Os produtores de leite estão preocupados com a falta de cumprimento dos acordos estabelecidos pelos Conseleites estaduais no que se refere ao índice de preço a ser pago ao pecuarista. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), apesar de todos os conselhos sinalizarem altas de preço, existem relatos de descumprimento dos acordos. O Conseleite é uma associação civil, regida por estatuto e regulamentos próprios, que reúne representantes de produtores rurais de leite do Estado e de indústrias de laticínios que processam o leite.
A CNA esclarece em comunicado que a metodologia estabelecida pelos Conseleites leva em conta o consumo dos produtos lácteos no mês e os custos de produção do produtor e da indústria. Diante do cenário observado nos últimos meses, os conselhos regionais sinalizam valores de referência em alta ou estáveis para o leite entregue em abril, a ser pago em maio. Entretanto, boa parte dos laticínios apontou redução no preço do leite para pagamento em maio, justificando os efeitos da crise no novo coronavírus.
Em Minas Gerais, o valor de referência para o leite entregue em abril a ser pago em maio teve alta de 5,62% em relação ao último mês. Em Santa Catarina, a alta foi de 3,8%; no Paraná, 6,75%, enquanto no Rio Grande do Sul a alta foi mais expressiva, 9,79%. Já em Goiás, na Câmara Técnica e de Conciliação da Cadeia Láctea, o Índice de Preços de Derivados Lácteos aponta uma variação positiva de 0,18% frente ao mês de março. Em termos de representatividade, a produção desses cinco Estados representa praticamente 70% de todo o leite produzido no Brasil.
A CNA destaca que “o comportamento dessas indústrias em não seguir as tendências sinalizadas pelos conselhos remete a práticas arcaicas de negociação unilateral, que acreditávamos já estarem superadas. Nesse momento de crise sanitária e econômica, o que menos precisamos é de uma crise de credibilidade.” Conforme a confederação, “a principal finalidade dos valores de referência mensais é proporcionar ao produtor uma tendência do comportamento do preço do leite, sendo um valor justo para todos os elos da cadeia. Por isso, espera-se da indústria láctea brasileira um posicionamento firme e ético para cumprir o que foi acordado.”
A CNA argumenta que a situação do produtor de leite já era crítica antes da pandemia e ficou ainda pior nessas últimas semanas. O preço pago pelo litro de leite ao produtor caiu 5,9% no primeiro trimestre de 2020. Enquanto isso, o custo de produção aumentou 3,18%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA-Esalq/USP). Com destaque para o preço do farelo de soja, importante componente da ração animal, que teve alta de 23% em relação a fevereiro.
Fonte: Revista Globo Rural