Apesar de o Paraná ter colhido uma safra recorde em 2022/23 e das boas perspectivas para o milho segunda safra, a rentabilidade das lavouras tem preocupado os produtores rurais. O assunto foi discutido na reunião da Comissão Técnica (CT) de Cereais, Fibras e Oleaginosas do Sistema FAEP/SENAR-PR, realizada nesta terça-feira (30), por videoconferência, com participação de lideranças rurais de todas as regiões do Estado.
Segundo o pesquisador Mauro Osaki, da Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), os últimos anos foram marcados por oscilações incomuns, no contexto da pandemia do coronavírus e da Guerra da Ucrânia. Por conta disso, os preços das commodities assim como os cursos de produção bateram recordes. Agora, a tendência é que o mercado comece a voltar ao normal. “O que vemos é que o preço das commodities está descendo de elevador e o custo de produção vai de escada”, resumiu.
A estimativa é que o custo total para a produção da soja na temporada 2023/24, tomando como base uma propriedade em Guarapuava, na região Centro-Sul do Paraná, fique em R$ 10,59 mil por hectare, sendo que a receita bruta, considerando a média histórica de produtividade, deve atingir em torno de R$ 8,2 mil. O cenário é mais complicado em relação a safra passada, quando o custo de produção ficou em R$ 11,17 mil e a receita bruta da oleaginosa em R$ 9,8 mil.
Para Osaki, esse cenário era esperado, o que exige cautela por parte dos produtores na hora de tomar decisões de compra de insumos e venda futura. “A relação de troca de soja para fertilizantes, defensivos e sementes segue elevada. O alerta maior é para quem arrenda terras. Na safrinha de milho que está em curso, considerando os altos custos de produção, os arrendatários devem ter problemas na hora de fechar as contas”, alertou.
Futuramente, existe a possibilidade do cenário ficar mais favorável aos produtores, a depender do andamento da safra americana. Historicamente, julho é um mês decisivo para o desenvolvimento das lavouras no país norte-americano. Segundo Osaki, pode ser que os preços da soja e do milho reajam, caso as previsões por lá sejam ruins, e surjam oportunidades para boas vendas de contratos futuros à safra brasileira 2023/24.
“Viemos de períodos favoráveis, com preços em alta nas últimas safras e ao mesmo tempo valores de fertilizantes em preços estratosféricos”, contextualizou José Antonio Borghi, presidente da CT de Grãos da FAEP e presidente do Sindicato Rural de Maringá, no Noroeste do Paraná. “Nossa preocupação é que o produtor não entre na euforia de se animar excessivamente com queda de fertilizantes, pois os custos de produção seguem elevadíssimos e exigem cautela para garantir uma boa rentabilidade”, advertiu Borghi.
Bioinsumos e cigarrinha
O uso de bioinsumos como alternativa complementar aos agroquímicos também fez parte da pauta da reunião da CT de Grãos da FAEP. A entidade tem trabalhado na construção de um Programa Estadual de Bioinsumos, com subsídio à pesquisa, transferência de tecnologia e articulação entre entidades representativas e do poder público, como o Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR-PR) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Outro tema debatido no encontro envolveu as ações relacionadas ao combate à cigarrinha do milho. A Agência de Defesa Agropecuária (Adapar) publicou uma portaria, no dia 15 de maio de 2023 (com entrada em vigor em 14 de junho), que regulamenta a obrigatoriedade da eliminação de milho voluntário na entressafra de milho, para reduzir a incidência do inseto que causa prejuízos milionários todos os anos.
Além disso, em 2023, a Rede Complexo de Enfezamento do Milho (Rede CEM) está desenvolvendo 13 projetos de pesquisa, com financiamento do Sistema FAEP/SENAR-PR. Os estudos contam com a participação de seis universidades e do IDR-PR, além da Embrapa Milho e Sorgo. O objetivo é levantar informações científicas que ajudem a combater o avanço de doenças na lavoura transmitidas pela cigarrinha do milho.
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Fonte: Sistema FAEP