As cidades litorâneas são as principais consumidoras da água de coco no País. Quando se trata de produção em larga escala, tanto da água quanto dos derivados (coco ralado e leite de coco), o estado da Bahia lidera as estatísticas. Mas, atualmente, o aproveitamento dos resíduos gerados pelo consumo do coco-verde, tem despertado a atenção daqueles que se preocupam com a preservação do meio ambiente.
Na última semana de maio, empresários, pesquisadores e produtores de coco participaram, na Embrapa Agroenergia, em Brasília/DF, de um “Painel de Especialistas” que teve como objetivo aprofundar a discussão de possíveis soluções para transformar a casca do coco-verde em energia renovável.
- Neste Painel, procuramos reunir representantes de vários segmentos da cadeia produtiva do coco, desde produtores do fruto, empresários que no seu negócio geram esses resíduos, os que têm interesse em usá-los na geração de energia, fabricantes de máquinas para o aproveitamento dos mesmos e pesquisadores da Embrapa e de universidades, explica a chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroenergia – Marcia Onoyama.
Da Embrapa, participaram representantes das Unidades de Recursos Genéticos e biotecnologia (Brasília, DF) e Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE). Também participaram professores da Universidade de Brasília e da Universidade Federal de Alagoas. Marcia salienta que a realização desse evento ocorreu após levantamento sobre a cadeia produtiva do coco verde no Brasil e as atuais formas de aproveitamento das cascas.
- Nesta etapa do estudo, identificamos uma lacuna e uma carência de informações em relação à viabilidade técnica e econômica de se utilizar as cascas de coco verde para geração de energia térmica ou elétrica – explica.
O Presidente do Sindicato Nacional dos Produtores de Coco no Brasil (Sindcoco), Francisco Porto, reforçou a importância do Painel.
- Eu acho que esse encontro com pessoas de vários segmentos, com conhecimento da produção, do comercio e da indústria e da ciência e tecnologia, sempre traz boas informações, que se traduzem em resultados que serão relevantes para os agricultores. Eu sou completamente favorável a esse tipo de encontro e a Embrapa faz isso muito bem – assegura Porto.
Atualmente, esse resíduo já é usado para algumas finalidades, como na produção de fibras vegetais, substrato orgânico, mantas para uso em aplicações arquitetônicas e de engenharia, etc. Muitas empresas usam a casca de coco-verde como cobertura morta de solo nos coqueirais.
Entretanto, o destino mais preocupante é o descarte como lixo urbano em lixões e aterros sanitários, onde as cascas, pelo grande volume e prolongado tempo de decomposição transformam-se em passivo ambiental.
Existem vários problemas para reutilização da casca do coco-verde, sendo o principal a umidade que ela contém. Ao sair das agroindústrias ou após consumo da água de coco, a casca apresenta umidade entre 80 a 85%, o que inviabiliza a utilização para queima direta.
- Em uma termoelétrica nos moldes das usinas de açúcar e álcool é aceitável uma umidade entre 40 a 50% – explica a pesquisadora da Embrapa Agroenergia, Silvia Belém.
Ela ressalta também.
- Além da queima direta existe um leque de possibilidades para utilização energética desse resíduo, como a produção de briquetes, de etanol de segunda geração, de biogás a partir do líquido da prensagem da casca, entre outras – afirma.
Por isso, a Embrapa tem trabalhado com esse resíduo buscando estudar processos físicos, químicos e biológicos que possam viabilizar o aproveitamento integral do mesmo. O Chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza ressalta.
- A visão para agregar valor a esse tipo de resíduo é utilizá-lo no conceito de biorrefinaria, onde a partir de uma ou várias fontes de biomassa possamos ter a fabricação de produtos químicos, de alimentos, rações, biocombustíveis, materiais para uso industrial ou doméstico e a geração de energia – diz ele.
A gerente de coprocessamento da empresa InterCement, Renata Murad salienta que a casca de coco-verde constitui-se em um desafio para vir a ser usado como alternativa energética. “Nós estamos desenvolvendo o coprocessamento, que é a utilização de resíduos como fonte de energia nos fornos de cimento. As biomassas estão sempre no nosso foco de análise e o coco é uma delas, mas estamos muito preocupados com o gargalo da umidade”. Renata conta que a InterCement tem fábricas que são potenciais usuárias desse resíduo.
- As unidades fabris de João Pessoa (PB), São Miguel dos Campos (AL) e Campo Formoso (BA) estão próximas tanto das envasadoras da água como de centros consumidores de cocos. Se for resolvido o problema de umidade, a gente consegue montar um projeto interessante para trazer essa biomassa para geração de energia – reforça.
- É muita casca produzida e muita água na casca – diz o gerente de desenvolvimento da Empresa Sococo, Elson Tenório.
Atualmente, o produto de maior volume da Empresa é a água de coco.
- Esperamos com paciência que alguma alternativa seja consolidada para uso dos resíduos gerados. Mas não enxergo nenhuma solução imediata e também não vejo que haja uma única solução para o problema – afirma Tenório.
O representante da empresa EcoProducts, José Carlos Sottomaior, apresentou um equipamento que se propõe a triturar e secar a casca de coco-verde, transformando-a em um pó com umidade em torno de 10 a 12%. Esse pó pode ser compactado ou briquetado para utilização posterior em fornos, caldeiras, etc. O equipamento foi recentemente patenteado e está com algumas unidades em início de operação. Além de ter uma estrutura pequena, o consumo de energia elétrica da máquina é baixo. De acordo com Sottomaior, o equipamento processa 80 toneladas por dia, o equivale de 100 mil a 120 mil cocos.
- Se essa máquina processar eficientemente a casca de coco, será algo maravilhoso. Principalmente em cidades litorâneas onde o consumo do coco-verde é altíssimo, podemos transformar a casca em produto extremamente interessante e viável economicamente – conclui Francisco Porto, Presidente do SindCoco.
O potencial da casca de coco-verde
Segundo os dados apresentados no evento, com base nas informações do IBGE/2015, no que tange a participação dos estados, Bahia, Sergipe, Pará, Ceará e Espírito Santo respondem por 72,8% da produção nacional de coco, com 29,4%, 12,5%, 11,2%, 10,7% e 9,0% respectivamente. Em termos de representatividade regional, o Pará responde por toda a produção da região Norte. A Bahia responde por 42,0% da produção do Nordeste, seguida por Ceará (17,9%) e Sergipe (15,3%). Na Região Sudeste, destacam – se Espírito Santo (55,8%), Rio de Janeiro (22,3%) e Minas Gerais (13,9%).
De acordo com o Sindcoco, a quantidade de coco verde destinada para produção de água de coco em 2014 foi de cerca de 1,5 bilhão de frutos com geração de 2.227 mil toneladas de resíduos gerados. Estima-se que 70% de todo resíduo gerado nas praias brasileiras seja constituído por cascas de coco verde. Esse resíduo é coletado e tratado como lixo urbano e disposto em lixões e aterros sanitários, o que, além de representar custo expressivonos gastos com limpeza pública, contribui para potenciais emissões de gases de efeito estufa, como gás carbônico e metano.
Fonte: Embrapa