A Embrapa Pecuária Sudeste promoveu um dia de campo em São Carlos (SP) para apresentar práticas sustentáveis de produção. No evento, pesquisadores comentaram resultados de sistemas integrados de pastagens e formas de medição e redução de gases de efeito estufa no setor. Segundo o grupo, é possível recuperar áreas degradadas, triplicar a quantidade de cabeças e, simultaneamente, reduzir os ciclos de engorda, aumentar o bem-estar animal e diminuir a pressão sobre as matas.
Foram apresentados sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) na própria fazenda da Embrapa, que começou a adotar as práticas em 2006 para renovar as pastagens e agora exemplifica vantagens da mudança.
- A pastagem típica do Brasil hoje, de baixa produção, suporta um animal por hectare, mais ou menos. A partir do momento em que nós conseguimos entrar em um sistema desses, trocar a forrageira por uma mais produtiva, de melhor qualidade, nós estamos trabalhando com uma média anual de três animais por hectare, então estamos conseguindo triplicar a ocupação dessa área – disse o pesquisador Alberto Bernardi, completando que a elevação ocorre com outra vantagem, o ciclo reduzido.
“Os animais que entram aqui atingem o peso de abate em dois anos. A média nacional é perto de quatro anos. Ou seja, nós temos animais muito mais jovens atingindo o peso de abate”, explicou. “Estamos colocando mais animais na área e tirando esses animais mais cedo. É uma grande vantagem desses sistemas”, resumiu.
Benefícios
De acordo com os especialistas, a mescla orientada de pasto, floresta e produção agrícola, como sorgo ou milho, proporciona ainda a redução de riscos de erosão e maior eficiência no uso de insumos.
- A gente está promovendo a renovação da pastagem a um custo muito reduzido porque ela é implantada juntamente com a lavoura, ela aproveita toda uma adubação residual – comentou José Ricardo Macedo Pezzopane.
Outros benefícios, afirmaram, são a utilização dos produtos das lavouras para alimentação do gado ou venda no mercado, a diminuição da dependência de um único produto, a melhoria de renda do produtor, a maior fixação de pessoal no campo e o sequestro de carbono.
- A introdução do componente arbóreo nos sistemas de produção melhora muito o balanço de carbono. Muito. É extremamente importante a pecuária hoje no país se apropriar dessa produção de madeira por dois motivos: além de diversificar a renda, diminui a poluição. Quando a planta está crescendo, fazendo fotossíntese, ela retira CO2 da atmosfera – defendeu Patrícia Oliveira.
- Quando nós fazemos a recuperação de áreas degradadas, o tanto que você retira de carbono da atmosfera e estoca é maior do que o que você emite com os animais e o uso dos insumos. Então nós temos balanço positivo de carbono – afirmou, reforçando ainda a diminuição da pressão sobre novas áreas.
- Para cada hectare que eu consigo aportar mais um boi, eu estou evitando o desmatamento de mais um hectare de floresta – disse Patrícia.
Os sistemas também proporcionam o conforto térmico dos animais pela oferta de sombra das árvores (a temperatura dos bovinos chega a variar 5 °C), um fator que, para os cientistas, poderá se transformar em vantagem competitiva.
- Em determinado momento, algum mercado poderá exigir que nossos produtos tenham essa certificação de bem-estar animal – disse Bernardi.
Histórico
Pezzopane afirmou que os sistemas integrados são relativamente novos no país, mas estão se expandindo, inclusive por meio de incentivos como linhas de financiamento específicas, e que há outras opções, como a integração com a apicultura.
Os pesquisadores também explicaram que a escolha das árvores e o espaçamento entre elas vão depender do objetivo dos produtores. Se elas forem intercaladas com grãos, por exemplo, será necessária uma distância mínima para a passagem de máquinas.
- Não existe um modelo pronto – resumiu Bernardi.
Fonte: G1