A safra de uva na Serra gaúcha ia muito bem, obrigado – os parreirais estavam brotando de forma uniforme e com potencial para altos índices de produtividade. Mas esse cenário mudou drasticamente.
- Até comentei com um vizinho: alguma coisa vai acontecer, porque a uva estava muito bonita – recorda o viticultor, Fabiano Bristot.
E o pior aconteceu: depois de um inverno praticamente sem frio, a forte geada, nos dias 11 e 12 de setembro, castigou muitas parreiras na região.
- Desanima porque não fez inverno e no outro dia após a geada teve calor de 30 graus – desabafa Fabiano.
- Aqui foi feio, não foi fraco, queimou tudo e vai despencar também no futuro – destaca o produtor rural, Fábio Bristot.
Os irmãos Bristot cultivam sete hectares de uvas no interior de Caxias do Sul e acreditam que o gelo provocou perdas de aproximadamente 60%. Conforme estimativa da Emater, em Caxias, 60% dos parreirais foram atingidos pela geada e nessa área afetada, os danos chegaram também a 60%, representando uma perda total de 36% da safra no município.
- Já somos vacinados, aqui pegamos seguido geada. Olhando de cima dá para ver bem o estrago – revela Fábio que esperava colher mais de 20 toneladas por hectare, mas hoje não imagina uma produtividade maior que 8 toneladas por hectare.
De acordo com o levantamento da Emater, nos 49 municípios da regional de Caxias do Sul que produzem 36 mil hectares da fruta, em torno de 15 mil hectares foram atingidos pela geada e nessa área os danos alcançam 50%, o que significa uma perda total entre 20% e 25% da produção. A estimativa inicial era de uma colheita na região de aproximadamente 790 milhões de quilos – se os estragos forem confirmados em 20%, a vindima não passará de 632 milhões de quilos. Entre os municípios mais prejudicados estão Flores da Cunha com 80% da área atingida e 40% de danos nessa área, representando 36% de perda total. Em Antônio Prado, a área castigada foi menor – 70%, mas os danos chegaram a 70%, com uma perda total de 50% da produção de uva do município.
- Esses números são estimativas, não dá para ser tão alarmante. Algumas propriedades foram mais prejudicas, mas não foi generalizado. O dano maior é psicológico, depois os produtores vão ver que os estragos não serão tão grandes – avalia a gerente da Emater regional de Caxias do Sul, Sandra Maria Dalmira.
Mas o problema não parou na geada, além do excesso de chuva,o granizo danificou em torno de 2,5 mil propriedades que cultivam frutas e hortaliças e,mais uma vez, os parreirais foram atingidos. Frutas como uva, pêssego e morango foram prejudicadas por chuva, geada e granizo.
Conforme o informativo conjuntural da Emater, na região da Serra, foram registradas condições climáticas bastante complicadas para a viticultura, com muitas chuvas, ventos e granizo, trazendo danos e preocupação junto ao setor.
- O excesso de água livre poderá interferir no pegamento das bagas, pois as duas principais variedades se encontram em fase crítica: Bordô, em final de florescimento; e Isabella, em plena florada. De maneira geral, a sanidade dos vinhais se mantém satisfatória, apesar das constantes intempéries meteorológicas. Há problemas com algumas fitopatias afetando diretamente a inflorescência, sem incidir sobre as folhas; tal situação exige muito mais atenção e conhecimento por parte do viticultor para identificar a moléstia e fazer as aplicações adequadas. O momento é de intenso trabalho na poda verde, sendo um tanto antecipado para a época, visando facilitar a entrada de luz, ventilação e penetração dos tratamentos fitossanitários no dossel. A variedade Niágara, que na última safra propiciou uma exuberante produtividade, demonstra número de cachos bem abaixo da média, tendo o esgotamento das reservas da safra passada como um dos fatores desse quadro. Variedades superprecoces cultivadas em locais mais quentes, como a Vênus, já evidenciam início de mudança de coloração, projetando princípio de colheita para daqui a três a quatro semanas – destaca o relatório.