Os produtores de canola estão na fase de colheita das lavouras cultivadas na safra 2015/2016. Embora a área plantada tenha crescido e a produtividade deixa os produtores otimistas, a fase de colheita é sensível. De acordo com informações da Embrapa, a colheita é a fase mais crítica da cultura. Essa etapa exige cuidados e decisões acertadas para evitar perdas no rendimento de grãos que podem comprometer mais de 30% do resultado final.
- Ao contrário dos principais cultivos de grãos a maturação da lavoura não acontece de maneira uniforme, ou seja, nem todas as síliquas se formam e amadurecem ao mesmo tempo, o que requer atenção para determinar o ponto correto de colheita. Assim, produtores com mais experiência no cultivo de canola ou que contam com a assistência de técnicos mais especializados, tendem a obter produtividades mais elevadas, seguindo uma curva de aprendizagem crescente – explica o analista da Embrapa Trigo, Paulo Ernani Ferreira. Segundo ele, produtores que cultivam canola há mais de três anos, geralmente atingem produtividade de 1.800 a 2.500 mil kg/ha.
Na canola, a colheita antes do ponto ideal interrompe a formação e o enchimento de grãos, limitando o potencial de rendimento. Ainda, a colheita prematura tende a aumentar o teor de clorofila do óleo, aumentando os custos industriais com clarificação e o percentual de descontos na comercialização. Por outro lado, se a colheita atrasar, chuvas e ventos fortes podem abrir as síliquas derrubando os pequenos grãos de canola no solo, além do risco do ataque de fungos, insetos ou tombamento de plantas. Confira as dicas da Embrapa para evitar perdas durante a colheita da canola.
1 – Qual a melhor forma de colheita?
As operações de colheita da canola são realizadas de forma mecanizada, basicamente com as mesmas máquinas e implementos agrícolas empregados para os cultivos de soja, milho e trigo, com pequenas adaptações, sobretudo quanto a vedação dos equipamentos de colheita e de transporte.
2 – Cor dos grãos
Em qualquer forma de colheita, o principal cuidado é identificar corretamente o momento mais adequado para entrada na lavoura. A cor dos grãos é o melhor indicador, já que os grãos secam antes das hastes, caule e demais partes da planta. A recomendação é verificar a cor dos grãos localizados no topo do caule: quando mais da metade dos grãos passarem da cor verde para marrom ou preto, as plantas atingiram o ponto de maturação fisiológica.
A identificação do melhor momento de colheita exige monitoramento diário da umidade, já que a escolha do manejo de colheita pode variar em função do teor de umidade dos grãos. Os produtores do Sul do Brasil têm utilizado três diferentes formas de colheita da canola: colheita direta, dessecação química ou corte-enleiramento.
3 – Colheita Direta
De acordo com o professor da Universidade de Passo Fundo, Walter Boller, a colheita com corte direto apresenta o menor custo, já que se processa em uma só operação, com as mesmas máquinas utilizadas para a colheita de cereais de inverno ou soja. Neste tipo de operação, a colheita deverá iniciar quando a umidade dos grãos estiver em, no máximo, 18%. Depois os grãos deverão passar pela pré-limpeza e secagem o mais rápido possível até atingir os 10% de umidade, base de referência para a comercialização.
Porém, um dos inconvenientes da colheita direta é a necessidade de regular a colhedora várias vezes durante o dia, pois as variações de temperatura alteram o teor de umidade da palha e dos grãos. As perdas podem chegar aos 10% se a regulagem ou as peneiras não estiverem adequadas.
4 – Evite plantas daninhas
A colheita deve começar pelas áreas livres de plantas daninhas para evitar a disseminação de sementes de invasoras. Para evitar a debulha na plataforma, a indicação é consultar o catálogo do fabricante da máquina. Mas, eventualmente, a retirada do arco divisor da lateral da plataforma pode reduzir perdas por debulha.
5- Evita a queda de grãos
Vedar orifícios nas colhedoras, como a base dos elevadores ou caçambas, utilizando fita crepe ou silicone é recomendado. Uma adaptação realizada ao prender uma mangueira de meia polegada (1/2″), com os próprios parafusos da colhedora, em toda a largura da plataforma de corte, logo atrás das navalhas, é eficiente para reduzir as perdas causadas pela queda de grãos ao solo devido à inclinação em direção à barra de corte. Além disso, é importante usar peneiras apropriadas, que tenham de dois a quatro milímetros.
6 – Velocidade da máquina
A velocidade de deslocamento na colheita de canola deverá ser menor do que aquela usada para cereais, para reduzir o risco de perdas por debulha. Em terrenos com grande declive a massa de plantas e grãos tende a se concentrar em uma área restrita na lateral das peneiras, reduzindo a eficiência da separação e aumentando as perdas de grãos. Nestes casos, realizar a colheita subindo e descendo o declive com o ajuste correspondente da velocidade do ar pode reduzir as perdas de grãos e aumentar a eficiência de eliminação de impurezas.
7 – Ajustes de colheitadeira
⇒Molinete: reduzir o número de “aspas”, recuar e ajustar a altura do molinete para que só as “aspas” se introduzam no cultivo. Ajustar a velocidade para que seja pouco superior à de deslocamento da colhedora;
⇒Altura da barra de corte: deve cortar as plantas logo abaixo dos primeiros ramos produtivos. Isto é, se deve reduzir tanto quanto possível o volume de caules colhidos, os quais aumentam o risco de embuchamento da colhedora, o consumo de combustível e tendem a aumentar a umidade e impureza da massa de grãos;
⇒Caracol: ajustar a velocidade e a altura para que não causem muita debulha de síliquas;
⇒Velocidade do ventilador: regular para que permita a limpeza da massa de grãos e evite perdas;
⇒Velocidade do cilindro: deve ser menor do que a usada para cereais (400 – 600 rpm);
⇒Abertura do côncavo: deve ser maior que aquela usada em trigo;
8 – Dessecação
A dessecação química não é indicada. Apesar de facilitar a colheita mecanizada por uniformizar a maturação dos grãos, não existem herbicidas dessecantes em pré-colheita registrados para a canola no Brasil. Desta forma, a recomendação e o uso de defensivos sem registro e em desacordo com o receituário agronômico está sujeita a penalidades da lei que prevê multa e até reclusão. Também é importante considerar que a aplicação terrestre causa perdas por amassamento de plantas.
9 – Corte-enleiramento
O corte-enleiramento é uma operação mecanizada onde as plantas são ceifadas e amontoadas em linhas, formando leiras para secarem no campo. Após, as plantas são recolhidas e trilhadas pelas automotrizes. Esta prática uniformiza a maturação e a secagem, resulta em menos grãos verdes e reduz o transporte de impurezas.
O corte-enleiramento da canola é realizado quando a umidade dos grãos fica próxima aos 35%, assim que as plantas atingem o pico de enchimento de grãos. Após este ponto de maturação fisiológica, as plantas apenas perdem umidade. Os grãos verdes devem estar firmes o suficiente para não quebrarem quando rolados entre os dedos polegar e indicador.
10 – Qual é a hora certa do corte-enleiramento?
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Gilberto Omar Tomm, a decisão sobre o momento de realizar o corte-enleiramento é o aspecto de manejo mais crítico:
- Quanto mais cedo for realizada a colheita, menores serão os riscos de perdas. As plantas de canola estarão no ponto adequado para corte-enleiramento apenas no período de 3 a 5 dias, já que a secagem dos grãos nas síliquas é um processo muito rápido nos dias quentes de primavera. Atrasos certamente vão implicar em perdas na produtividade – explica Tomm.
A colheita e trilha das leiras é menos sensível a atrasos. As plantas podem permanecer na lavoura secando por um período que varia de 5 dias (clima seco) a 14 dias (maior umidade do ar). O recolhimento é realizado o mais próximo possível dos 10% de umidade nos grãos, com equipamento próprio para a canola, com plataforma chamada de “pick up”.
11 – Cuidados no recolhimento
Durante períodos de temperaturas muito elevadas, entre 25ºC e 30ºC, deve-se cortar/enleirar toda a área possível, dando-se preferência ao trabalho noturno para reduzir a debulha natural e a debulha devida aos impactos dos mecanismos da enleiradora ou da colhedora.
A rotação do cilindro de trilha deve estar entre 50% e 75% da rotação utilizada na colheita de trigo, ou seja, ao redor de 400 rpm. A velocidade do ventilador deve ser reduzida para 1/4 da utilizada na colheita de trigo, pois a palha de canola é muito leve e de difícil separação dos grãos.
- A principal alternativa para antecipar a colheita e reduzir perdas por granizo ou debulha natural na canola é o corte-enleiramento. O método é utilizado nos principais países produtores, como Canadá e Austrália, e pode ser o caminho para o Brasil aumentar a média de produtividade de canola nas lavouras – diz Gilberto Tomm.
Fonte: Sfagro