A expectativa de aumento da demanda chinesa pelo algodão deve incentivar os produtores brasileiros a quase dobrar a área plantada no país dentro de quatro anos. A informação é do secretário executivo da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), Marcio Portocarrero. Ele disse esperar que o Brasil alcance, até 2022, dois milhões de hectares de plantio. Na safra atual, a estimativa é de cerca de 1,1 milhão de hectares, e na seguinte, de 2018/2019, a associação já projeta aumento para 1,4 milhão de hectares.
“A China nos pediu para assumir um compromisso: aumentar a oferta de algodão. Eles pretendem substituir áreas que hoje tem algodão por cereais”, explicou Portocarrero, durante um encontro com jornalistas realizado pela Bayer, na última terça-feira (04/09), em São Paulo. “É um compromisso verbal, nada foi assinado. E não teve a participação do governo”, afirmou o executivo sobre conversas que o setor produtivo têm mantido com representantes do país asiático.
Segundo o secretário, a área plantada de algodão no Brasil vem crescendo nas últimas safras. Na 2017/2018, foi um crescimento de 26% em relação à safra anterior. Já a safra 2018/2019 deve crescer, segundo as previsões, cerca de 11%.
“Mas para chegar aos dois milhões de hectares dependemos do mercado externo”, disse.
Hoje, a maior compradora da produção brasileira é a Indonésia, seguida do Vietnã, Turquia, Coreia do Sul e Blangadesh. A China é apenas a sexta maior compradora.
“Mas, na prática, quem compra mais é a China. À exceção da Turquia, os maiores compradores têm indústrias chinesas em seus territórios. Quem compra nosso algodão é o capital chinês”, explicou Portocarrero.
Ele explicou que a China era a nossa maior compradora há alguns anos, mas distribuiu sua produção em vários países por questões ambientais.
O Brasil é o quarto maior produtor mundial atualmente.
“Mas a primeira colocada, a Índia, exporta muito pouco. O Brasil, terceiro maior exportador, tem oportunidade para crescer explorando a demanda da Ásia”, disse o secretário executivo.
Ele lembrou que os Estados Unidos são um grande concorrente, mas ressaltou que a produtividade por hectare do país é menor que a brasileira. A produção norte-americana é a terceira maior do mundo e o país lidera na exportação.
“O melhor algodão é o da Austrália, mas lá há limitação quanto à água e espaço fértil para produzir. Então, apesar da boa qualidade, é um país que não deve conseguir aumentar sua oferta”, disse.
Sexta maior produtora, a Austrália é a quarta maior exportadora de algodão do mundo.
Ameaças
Marcio Portocarrero ainda listou algumas barreiras para o cultivo de algodão no mundo. Entre elas, está o aumento do custo de produção devido ao surgimento de novas pragas e a volta do chamado bicudo-do-algodoeiro, considerado um dos maiores inimigos das plantações, que praticamente dizimou a cultura no Brasil na década de 1990. Outro problema, segundo ele, é o baixo preço do petróleo, que pode levar a indústria têxtil a preferir as fibras sintéticas.
Nédio Tormen, fitopatologista e pesquisador do Instituto Phytos, lembra que, por ser uma cultura exótica no país, o algodão brasileiro tende a ter menos resistência.
“Diferente da mandioca, por exemplo, o algodão não evoluiu com as pragas e plantas daninhas do Brasil”, disse.
Além disso, o algodão costuma ficar mais tempo no campo em comparação a outras culturas, como, por exemplo, feijão e soja, outra razão para aumentar a preocupação em relação a pragas e doenças.
Tormen lembrou que a doença fúngica mancha-de-ramulária é a principal ameaça ao algodoeiro atualmente.
“A ramulária tem um potencial violento para reduzir a produtividade. Hoje, 91% das aplicações de fungicidas são para combater essa doença”, disse.
O fitopatologista reforçou que o controle do fungo só será eficiente com o manejo integrado de pragas.
“Os fungicidas não devem ser utilizados de forma isolada, mas são um dos pilares no controle da doença”, explicou.
Fonte: Globo Rural