Mais de 35 mil pessoas conheceram na abertura da 5ª Festa do Pêssego, no último final de semana, as razões que garantiram ao município de Pinto Bandeira o status de Capital Gaúcha do Pêssego de Mesa. As cultivares desenvolvidas pela Embrapa foram um dos destaques do evento, resgatado após uma interrupção de 12 anos, sendo o primeiro após a emancipação do município de Bento Gonçalves.
Além das atrações culturais do evento, o que surpreendeu os visitantes foi a qualidade do pêssego produzido em Pinto Bandeira, que já chega aos diferentes cantos do país com o apoio da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) e de outras Ceasas. Estimativas indicam que o município e arredores são responsáveis por aproximadamente 15% da produção nacional de pêssego de mesa.
“A qualidade do pêssego de mesa ofertado por Pinto Bandeira, nesta safra, está excepcional”, disse o engenheiro agrônomo da Ceagesp Gabriel Bitencourt.
Ele foi responsável pela palestra de abertura do Encontro Estadual de Frutas de Caroço, com a presença de mais de 300 produtores e técnicos, realizada no dia 10. Bitencourt trabalha no centro de qualidade do terceiro maior centro atacadista de alimentos do mundo e o primeiro do Brasil e da América Latina, conferindo a qualidade dos produtos e aponta os avanços da produção local de pêssego.
Ele comenta que o abastecimento de pêssegos do entreposto paulistana é praticamente realizado pelas estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, a soma das duas unidades da federação ultrapassa os 90% do total.
“Os dois estados não são concorrentes. Eles na verdade são complementares, pois a safra paulista começa em setembro e vai aproximadamente até o final da primeira quinzena de novembro. A partir daí, os gaúchos entram no mercado paulista levando a safra até o final de janeiro ou começo de fevereiro”.
Bitencourt destacou que os trabalhos de melhoramento genético conduzidos pela Embrapa Clima Temperado deram uma nova cara à produção de pêssegos nas principais regiões produtoras.
“As cultivares ‘BRS Kampai’, ‘BRS Rubimel’ e ‘BRS Fascínio’ certamente já são as mais importantes na produção paulista, que se concentra na região de Atibaia e Jarinu com áreas significativas no Sudoeste Paulista”, avaliou.
Os gestores das unidades responsáveis por esse avanço, Roberto Pedroso de Oliveira, Embrapa Clima Temperado, e José Fernando a Silva Protas, Embrapa Uva e Vinho, estavam presentes no Encontro, juntamente com suas equipes de pesquisa, não apenas para repassar informações técnicas, mas também para ouvir as demandas dos participantes. Parte dessas solicitações já haviam sido previamente apresentadas e discutidas em reunião prévia pelo presidente da Associação dos Produtores de Frutas de Pinto Bandeira (Asprofruta), Vagner Spadari, entidade que foi retomada recentemente.
“Com a retomada da Asprofuta, fica mais fácil para a Embrapa trabalhar de forma articulada e focada nas demandas do produtores, que passam a ter uma governança representativa. No passado, em conjunto, validamos a Produção Integrada do Pêssego (PIP), que com certeza deverá ser retomada”, avaliou Protas.
Ele destaca que a Produção Integrada contempla todo o universo de produção, desde a produção no campo até a pós-colheita e mercado da fruta, incluindo a rastreabilidade.
Para Roberto Pedroso de Oliveira, que recentemente assumiu o cargo de chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, esta atuação colaborativa entre as duas unidades e a Associação de produtores é imprescindível para otimizar os esforços de pesquisa, especialmente num momento onde a empresa precisa se reinventar para superar as restrições financeiras e a limitação de recursos humanos.
“Está aí a conjuntura ideal para nos unirmos e pensarmos como Embrapa”, destacou.
Ainda segundo Pedroso, este é um exemplo de como unidades da Embrapa devem trabalhar, conjuntamente, em prol do desenvolvimento sustentável dos territórios onde atuam.
Vagner Spadari, presidente da Asprofruta, destaca que o sucesso do cultivo de pêssego no município é reflexo de todo o apoio e repasse de tecnologias realizado pela Embrapa e instituições de pesquisa, ensino e extensão envolvidas com a cultura, merecendo destaque as cultivares desenvolvidas pelo Programa de Melhoramento Genético conduzido pela Embrapa Clima Temperado.
“Precisamos avançar ainda mais em alguns temas como porta-enxertos adaptados à região que permita ampliar a nossa produção”, antecipou o presidente em reunião com os gestores da Embrapa.
Sobre isso, chamou atenção de Pedroso o predomínio das cultivares desenvolvidas em Pelotas nos pomares da região. Outro ponto ressaltado por ele foi o interesse dos produtores pelos resultados de pesquisa da Embrapa.
“Representa que estamos cumprindo o nosso papel em relação a essa espécie cultivada, que a Embrapa está dando uma contribuição significativa pro setor produtivo”, afirmou. Segundo ele, a Unidade irá seguir com seu programa de melhoramento genético de pêssego, ampliando com Unidades Demonstrativas na Serra Gaúcha. A ideia é construir um grupo de trabalho em PIP, sob coordenação da Embrapa Clima Temperado, incluindo pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho. “Dessa forma, a expectativa é qualificar o sistema de produção de pêssego de mesa em Pinto Bandeira e em toda a Serra gaúcha”, completou Pedroso.
Segundo a melhorista da Embrapa Clima Temperado, Maria do Carmo Raseira, cinco Unidades de Observação estão sendo mantidas na Serra gaúcha para pesquisas com a cultura. Mas, para ela, o impacto positivo das variedades na região tem relação com o desenvolvimento, nos últimos dez anos, de variedades de polpa branca, mais firmes e, consequentemente, mais resistentes ao manuseio, colheita e transporte – como é o caso da ‘BRS Kampai’ e da ‘BRS Fascínio’, além da cultivar de polpa amarela ‘BRS Rubimel’.
Maria do Carmo comenta que os grandes mercados brasileiros preferem frutas doces, de polpa branca e sem caroço, que são geralmente macias.
“Nós não pensamos apenas na Serra gaúcha, mas em termos de Brasil, de fruticultura brasileira. Os resultados só são importantes na medida em que contribuem para que os fruticultores tenham opções de variedades com mais qualidade e maior firmeza e, com isso, alcancem melhores lucros e tenham melhor qualidade de vida”, completou.
Já está prevista para o mês de março, a próxima reunião que irá reunir as equipes de pesquisa envolvidas na programação relacionada à pesicultura, com o objetivo de alinhar e fortalecer ações em parcerias entre as duas Unidades.
Informações importantes
De acordo com dados apresentados pela Emater/Rs-Ascar, Pinto Bandeira possui 400 propriedades rurais com aproximadamente 1100 hectares cultivadas com a fruta com uma produção de 18 mil toneladas.
Bento Gonçalves e Pinto Bandeira juntas são responsáveis por 15% de toda a produção de pêssegos de mesa do país.
Os principais municípios produtores de pêssego de mesa no RS são Pinto Bandeira, Farroupilha, Caxias do Sul, Ipê e Nova Pádua.
No RS, são 2438 produtores que numa área total de 4341ha produzem 72 mil toneladas de pêssego de mesa, obtendo uma produtividade de 16,6 t/ha.
Já no pêssego para industria, as principais cidades produtoras são Pelotas, Canguçu, Morro Redondo, Cerrito e Candiota. São 1286 produtores gaúchos que cultivam uma área de 6191ha, produzindo 76 mil toneladas da fruta, com uma produtividade de 14 t/ha.
As principais cultivares da Embrapa plantadas no município são ‘Chimarrita, ‘BRS Kampai’ e ‘BRS Fascínio’, ‘Chiripa’, ‘BRS Regalo’, ‘BRS Rubimel’.
Fonte:Embrapa