Assistindo à distância a recessão de outros setores da indústria, o segmento de máquinas e implementos agrícolas sabia que não escaparia ileso. De janeiro a março, foram quase 700 postos de trabalho a menos no Rio Grande do Sul (veja quadro). E as perspectivas para o resto do ano não são nada alentadoras, nem mesmo a após a colheita de uma supersafra de grãos.
— Começamos a sentir agora o que os outros setores da indústria sentiram há mais tempo. A indústria resiste a demitir, pois é caro treinar e buscar trabalhadores no mercado após o período de crise — reconhece Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers).
No começo de abril, a Massey Ferguson demitiu 154 trabalhadores na fábrica de colheitadeiras em Santa Rosa. Em outubro de 2014, já alegando ajustes devido à instabilidade do mercado brasileiro, a John Deere desligou 167 funcionários em Horizontina. Em efeito cascata, sistemistas que trabalham exclusivamente para essas indústrias e fornecedoras também reduziram o quadro de pessoal.
— Todo o setor de metalurgia acaba sendo afetado, desde usinagem e fundição até autopeças — lamenta Jairo Carneiro, presidente da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Estado.
O desempenho do setor no segundo semestre será influenciado pelo Plano Safra 2015/2016, que será anunciado em 19 de maio. O programa trará novas taxas de juro para financiamento agrícola.
— O cenário de ajuste fiscal causa apreensão, mas esperamos que o governo tenha sensibilidade com o setor — aponta Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que estima redução de 10% a 15% nos negócios do setor no acumulado do ano.
Recolocação complicada
As demissões em massa ocorridas em fábricas de colheitadeiras no noroeste do Estado provocaram forte impacto social e econômico. Somente em oito municípios da região de Santa Rosa, mais de 1,2 mil trabalhadores do setor metalmecânico perderam seus empregos em pouco mais de um ano.
— A recolocação no mercado de trabalho está complicada, a economia como um todo está parada neste momento — lamenta João Roque dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santa Rosa.
Parte desses trabalhadores, diz o dirigente, está migrando para outros setores, como indústrias frigoríficas, por exemplo.
— Não há muita alternativa na região, estamos a 500 quilômetros da Região Metropolitana.
A construção civil era o refúgio quando a indústria metalmecânica demitia, mas agora está retraída também — completa Santos, temendo novas demissões no setor nos próximos meses com um eventual agravamento da crise no Estado.
Fonte: Zero Hora