Mais um milhão de trabalhadores brasileiros perderão o emprego em 2017, depois de dois anos de recessão forte. A recuperação só virá no segundo semestre do ano que vem, segundo projeções do Departamento de Pesquisas do Bradesco. O número de desocupados — que chegou ao recorde de 12,1 milhões em novembro, correspondendo a uma taxa de desemprego de 11,9%, segundo o IBGE — deve atingir a marca de 13,7 milhões de pessoas no fim do primeiro semestre. No fim de 2017, o número deve cair para 13,4 milhões de pessoas.
Para os empregos formais, medidos pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, já há algum sopro de esperança em 2017: a previsão é de criação de 150 mil vagas no ano. Em 2018, seriam outros 900 mil postos de trabalho. O número nem de longe compensa a perda de mais de três milhões de vagas em 2015 e 2016 (1,625 milhão em 2015 e projeção de 1,450 milhão de vagas para 2016, também segundo o Bradesco). Em novembro, foram menos 116.747 vagas com carteira assinada, perda um pouco inferior aos 130 mil do mesmo mês do ano passado.
— O desemprego deve chegar a 13,7 milhões de pessoas na virada do primeiro para o segundo semestre, até que comece a melhorar um pouco. Este é o pior momento do mercado de trabalho desde 1991, com a maior taxa de desemprego. Até 2018, o emprego não vai voltar ao nível anterior, de antes de 2015, porque a economia brasileira também não vai voltar — afirma a economista do Bradesco Ariana Zerbinatti.
O banco produziu uma série mais longa de desemprego, desde 1991, que reúne dados da atual Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), da Pnad anual, do IBGE e da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Seade/Dieese. O levantamento com base nessas pesquisas mostra que a taxa de desemprego está em 12,3% (dado de outubro, o mais recente). A parcela de desempregados está acima dos cerca de 10% entre 2002 e 2006 e também da faixa entre 8% e 9% entre 2009 e 2010, logo após a crise financeira internacional.
RENDA 2,5% MENOR ESTE ANO
A enorme disputa pelas vagas de um mercado em retração assusta pessoas como Hugo Marcelo Martins, de 23 anos, que até o início do ano trabalhava como carpinteiro nas obras do aeroporto internacional do Galeão. Desde que foi demitido, a família — a mulher Kelly e a filha Manuela, de 3 anos — enfrenta dificuldades. A mulher ganha cerca de R$ 1.200 com a venda de salgados para festas, mas tem que arcar sozinha com o aluguel de R$ 700 da casa em que moram em Santa Teresa.
— De vez em quando, consigo algum bico e minha mãe ajuda com o botijão de gás e alguma comida. Minha mulher tem segurado as pontas, mas está muito difícil. Só dá para viver. A compra de supermercado, que durava o mês inteiro, agora acaba na metade do mês. Não posso mais levar minha filha para passear — conta Hugo, que, em meados de dezembro, esteve no posto do Sistema Nacional de Empregos (Sine), da Secretaria Estadual de Trabalho, em busca de oportunidade.
Com mais pessoas buscando emprego, o trabalhador tem de aceitar salários menores, já corroídos pela inflação de 10,67% em 2015 e de quase 7% este ano. Mesmo na hora que o mercado de trabalho voltar a reagir, a alta da renda será muito lenta, apontam analistas. Na estimativa da LCA Consultores, os salários devem avançar apenas 0,5% em 2017, após queda estimada de 2,5% em 2016.
— A melhora no desempenho da economia agora só se espera no segundo semestre de 2017, o que afeta o mercado de trabalho, que geralmente é o último a responder quando a economia começa a reagir. A renda vai subir 0,5% em 2017. É pouco, mas pelo menos estanca uma sangria — diz o economista da LCA Consultores Fabio Romão.
A taxa de desemprego, que ficou em 6,8% em 2014 e 8,5% em 2015, deve continuar subindo pelo menos até 2018. A estimativa é de 13,4% em 2017 e 13,9% no ano seguinte.
— O desemprego podia até estar maior no momento, só não está por causa do desalento (quando os trabalhadores começam a desistir de procurar uma vaga pela dificuldade de se empregar). Quando o mercado começar a reagir, a população ocupada vai subir, mas também aumentará a procura por emprego, o que pressiona a taxa — explica Romão.
A avaliação de que o mercado de trabalho terá recuperação lenta é unânime entre os economistas, diante da perspectiva de uma economia que também vai reagir a passos lentos. Alguns segmentos da indústria — uma das atividades econômicas que mais fechou vagas nos últimos anos — dão sinais de estabilização, pelos últimos dados do Caged, como é o caso da indústria de alimentos e de calçados. Outros, no entanto, ainda estão enxugando o quadro de pessoal. O Bradesco estima que a indústria de transformação ainda não concluiu o ajuste de mão de obra e estima perda de mais 200 mil postos de trabalho.
COMÉRCIO DEVE CONTINUAR DEMITINDO
Além disso, o banco acredita que o ajuste em serviços, especialmente em comércio, ainda não acabou. A redução da taxa de juros pode ajudar setores do comércio que dependem mais de crédito, mas a renda do trabalho ainda baixa pode prejudicar outros ramos.
— A recuperação do mercado deve ser bem difusa. A perda foi muito forte na indústria e pode-se ter algo por aí. No comércio, a reativação de crédito tende a facilitar esses segmentos — afirma a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara.
Fonte: O Globo