À medida que avançamos no melhoramento genético, incorporamos novas características. Foi assim quando pudemos aplicar a ultrassonografia na medição de deposição de gordura dos animais, um indicador de acabamento de carcaça.
Recentemente, tecnologias permitiram mensurar o consumo de alimentos em bovinos, medida difícil de ser obtida, especialmente a pasto. Essas tecnologias podem ser aplicadas na medição do consumo de animais em confinamento, o que nos proporciona bons indicadores.
A alimentação representa pelo menos 70% do custo de produção em bovinos e, por isso, conhecer possíveis diferenças de eficiência alimentar passa a ser estratégico em um cenário bombardeado por determinações do tipo “produzam mais alimentos, usem menos terra e menos água e produzam menos poluentes”.
A eficiência alimentar já é uma velha conhecida da suinocultura e da avicultura, mas demorou um tempo para chegar aos bovinos, antes tranquilos em pastagens supostamente eternas e gratuitas.
Existem várias formas para calcular a eficiência alimentar. A mais conhecida é a conversão alimentar (CA), que mede quanto um animal ingere de alimento para ganhar 1 quilo. Foi usada por muito tempo, mas estudos mostraram que a CA trazia consigo alguns efeitos indesejáveis: aumento do tamanho e do peso adulto, com perda de precocidade dos animais, e as vacas – sempre as vacas – tornavam-se mais exigentes e com menos reserva corporal para atravessar os períodos de estiagem. O par estruturante da pecuária, vaca e bezerro, tornava-se ineficiente, com menor relação de ganho por energia consumida.
Definitivamente não era o caminho. Surgiu então um novo conceito: o CAR (consumo alimentar residual). Funciona mais ou menos assim: medimos o que um animal comeu (consumo observado – CO) e comparamos com o consumo predito (consumo esperado – CE).
Para calcular o CO, existem equipamentos que fazem leitura do consumo de cada animal através da conexão de brincos com cochos dotados de dispositivos eletrônicos. Já o CE resulta de processos mais complexos e é capaz de predizer quanto um animal deveria comer para ganhar determinado peso dentro de sua categoria. É comum encontrarmos analogias do CAR com o consumo de combustível de um veículo: se seu carro está fazendo 8 quilômetros por litro e o esperado seriam 10 quilômetros por litro, você está perdendo em eficiência 2 quilômetros por litro. Da mesma forma, o CAR trabalha com a diferença entre CO e CE.
Se um animal consumir 15 quilos por dia e o esperado eram 12 quilos, seu CAR será positivo de +3 quilos, ou seja, foi ineficiente, comeu 3 quilos a mais do que o esperado. Ao contrário, se um animal comer 10 quilos e o esperado for 12 quilos, seu CAR será negativo de -2 quilos. Quanto mais negativo for o CAR, melhor, mais eficiência, menos consumo para ter o mesmo desempenho. Algo como seu carro consumir menos combustível para andar a mesma distância.
Já foram relatadas diferenças consideráveis de CAR entre animais, com herdabilidade expressiva, o que o torna efetivo. Além disso, o CAR tem benefícios em relação à CA por não alterar o tamanho corporal dos animais, não trazendo consigo os efeitos de aumento das exigências nutricionais.
Mas nem tudo é um paraíso para o CAR. Como está vinculado diretamente à eficiência e produzir músculos consome menos energia, o CAR pode levar à seleção de animais mais enxutos, o que seria indesejável do ponto de vista da indústria da carne.
Para resolver isso, o recomendável é utilizar as medidas de CAR em combinação com as medidas de ultrassonografia de carcaça. Assim, podemos selecionar animais que, simultaneamente, reúnam boa eficiência alimentar e boa composição corporal.
Fonte: Revista Globo Rural