O produtor rural Leomar Mello Martins estava em sua propriedade em Santana do Itararé, em 14 de setembro, com a atenção voltada para o outro lado do Oceano Atlântico. Um de seus queijos, o Maná Concafé Gourmet, participava do Mondial du Fromage et des Produits Laitiers de Tours, célebre concurso de lácteos realizado na França. Ligado no celular, Martins acompanhou lives transmitidas por queijeiros brasileiros que viajaram à Europa para acompanhar a disputa. Quando a lista dos vencedores saiu, o produtor teve uma grata surpresa: seu queijo especial conquistou a medalha de prata. Foi como se tivesse ficado com o topo do pódio.
“Foi como se tivesse sido o ouro. É uma conquista improvável para a região e muito importante por colocar o queijo paranaense no cenário internacional”, diz Martins.
Na Fazenda
Sítio Aliança, Martins e a família se dedicam à produção de 70 quilos de
queijos artesanais especiais por dia. O leite utilizado também provém da
propriedade, em que os pecuaristas mantêm 38 animais da raça Jersey, das quais
18 em lactação – e que produzem 380 litros por dia. “O leite que sobra da
produção de queijos, a gente comercializa com a [cooperativa] Capal”, explica
Martins.
O processo de criação dos animais à fabricação dos derivados é todo familiar. Martins e a
mulher, Marisa, produzem os queijos, enquanto os filhos Lucas e Daniela cuidam
do trato e da ordenha dos animais. “O nosso plano não é aumentar muito a
produção, mas agregar valor. A gente quer fazer um queijo especial,
personalizado, para atender a um público mais sofisticado. Tudo de forma
profissional e trabalhando com a família”, conta Martins.
Medalha de
prata, o Maná Concafé Gourmet, por exemplo, é um queijo maturado com 30 dias,
produzido com cafés especiais da região do Norte Pioneiro. Outro detalhe que
faz a diferença é o leite do Sítio Aliança, com proteínas e gordura na medida
certa. “É um queijo que tem a maciez do leite Jersey, que é de altíssima
qualidade. Dá aquele gostinho característico, com o plus do gostinho do café.
Eu diria que aconteceu a química perfeita”, define o queijeiro.
Trajetória
Nascido em
Jaguariaíva, nos Campos Gerais, Martins nem sempre foi produtor rural. Com
formação de técnico agrícola e em administração de empresas, por 12 anos ele
exerceu o cargo de comprador de leite pela Parmalat. Em 2003, no entanto,
decidiu dar uma guinada em sua vida. Desligou-se da multinacional e comprou o
sítio em Santana do Itararé. “Eu estava cansado de viajar pelo Brasil. Com dois
filhos pequenos, eu queria ficar perto da família.
Comecei com
sete vacas, com a ideia de focar em leite. O queijo nem passava pela minha
cabeça”, conta.
Foi aí que o
SENAR-PR entrou na trajetória do produtor. Martins frequentou vários cursos,
com o objetivo de se profissionalizar em todas as etapas da pecuária de leite.
Entre as capacitações em que foi diplomado, está a de pastagem, de boas
práticas de ordenha, de manejo e de higiene. “São saberes que eu fui aplicando
e que trago até hoje. Para a produção dos meus queijos, o leite tem que ser
excepcional, com ótimos teores de proteína e de gordura. Foi muito importante”,
revela.
Apesar de
conduzir bem o negócio, em 2017, por causa da crise do setor lácteo, Martins
quase foi à falência. “Eu estava à ponto de largar tudo”, resume. Foi então que
os queijos, que eram produzidos para consumo próprio, passaram a ser encarados
como uma alternativa econômica. Os produtos da família Martins passaram a ser
vendidos na Feira Municipal do Produtor, em Santana do Itararé. Ali, os
produtores viram que os derivados poderiam ser uma boa saída.
“Estávamos
passando por dificuldades tremendas. E o queijo nos salvou. Fazíamos três peças
por dia e, com a feira, passamos a fabricar 70. E vendíamos tudo”, relembra. “A
gente chegou no fundo do poço. Mas o fundo do poço não é o fim da vida. Foi ali
que vimos que o queijo era a nossa oportunidade”, acrescenta.
No ano
seguinte, em 2018, outro acontecimento importante mostrou que Martins estava
certo em apostar na produção de queijos especiais. Um de seus produtos venceu a
etapa regional do concurso estadual. Na fase final, a família Martins ficou em
segundo lugar, entre 157 concorrentes. “Nós só perdemos para um queijeiro
experiente, que já tinha anos de estrada”, afirma. “O queijo foi a nossa luz.
Vamos continuar fazendo tudo direitinho e levando o nome do Paraná a outros
lugares. Somos um Estado que produz queijos excelentes, de padrão
internacional”, conclui.
A notícia Paranaense fica em 2º lugar em concurso internacional de queijos apareceu pela primeira vez em Sistema FAEP.
Fonte: Sistema FAEP