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O QUE O CLIMA RESERVA PARA A NOVA SAFRA DO BRASIL?

Após a ocorrência de um forte El Niño, que trouxe muitos prejuízos à agricultura brasileira, o clima passa por um período de transição para a chegada do La Niña. De acordo com informações do NOAA – Serviço Oficial de Meteorologia dos EUA -, há de 55% a 60% de chances do evento ocorrer entre os meses de agosto e outubro. Já na visão do climatologista, Luiz Carlos Molion, o evento climático deverá se intensificar entre setembro e outubro e permanecer até 2019, e voltar a atrapalhar a produção agrícola nacional.

“Isso pode atrapalhar muito a produção agrícola, especialmente, a produção de soja, porque as chuvas no Centro-Oeste começam a ficar mais firmes a partir de novembro, e os produtores querem plantar em outubro por causa da safrinha. Muitos podem perder a semente se plantar no fim de setembro, começo de outubro”, explica Molion.

O La Niña, tradicionalmente, traz condições de um tempo mais seco para a América do Sul durante sua ocorrência e, para o Brasil, especificamente, se caracteriza por mais chuvas para a região Nordeste, temperaturas mais baixas do que o normal durante o verão no Sudeste, atraso da chegada das chuvas no Centro-Oeste e Sudeste, além de um verão mais seco no Sul do país. Entretanto, ainda como explica Molion, esses efeitos podem variar de acordo com a intensidade do fenômeno.

Efeitos do El Niño e do La Niña

“De maneira geral, no Centro-Oeste, Sudeste, em todo o estado da Bahia até o Sul do Amazonas e do Pará, deve chover abaixo da média. Para a próxima safra 2016/17 as chuvas devem ficar abaixo do normal, porque a atmosfera tropical ainda está fria e não vai produzir muitas chuvas. E se estabelece sobre todo o país um sistema de alta pressão, que é caracterizado por ar seco que desce pra superfície, as nuvens quase não se formam, e o sistema produz temperaturas altas durante o dia e baixas durante a noite”, explica o climatologista.

Mais do que isso, no entanto, segundo o engenheiro agrônomo e gestor de projeto da Emater Paraná, Nelson Harger, os produtores rurais devem estar atentos à distribuição das chuvas nesta próxima temporada. “Poderemos ter chuvas abaixo da média histórica, o que pode trazer algumas perdas para a produção. Além disso, com o La Niña teremos frios tardios no Sul do país. Consequentemente, algumas regiões podem registrar a ocorrência de geadas, especialmente no mês de setembro”, destaca.

Além disso, o especialista também reforça que com o tempo mais seco, os produtores devem estar atentos ao aparecimento das pragas nas plantações. “As condições mais secas favorecem o surgimento das pragas nas lavouras, já em anos com clima mais úmido, a preocupação se dá por conta das doenças”, pondera Harger.

Diante deste cenário, a orientação do diretor da De Baco Corretora de Mercadorias, Marcelo De Baco, é um planejamento detalhado para o plantio da safra de grãos 2016/17, visando uma limitação de seus prejuízos, caso eles ocorram. “É importante que o produtor se planeje sobre um cenário mais caótico do que de normalidade climática”, afirma.

Trigo

No Sul do Brasil, as lavouras de trigo da temporada 2015/16 já foram cultivadas e estão em pleno desenvolvimento. No caso do cereal, a grande preocupação se dá por conta da possibilidade de geadas tardias, principalmente no mês de setembro. Isso porque, as plantações, em sua maioria, estarão em a um período mais avançado de desenvolvimento e podem registrar perdas, especialmente no sul do Paraná e no Rio Grande do Sul.

Já para a safra 2016/17, de acordo com informações da INTL FCStone, as expectativas são “mistas”. O clima mais seco esperado para o sul do Brasil pode impactar de forma diferente em cada região produtora do país. “Em geral, os produtores brasileiros ficam mais animados com as projeções de menor pluviosidade no fim do ano, o que favorece a colheita”, diz a consultoria.

Soja e Milho

Para as safras de verão de soja e milho 2016/17 do Brasil, o maior risco, segundo pontuam especialistas, é essa possibilidade de atraso das chuvas a partir do período de setembro a outubro deste ano, já que os produtores vêm buscando plantar cada vez mais cedo para garantir a safrinha. O alerta de Luiz Carlos Molion é para a probabilidade de que, nas localidades em que a semeadura for feita nesse intervalo – final de setembro e começo de outubro – há a probabilidade de que as sementes sejam perdidas, já que a umidade poderá ser insuficiente. Para o milho, a situação exige ainda mais atenção para o Sul do Brasil, onde o plantio, em determinadas áreas, começa a ser feito já no final de agosto. Na sequência, a atenção se dá para o veranico severo que pode ocorrer em janeiro e se estender até fevereiro de 2017, fenômeno que poderia prejudicar o desenvolvimento das plantas, comprometendo, principalmente, a fase de enchimento de grãos, onde a presença da água é determinante. As previsões mostram ainda que as chuvas voltariam a se regularizar, principalmente para o Centro-Oeste – maior região produtora de grãos do Brasil – a partir de março.

Para o presidente da Aprosoja Brasil, Marcos da Rosa, o clima é uma das maiores preocupações dos produtores nesta nova temporada, uma vez que as perdas causadas por adversidades não só na soja, mas também na segunda safra de milho, ainda estão sendo contabilizadas e administradas. O endividamento de agricultores em áreas de Mato Grosso e regiões como a do Matopiba, por exemplo, são elevados e prejudicam o planejamento desta próxima safra. E complementando o quadro, o Brasil ainda não conta com um programa de seguro – de renda ou de safra – que seja eficiente.

“Modelos climáticos mostram que no Matopiba e em parte região Centro-Oeste, as chuvas serão muito fracas até 20 de outubro, e também fracas entre 20 de outubro e 20 de novembro – o que é um problema muito sério, já que em Mato Grosso, liquidamos o plantio até 20 de novembro, que já não foi possível no ano passado e pode não ser também neste ano. E o professor Molion indica ainda que janeiro também poder ser seco, na época em que está enchendo grão ou terminando a floração, o que já pode causar transtornos”, diz.

Rosa lembra ainda que estes modelos climáticos indicam ainda que no Paraná e nas regiões ao redor as condições de clima podem ser estáveis, porém, no Sul do Brasil, o final do ano pode ser mais seco e aí “vamos para a frente, podendo comprometer a safrinha”.

Arroz

A semeadura do arroz se concentra, de maneira geral, entre os meses de setembro a dezembro. Nesse intervalo, os produtores devem estar atentos ao menor volume de chuvas previsto em grande parte das regiões de cultivo. Além disso, nas áreas com irrigação, o uso da água pode ser restringido caso o regime de chuvas se mostre e irregular, causando problemas de abastecimento hídrico para a população em geral. Por outro lado, o sistema de alta pressão que deve se formar sobre a área do Brasil Central pode ter como impacto para a região Sul um desvio das frentes frias para o estado do Rio Grande do Sul provocando a ocorrência de expressivos volumes de chuvas no início de 2017. E, caso a previsão se confirme, poderá afetar a colheita do grão, trazendo problemas em relação à produtividade e qualidade.

Cana-de-Açúcar

A cultura da cana-de-açúcar no Brasil, onde a principal região produtora se dá no Centro-Sul do país, concentra, de modo geral, o plantio entre outubro e março e a colheita entre abril e setembro. Dessa forma, a falta de chuvas que poderia ser trazida pelo La Niña teria um efeito duplo, contribuindo para a conclusão da moagem nos últimos meses da safra ou comprometendo o desenvolvimento dos canaviais entre dezembro e janeiro, de acordo com informações da consultoria INTL FCStone.

“Em São Paulo, onde está mais de metade área plantada com cana do País, os efeitos em geral se limitam às regiões mais próximas da fronteira com Paraná e Mato Grosso do Sul. Todavia no Nordeste, que foi mais diretamente afetado pelo El Niño, é possível que o La Niña tenha impacto mais definido, com chance de aumento das chuvas entre agosto e setembro, beneficiando o desenvolvimento da cana”, explicam especialistas da FCStone.

Hortifrutis

Batata- Segundo informações da equipe Hortifruti/Cepea, caso mais chuvas forem confirmadas no Nordeste do Brasil em decorrência do La Niña, a colheita da batata poderia ficar prejudicada, bem como sua qualidade fitossanitária. Já no Sul e Sudeste, onde o tempo pode ficar mais seco, o controle de doenças fica mais fácil, porém, o desenvolvimento das batatas pode aparecer.

Cebola – Para a produção de cebolas, o excesso de umidade também poderia aumentar a incidência de doenças, principalmente nas regiões produtoras do Nordeste, caso ocorra. Já para São Paulo, importante estado produtor, a possibilidade de um tempo mais seco poderia favorecer os trabalhos de colheita. Em contrapartida, essas condições no Sul do Brasil poderiam coincidir com o plantio e causar algum problema.

Tomate – O tomate deverá exigir mais atenção nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, já que a possibilidade de menor volume de chuvas em determinados períodos poderiam aumentar a incidência de algumas viroses, típicas de períodos prolongados de seca. No Nordeste, por outro lado, o excesso de umidade poderia também favorecer o aparecimento de algumas doenças.

Folhosas – A região Sudeste é a principal produtora de folhosas e, de uma forma geral, a falta de umidade poderia prejudicar a maior parte das culturas desse setor, ainda segundo explica a equipe do Cepea. Entretanto, a irrigação tem sido frequente entre esses produtores e os reservatórios da região foram abastecidos de forma adequada no começo de 2016.

Banana – No caso do Nordeste, os produtores devem estar atentos ao aparecimento das doenças fúngicas frente à previsão de um maior volume de chuvas. Já nas regiões Sul e Sudeste, além da irregularidade das precipitações, os bananicultores também devem observar o surgimento do “chilling” ou “friagem” ocasionados pelas temperaturas mais baixas e que podem resultar na queima da planta ou dos frutos em crescimento.

Citros – A perspectiva de chuvas irregulares no segundo semestre, poderá afetar os pomares em dois momentos de extrema importância para o desenvolvimento da cultura, a floração, que ocorre em agosto, e o pegamento dos chumbinhos. O cenário, se confirmado, pode trazer perdas para essa safra e também para a seguinte.
Fonte: Notícias Agrícolas

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Fonte: Sistema FAEP



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