Costuma-se dizer que gato escaldado tem medo de água fria. Pois foram justamente as águas que caíram no ano passado que assustaram muitos produtores de cevada no Paraná. É que a fúria do El Niño trouxe temperaturas acima da média e chuvas excessivas nos períodos críticos de desenvolvimento, e isso acabou prejudicando as culturas de inverno no Estado. O resultado foi uma produção de cerca de 130 mil toneladas, uma das piores da história.
Escaldados com os prejuízos, muitos produtores evitaram apostar no cereal nesta temporada. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) a área destinada à cevada neste ano diminuiu 14%. Apesar disso, a produção do cereal deve aumentar no Estado, pois a produtividade média passou de 2.658 Kg/hectare, em 2015, para 3.949 Kg/ha em 2016. A explicação também está no clima. Neste ano, o fenômeno La Niña trouxe um inverno mais frio e mais seco, condições ideais para o bom desenvolvimento das culturas invernais.
“O pessoal se deu mal no ano passado e ficou com medo”, resume o produtor Fábio Schmidt, de Ipiranga. Há 41 anos plantando cevada, ele já se acostumou a oscilações desse tipo e, por isso, não se alarmou. No ano passado sua produtividade média ficou em 2,5 mil Kg/ha, metade da média de um ano normal, que é de 5 mil Kg/ha. Mesmo assim, manteve neste ano a mesma área destinada ao cereal no ano passado, 600 ha. Sua estratégia é simples e eficaz: não colocar todos os ovos no mesmo cesto. Por isso, destina metade de sua área para a cevada, 25% para trigo e o restante para aveia branca. “No inverno, o produtor precisa gerenciar o risco”, ensina.
A região Sul responde por 100% da cevada brasileira, e o Paraná é o maior produtor do país, com participação de 63% na produção nacional. Em seguida vem o Rio Grande do Sul, com 34%, e Santa Catarina, com 3%. A informação é do “Panorama de mercado das principais atividades da agropecuária paranaense”, estudo produzido pelo Departamento Técnico e Econômico da FAEP.
De acordo com esse trabalho, no ano passado a produção brasileira de cevada totalizou 263 mil toneladas. Algo insignificante na escala mundial, na qual o Brasil representa apenas 0,2% do total. Segundo o engenheiro-agrônomo responsável pela elaboração do Panorama econômico da cultura, Fernando Aggio, o potencial para crescimento é alto, uma vez que a produção brasileira é insuficiente para atender a demanda interna. Para atingirmos a autossuficiência, deveríamos triplicar a produção do cereal.
Cerveja
A principal destinação da cevada é o mercado cervejeiro. Durante o processo de beneficiamento, o grão é germinado, secado e torrado para se transformar em malte, matéria-prima indispensável para produção de cerveja.
Essa destinação fica evidente quando analisamos o mapa da cevada no Paraná. Além de limitações climáticas, a localização da produção obedece a uma lógica econômica. Praticamente todos os principais municípios produtores estão localizados ao redor de Guarapuava, onde está localizada a maltaria da Cooperativa Agrária, que recebe a produção e transforma os grãos em malte para a indústria de bebidas. De acordo com o relatório de atividades da cooperativa, em 2015 foram produzidos 217.681 toneladas de malte. A principal destinação desse material é a cervejaria Ambev.
O produtor Rafael Majowski, de Guarapuva, foi um dos que enviaram sua produção para a maltaria, no ano passado. Há dez anos na atividade, em 2016 ele decidiu reduzir a área de cevada por causa dos prejuízos do ano passado. Em 2015, ele semeou 280 hectares com as variedades recomendadas pela cooperativa. Neste ano foram apenas 200 ha. “Diminui por conta da rentabilidade e do risco. Ano passado foi muito ruim”, conta.
Segundo ele, as chuvas prejudicaram a qualidade dos grãos e também a produtividade na sua lavoura, que ficou em 3.387 Kg/ha. “Sem chance de fechar as contas”, lamenta. De acordo com o produtor, neste ano ele conseguiu “travar” antecipadamente o preço da saca de cevada que será colhida no final do ano. Dessa forma, é possível fixar o preço em reais, ou então atrelar o preço do cereal ao valor do trigo na bolsa de Chicago.
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Fonte: Sistema FAEP