Associado ao crescimento do consumo de cafés de melhor qualidade, o Brasil observa uma intensificação da produção de grãos especiais arábica para além das tradicionais regiões cafeeiras de Minas Gerais, estado dominante no setor no maior produtor e exportador global da commodity.
“Antes se falava muito dos cafés da Mantiqueira, mas vemos agora cafés incríveis em outras regiões, no Norte Pioneiro do Paraná, Mogiana Paulista, Cerrado, região do café mais caro do mundo no Cup of Excellence”, disse a presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Carmem Lucia Chaves de Brito.
Participando de evento que escolheu alguns dos melhores cafés do Brasil, na quinta-feira (12), ela disse à Reuters que a produção brasileira de arábicas especiais deve crescer este ano na esteira da safra recorde, fruto de investimentos e novas técnicas agrícolas, mas também porque muitos cafeicultores estão se voltando para a produção do grão que tem maior valor agregado, em busca de melhores lucros.
“No passado, era em torno de 5 milhões de sacas (a produção de cafés especiais do Brasil). Mas a gente acredita que é muito mais do que isso”, comentou ela, produtora em Três Pontas, no Sul de Minas Gerais, região que congrega grande parte da produção da melhor bebida do País.
Carmem Lucia ressaltou também entre as áreas de expansão na produção de cafés especiais a Serra do Caparaó, entre o Espírito Santo e Minas Gerais.
Mais opções
Ainda que os cafés especiais representem uma parcela menor das cerca de 60 milhões de sacas que o Brasil espera colher em 2018, a presidente da BSCA ressaltou que está crescente a oferta de produtos mais finos de outras regiões produtoras que não as de Minas Gerais, o que dá mais opções para compradores que precisam buscar tal produto em diversos países para formar o melhor “blend”.
“O Brasil cultiva cafés com características sensoriais e atributos diferenciados em todas as regiões. O comprador, em geral, tem que ir para outros países para comprar cafés com atributos sensoriais diferentes. No Brasil, ele pode encontrar produtos com todas essas características”, salientou Carmem Lucia.
O resultado do 27º concurso de cafés especiais da torrefadora italiana illycaffè, ocorrido na quinta-feira, em São Paulo, sinalizou esse movimento citado pela dirigente da BSCA.
Entre os 40 finalistas da disputa, a maioria era de Minas Gerais, que produz mais da metade de todo o café do Brasil. Mas a última edição do concurso promovido pela torrefadora registrou entre os ganhadores mais cafeicultores de outras áreas do que foi visto nos últimos anos: três de São Paulo e um de Goiás. No ano passado, por exemplo, apenas um produtor não era da região mineira.
“Temos um microclima bastante especial, nossa região tem características próprias, altitude, é frio no inverno, a maturação é tardia, a gente começa a colheita em agosto e não pega chuva na colheita”, contou sobre o seu produto Daniella Pelosini, de Pardinho, centro-oeste paulista, que ficou em quarto lugar na disputa.
Garantia de oferta
Massimiliano Pogliani, presidente-executivo da illycaffè, cujo blend é composto por cerca de 50% de café arábica brasileiro, disse que é importante ter uma diversificação de regiões também para garantir a oferta de especiais, embora ele tenha destacado que o aroma de algumas origens, como da Etiópia, por exemplo, é único.
“O café é muito ligado a certos perfis aromáticos, que estão ligados à origem e ao ‘terroir’”, afirmou ele à Reuters, ponderando que, “quanto mais qualidade, de mais regiões, mais o setor fica protegido de problemas que podem atingir a produção”.
Fonte: Diário do Comércio