Acesso ao alimento e à água, oportunidades de gerar renda, estar incluído socialmente e viver em um ambiente saudável e pacífico são condições que conferem dignidade e qualidade de vida às pessoas. No entanto, o crescimento da população mundial e os recursos naturais limitados impõem desafios para as nações na garantia de direitos fundamentais como esses. Nesse cenário, o Brasil deverá se posicionar com protagonismo no provimento de alimentos com sustentabilidade.
Poucos lugares no mundo conjugam condições de clima, disponibilidade de terra e um setor agrícola empreendedor, que permitam incrementar ainda mais a produção de alimentos, como o nosso país. E, o melhor, sem necessidade de aumentar a área de plantio. Além de exportarmos produtos agrícolas para mais de 150 países, já influenciamos a dieta de muitas nações. Por exemplo, a cada dez bifes exportados no mundo, três são provenientes do Brasil, sem contar os copos de suco de laranja, a carne de frango, etc.
É preciso ressaltar que nossa agropecuária é considerada a mais sustentável do planeta, e o Brasil deve consolidar sua reputação de grande produtor de alimentos dentro dos padrões e conceitos de sustentabilidade. É possível transformar essa vocação em símbolo internacional, como uma marca de um país que conta com tecnologia, inova, produz com qualidade, e é capaz de atender às demandas dos mercados mais exigentes com competência e competitividade.
Ao chegar aos 45 anos, a Embrapa está preparada para continuar contribuindo com o país nessa trajetória e para protagonizar o futuro do papel do alimento para a humanidade. O Brasil tem aderido às agendas internacionais integradoras, a exemplo dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Com 169 metas a serem atingidas até 2030, os ODS propõem ações globais para erradicação da pobreza, segurança alimentar, agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, água e saneamento, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do clima, dentre outras.
A agropecuária, na condição de geradora de alimentos, saúde, renda, serviços ambientais e, por que não dizer, paz, trabalha em harmonia com os ODS. Associamos nossas estratégias a essa agenda em um exercício que nos permitiu destacar as contribuições da Empresa, sustentadas por parcerias, para a promoção da melhoria da qualidade de vida das pessoas, para o aumento da resiliência planetária às ações antrópicas, e para a promoção da prosperidade.
Conectados aos ODS, uma série de sinais e tendências globais e nacionais foram captados pelo Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa, o Agropensa, que coordenou um estudo e sintetizou sete megatendências para a agricultura brasileira no horizonte 2030: mudanças socioeconômicas e espaciais na agricultura; intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção agrícolas; mudanças do clima; riscos na agricultura; agregação de valor nas cadeias produtivas agrícolas; protagonismo dos consumidores; e convergência tecnológica e de conhecimentos na agricultura.
Nesse contexto, sistemas de produção mais resilientes e sustentáveis – nos aspectos social, econômico e ambiental – devem ser priorizados, como a integração lavoura-pecuária-floresta, a agricultura orgânica e o plantio direto. Haverá maior utilização de processos tais como a fixação biológica de nitrogênio, uso de insumos biológicos, controle biológico de pragas e doenças, reciclagem de resíduos, produção protegida, dentre outros.
Há sinais claros de que a intensificação produtiva sustentável é a ênfase a ser dada à produção de alimentos, fibra e agroenergia. O surgimento de espaços rurais multifuncionais, com a integração de atividades econômicas não agrícolas, como turismo e gastronomia, tende a crescer. E cada vez mais serão utilizados indicadores, métodos e protocolos de certificação de sistemas sustentáveis. A denominação de origem é um tipo de certificação que deve ser impulsionada, como já é feito com os vinhos no Rio Grande do Sul. Podemos oferecer inúmeros produtos de origem territorial, como fazem os europeus. Temos, por exemplo, a carne de sol, o arroz vermelho, e a pecuária do Pantanal e outros tantos a explorar e desenvolver.
Produzimos volume, mas precisamos agregar valor aos nossos produtos. É fundamental construir confiança, a partir de uma interação sólida com o mundo, buscando oportunidades nas tendências dos mercados. Somos o maior produtor e exportador mundial de café in natura, mas é preciso nos tornarmos os maiores produtores e exportadores de café torrado, moído, em cápsulas entre outras possibilidades. Possuímos apenas 53 produtos com certificação de indicação de procedência, mas com potencial de incrementarmos esse número.
Alcançamos índices máximos de produtividade que só serão superados com a transformação digital nos espaços rurais. E o campo tem exigido profissionais cada vez mais preparados para atuar nesse novo cenário. A convergência das geotecnologias, como o uso de GPS, Vants, sistemas de informação, com a agricultura de precisão, que lança mão da robótica, da automação, da inteligência artificial, até os gêmeos digitais, proporcionarão novos patamares de eficiência e sustentabilidade na produção agrícola.
A crescente economia digital e colaborativa passa por uma maior sinergia entre poder público, ciência agrícola, setor produtivo, e consumidores, com um protagonismo cada vez maior deste último. O consumidor está mais exigente, além de preço justo e sanidade dos produtos, ele requer que o processo de produção se dê em parâmetros de inclusão social, de baixa emissão de gases de efeito estufa, com bem-estar animal, por exemplo, dentro de uma nova visão de consumo.
A revolução agrícola do Brasil se deu sustentada em ciência, tecnologia e inovação tropical. Saímos da revolução verde para os sistemas integrados, e migraremos para a agricultura de base biológica. Deixamos de importar alimentos, passamos a abastecer parte do mundo e estamos influenciando hábitos de consumo. Mas, para além do alimento, do nutriente, do pão de cada dia, e da paz, estamos contribuindo com novos parâmetros de humanidade.
Fonte: Embrapa