 a 21
dias até a entrega.

Negócio tem futuro?

O presidente
da Associação Brasileira de Exportadores de Animais Vivos (Abreav), Ricardo
Barbosa, projeta que enviar bovinos ao exterior é um caminho sem volta. “O
mercado internacional de gado vivo existe há 50 anos, o Brasil é um dos players
do negócio que é diferente do mercado da carne. Carne e boi vivo não são
conflitantes porque a economia da exportação de gado vivo é inelástica, o
comprador vai comprar independentemente do preço”, defende.

Entrar nesse
mercado, como comenta Barbosa, não é algo tão simples. Mas, segundo ele, é um
esforço que vale a pena. “O principal conselho que dou a quem quer entrar na
atividade é que o produtor contrate um profissional especializado para poder
ajudar na estruturação da fazenda e na administração e gerenciamento adequado
da documentação. Não é simples. É difícil você ter a certificação do Mapa.
Então se o produtor for bem orientado, a chance de ele ganhar dinheiro na
atividade é maior”, recomenda.

Impasse na exportação via Antonina

O embarque da
carga saindo do EPE de Jataizinho, em julho, estava programado para ocorrer em
Antonina, no Litoral do Paraná. No entanto, após uma recomendação da 2ª
Promotoria de Justiça de Antonina e o Núcleo de Paranaguá e do Grupo de Atuação
Especializada em Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo (Gaema), na época, o
embarque ficou suspenso. Como havia necessidade de embarcar logo os animais,
pois os caminhões já estavam na fazenda esperando o procedimento, uma medida de
emergência foi tomada e a carga deslocada para o Terminal de São Sebastião, no
interior de São Paulo.

O MP-PR, via
assessoria de imprensa, informou que a recomendação do Gaema e da Promotoria de
Justiça diz respeito especificamente sobre à situação do Porto de Antonina e
enviou o documento na qual consta essa recomendação. O material traz
ponderações ao longo do texto sobre a operação de embarque e finaliza com uma
recomendação especificamente a funcionários do Instituto Ambiental do Paraná
(IAP) no sentido de anulação de autorização da exportação de gado vivo pelo
local.

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP), responsável por emitir a autorização ambiental para a operação do embarque de gado vivo no Terminal de Ponta do Félix, informou que “na Licença de Operação (LO) do Porto de Antonina não consta a atividade de embarcação de carga viva.” Conforme o instituto, “seria necessário o Porto entrar com um pedido de Licença Prévia de Ampliação, contendo em seu escopo essa atividade de carga viva.”

O IAP é responsável por avaliar a questão ambiental, ou seja, os aspectos de controle de poluição dos resíduos gerados, na qual geram impacto de nível baixo. “O embarque de gado vivo é possível quando essa atividade consta na LO do Porto. É necessário também a solicitação de Autorização Ambiental, por parte do responsável pela carga, para destinação final dos resíduos gerados pelos animais”, informou o órgão.

A assessoria
de imprensa do Terminal Ponta do Félix, por sua vez, informou que o embarque de
gado vivo está no escopo de serviços prestados pelo local. Em termos de
estrutura, ainda segundo a assessoria, há condições de realizar a operação
dentro de todas as normas e exigências previstas, inclusive com a anuência dos
respectivos órgãos responsáveis pela regulamentação da área.

Mercado crescente

A Turquia é o país que mais importa gado vivo do Brasil (ver números no Boletim Informativo). Nesta entrevista, Luiz Alberto Cesar, cônsul da Turquia na região Sul do Brasil, conta como os produtores paranaenses e de outros Estados podem se beneficiar desse filão.

Qual sua contribuição no envio de gado vivo
do Brasil para a Turquia?

O meu papel
como cônsul é fomentar as relações bilaterais entre Brasil e Turquia. Iniciei
mostrando que essa é uma demanda recorrente e falando para que os produtores se
atentassem a isso. A maior parte dos produtores era preconceituosa com esse
tema, tinha dúvidas sobre se é seguro e se pagam bem.

E é seguro?

Sem dúvida,
são grandes empresas que compram e inclusive pagam parte adiantado. Tem
recorrência e um valor sempre atrelado ao dólar.

Por que a Turquia prefere o gado vivo?

São alguns
motivos, mas o principal é que o país não consegue ter capacidade de criação,
mas tem a necessidade consumo. Além disso, a Turquia tem a maior parte da
população islâmica, ou seja, o abate deve seguir o método Halal. Outra coisa é
que quando começaram a comprar animais vivos, eles perceberam mais um negócio e
uma oportunidade de manter os frigoríficos do país em atividade.

Há uma certa visão negativa sobre a viagem
dos animais. Como isso funciona?

Já vivemos
uma época em que não tínhamos controle dessa parte, mas isso é página virada.
Hoje, posso afirmar que o cuidado em si com os animais nos navios é quase que
um “cruzeiro”. Há uma estrutura e protocolos pensados para não ter nenhum
problema mesmo. É feito tudo com muito cuidado.

É possível que outros produtores se
interessem em entrar no ramo. Existe demanda para mais pessoas ganharem
dinheiro com isso?

Existe e é crescente. Para quem quer entrar nesse negócio, recomendo focar na qualidade do produto acima de qualquer coisa e estudar muito, pois o mundo hoje é interconectado. As vezes o produtor foca no próprio território e não percebe que a produção dele pode ser muito lucrativa também para o exterior. Basta abrir os olhos para o mundo.

Confira os gráficos e mais informações no site do Sistema FAEP/SENAR-PR

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Fonte: Sistema FAEP



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