Dados geoespaciais com acesso livre vão permitir a qualquer pessoa realizar análises mais rápidas e compreender melhor a dinâmica de uso e cobertura da terra na Amazônia Legal. O GeoPortal TerraClass, uma solução tecnológica com ferramentas de análise inéditas e gratuitas, já está disponível na internet para consulta e geração de análises de mapas em tempo real.
O ambiente virtual organiza informações de uma série de mapeamentos realizados pelo projeto de pesquisa TerraClass nas áreas desmatadas do bioma Amazônia. São dados e mapas referentes aos anos de 1991, 2000, 2004, 2008, 2010, 2012 e 2014, que registram todas as alterações ocorridas na cobertura vegetal, possibilitando consultas geográficas por região, estado, município e Unidades de Planejamento Hídrico (UPH).
Esses dados já estavam na web para consulta pública, mas em formato bruto, o que exigia um trabalho prévio de processamento computacional e o uso de sistemas de informações geográficas para então se proceder as análises específicas. Com a nova tecnologia, além de torná-los acessíveis de forma mais simples, os pesquisadores incorporaram várias ferramentas de visualização e análise que geram tabelas e gráficos, facilitando as análises na tela do computador.
“Não há mais necessidade de se baixar os dados no computador, processá-los e então realizar os estudos para entender que mudanças ocorreram na dinâmica geoespacial da região”, conta o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Júlio Esquerdo. “Os dados brutos continuam disponíveis, mas, além de terem sido reorganizados em uma interface atualizada, criamos um serviço para que os resultados das consultas possam ser visualizados diretamente na web”, explica.
O serviço, chamado de WebGIS TerraClass, é um sistema de geoinformações que propicia a visualização, sobreposição e manipulação dos mapeamentos da série histórica do TerraClass, de forma rápida, interativa e intuitiva. Também oferece ferramentas para comparação gráfica e numérica entre os anos e recursos para análise e compreensão das transições.
“Além disso, é possível gerar matrizes de transições que mostram a dinâmica temporal entre as classes temáticas de uso e cobertura da terra em diferentes anos, permitindo a visualização das áreas de transição sobre os mapas”, diz Alexandre Coutinho, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária.
Ou seja, com a tecnologia, é possível mensurar e comparar quais mudanças ocorreram no uso da terra em todo o período mapeado e, adicionalmente, saber exatamente onde elas ocorreram no território.
Entre as possibilidades de análises que o sistema web oferece, pode-se verificar, por exemplo, que destino foi dado às áreas desmatadas, com base nas classes temáticas já identificadas: floresta, vegetação secundária, silvicultura, pastagem, cultura agrícola, mineração, urbanização, entre outras. Ao selecionar um dos recortes territoriais disponibilizados, dá para saber, por meio de mapas e gráficos, que tipo de cobertura vegetal havia, percentual das classes e demais usos.
“Agora com o GeoPortal TerraClass é possível identificar e analisar as dinâmicas do uso da terra na Amazônia, permitindo de maneira rápida compreender os principais fatores determinantes das mudanças no setor agrícola brasileiro, e brevemente com a entrada dos dados do TerraClass Cerrado será possível identificar as principais mudanças no uso e cobertura da terra na região com o maior dinamismo na agricultura brasileira”, afirma Cláudio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e demais biomas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Consultas instantâneas
O GeoPortal TerraClass é resultado de pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Antes do GeoPortal, essas análises eram demoradas por causa dos cálculos que precisavam ser feitos com os softwares de geoprocessamento, segundo o pesquisador João Antunes, também da Embrapa Informática Agropecuária.
“Agora as consultas são instantâneas porque tudo já foi calculado”, esclarece. Assim, rapidamente é possível saber quanto de uma área desflorestada transformou-se em agricultura ou pasto, de um ano de mapeamento para outro.
Essas informações são úteis para os cálculos de estimativas de emissão de gases de efeito estufa do Brasil, já que permitem quantificar e qualificar quais áreas desmatadas da Amazônia Legal se regeneraram, disponibilizando subsídios para estimativa do sequestro de carbono em uma determinada região. Também possibilitam saber qual a porcentagem ocupada pela agricultura ou pastagem, ano a ano, durante todo o período da série histórica.
“Na prática, o usuário consegue localizar espacialmente as transições de uso e cobertura da área. Por exemplo, o que era floresta e passou a ser pastagem, depois virou agricultura. E o sistema web mostra essa trajetória ao longo dos anos de forma gráfica e não somente por meio de tabelas. Trata-se, portanto, de uma ferramenta fundamental para qualquer planejamento voltado ao desenvolvimento sustentável da região”, afirma Adriano Venturieri, chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental.
A tecnologia traz informações importantes para apoiar a gestão das políticas ambientais, contribuindo para a elaboração de políticas públicas de desenvolvimento socioeconômico. Por meio dos dados disponibilizados, é possível conhecer a dinâmica do uso e cobertura da terra em mais de 70% do território nacional – nos biomas Amazônia e Cerrado, com resolução espacial de 30 metros.
“O GeoPortal TerraClass vem inovar sobre outras tecnologias já disponíveis, porque além da possibilidade de baixar dados, permite a análise da dinâmica de uso e cobertura da terra com uma avaliação temporal rápida e precisa. Estes dados sobre o ambiente amazônico são importantes para a tomada de decisão e implementação de políticas públicas que visem à otimização do espaço e menor impacto ambiental da ocupação antrópica”, ressalta Alessandra Gomes, pesquisadora do Centro Regional da Amazônia do Inpe.
TerraClass
Os resultados gerados pelo TerraClass ajudam na definição de ações governamentais relacionadas ao desenvolvimento da produção agrícola nacional com bases sustentáveis e subsidiam ações voltadas à preservação da biodiversidade nacional e manutenção da qualidade dos serviços ecossistêmicos. Estão previstos novos mapeamentos do bioma Amazônia relativos aos anos de 2016 e 2018.
O mapeamento do uso e cobertura da terra nas áreas desmatadas no bioma Cerrado foi realizado em 2013. Os estudos de 2016, 2018 e 2020 também estão previstos no plano de execução do projeto de pesquisa e, futuramente, poderão ser integrados ao GeoPortal.
Fonte: Embrapa