Depois de conviver por mais de uma década com uma contínua retração da demanda global por suco de laranja e seus reflexos “baixistas” sobre as cotações internacionais da commodity – e, consequentemente, sobre os preços internos da fruta -, a cadeia citrícola estabelecida em São Paulo e parte de Minas Gerais respirou aliviada na safra 2015/16 e tem boas perspectivas para o ciclo 2016/17, que terá início em julho.
Como destacam os economistas José Roberto Mendonça de Barros, Alexandre Mendonça de Barros e Marcelo Petersen Cypriano no livro “O mercado da citricultura no Brasil e as suas novas perspectivas”, patrocinado pela Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), o cenário positivo se sustenta não por uma mudança digna de nota no lado da demanda externa por suco, mas pela redução da oferta e pelo dólar ainda forte em relação ao real – apesar da queda das últimas semanas -, que melhorou a rentabilidade dos embarques.
“O reequilíbrio do mercado global de suco processado, simultaneamente ao aumento da rentabilidade da atividade exportadora promovido pela taxa de câmbio, cria uma janela de oportunidade para o setor”, afirmam os autores. Essa janela, entretanto, “é finita e de extensão desconhecida ou relativamente curta, pois a própria reorganização regional da produção de laranja para processamento industrial sinaliza a expansão consistente da oferta ao longo dos próximos anos”, dizem eles.
Para a safra 2016/17 (“ano industrial”), a colheita de laranja em São Paulo e Minas está estimada pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), mantido por produtores da fruta e indústrias de suco, em 245,8 milhões de caixa de 40,8 quilos, 18% menos que em 2015/16. A retração, a segunda seguida, é consequência das altas temperaturas na época da florada e tem relação com o encolhimento do parque citrícola.
Como já informou o Valor, o parque da região perdeu 27,8 mil hectares no último ano, para 416 mil hectares – 403 mil dos quais abrigam os pomares que abastecem as indústrias exportadoras reunidas na CitrusBR (Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus). Parte dessa queda foi causada pela incidência do greening, doença provocada por uma bactéria que já chegou a pomares mineiros de tangerina e tem se espalhado até com mais rapidez na Flórida, Estado americano que reúne o segundo maior parque citrícola do mundo.
Na Flórida, a produção na safra 2015/16, que terminará em setembro, está estimada pelo Departamento da Agricultura dos EUA (USDA) em 81,4 milhões de caixas, 16% abaixo do ciclo anterior e menor patamar desde 1964. Aliada ao encolhimento brasileiro, é essa redução que está afetando a oferta de suco de laranja e oferecendo maior suporte aos preços da commodity na bolsa de Nova York – onde os contratos de segunda posição de entrega do suco concentrado e congelado (FCOJ) já subiram 39 % este ano. De janeiro a maio, as exportações brasileiras renderam US$ 827,8 milhões, 12% mais que em igual intervalo de 2015.
“Todos os fundamentos atuais deixam uma clara tendência de alta nos preços internacionais do suco. O negócio é fazer com que o ‘engarrafador-comprador’ se disponha a pagar mais de maneira a repassar às gôndolas esses eventuais aumentos sem assustar quem compra e bebe”, afirma, em boletim, Paulo Celso Biasioli, da Crop Consultoria. Mas, independentemente desse embate, os reflexos têm sido positivos também para os citricultores – que atualmente também têm mais opções para escoar sua oferta no mercado doméstico, onde a recente proliferação de marcas de sucos prontos ampliou a demanda pela fruta.
Segundo dados do Cepea/Esalq, a caixa da laranja posta na indústria paulista por produtores sem contrato de longo prazo de fornecimento com as indústrias alcançaram em maio sua maior média histórica: R$ 17,23 a caixa, 60% mais que em maio de 2015 (R$ 10,83). Para quem tem contrato, os valores são maiores.
Fonte: Valor Econômico
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